Análise: O que diferencia quem corre Boston da média?

Faz um tempinho que estava querendo escrever sobre um levantamento feito pela Runner´s World em cima de dados de usuários do Strava que diferenciariam os maratonistas que fazem a Maratona de Boston (que exige um tempo de qualificação), da média dos demais corredores. Para começar, não custa reforçar que essa necessidade de um índice por si só já diferencia os corredores de Boston dos demais, eles precisam ser mais rápidos que a média! E é justamente essa característica que pode dar uma luz a quem deseja ser assim como eles: mais velozes nos 42km.

A análise é do tipo observacional, limitada pois. Feita com as 12 semanas de treinamento anteriores à maratona e com mais de 30.000 pessoas, pode indicar teorias, não necessariamente apontar causas que fariam alguém correr mais rápido. Mas isso não tira nosso interesse!

Não sabemos de detalhes metodológicos, mas por mais pobres que fossem os dados, as primeiras conclusões são meio que óbvias e de fácil aceitação: quem corre Boston corre mais volume durante TODO o período de treinamento, mais quilômetros na semana de PICO de volume, e mais VEZES durante as semanas!

Outra das conclusões pertinentes ao treinamento também me parece bem óbvia: os maratonistas de Boston correm em média em ritmo mais veloz que os demais. Isso parece ser muito mais uma consequência, não uma causa do treinamento. Eles são mais velozes, treinam em ritmo mais rápido. Não à toa por já SEREM mais velozes, eles conseguem obter o índice. Ou seja, eles correm Boston porque já conseguem treinar mais forte, NÃO que por correr mais forte por um simples desejo consigam seu índice.

E aí chegamos a duas outras conclusões mais interessantes!

A primeira é que quem vai para Boston variaria mais suas velocidades de treino. É difícil ver isso nos números dados, então é mais uma questão de crença. Mas repare: os homens que fazem a Maratona de Boston fazem apenas 15% de seus treinos em velocidade mais veloz que a do índice. Já os não-classificados fazem 57% do volume acima de sua média em maratona! O comportamento das mulheres foi similar: 23% (Boston) vs 64%. É um pouco difícil comparar laranjas com bananas. Quando você compara alguém mais veloz com alguém mais lento, um denominador comum não deveria ser uma velocidade fixa. Mas não é essa a lição a se tirar! O que poucos enxergam aqui é: os melhores corredores, os mais velozes, se diferenciam não pela quantidade de quilômetros feitos em ritmo forte, mas em um volume total (muito) maior, e esses treinos “extras” são feitos em velocidades mais baixas! Leão “qualquer um” consegue ser 1 ou 2 vezes na semana, mas e ser um dedicado nos demais 5 dias?

E por fim uma discussão que torna o tom acalorado para muitos: os corredores de Boston, os mais velozes e mais dedicados, tiram e postam 30% menos selfies que os corredores mais lentos! Os mais dedicados parecem trabalhar em silêncio e de modo mais focado! O que é mais irônico é que os qualificados (acima da média) possuem o dobro de seguidores! Sinal esse que desempenho de certa forma é um chamariz de seguidores, além de abrir a possibilidade de que esses seguidores talvez tenham o efeito de nos motivar a treinar mais forte.

*o que escrevi acima não é muita novidade para quem acompanha este blog ou já leu o livro O Treinador Clandestino (e aqui em e-book). A diferença é que está rolando uma promoção relâmpago para adquirir ele e o livro O Nutricionista Clandestino impresso! Os 2 sem frete, ou seja, frete GRÁTIS, por apenas R$103! Como? Clicando AQUI!

Danilo Balu.

 

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5 pensamentos sobre “Análise: O que diferencia quem corre Boston da média?

  1. Esse dado sobre a selfie é engraçado mas parece bem óbvio … Ou vc está treinando ou está preocupado em onde tirar a selfie, onde carregar o celular, que luz usar, que “pose” fazer, o que escrever no post, que roupa usar, etc, etc,etc… Ou seja, com todo esse tempo dá pra rodar bastante e se acumular isso em uma semana, um mês, um ano dá uma baita diferença em kms treinados…

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    • Danilo Balu disse:

      Pois é…..

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      • Mas então Balú, os profissionais e amadores bons ( os que disputam vitória e pódio nas provas sem $$) tem pouco tempo pra pensar e trabalhar nas selfies e redes sociais (pois estão treinando) e como tem poucos seguidores e likes penam para conseguir apoio/ patrocínio….

        Já quem trabalha a selfie ao invés de treinar ganha inscrições, tênis, roupas, viagens, ($$??)), etc…

        Muito triste isso…

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      • Danilo Balu disse:

        O mercado de celebridade da corrida no Brasil é mínimo… Essas pessoas ganham mto pouco, mto menos do que vc imagina. Dinheiro mesmo são meia dúzia que ganham. No país todo! O resto ganha cortesia ao custo de vender a alma (o perfil).

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  2. Rafael disse:

    Qual é o fator mais importante para determinar a performance na corrida de longa distância?

    Dr. Edward Coyle, da Universidade do Texas em Austin, sabe a resposta. Dr. Coyle está revelando os mistérios da performance em provas de resistência por 20 anos. Numa série de 8 estudos com corredores, ciclistas e marchadores, Coyle e seus colegas examinaram tudo, desde atividade aeróbica das enzimas até a eficiência mecânica, e como cada um desses fatores contribui para a velocidade na competição de longa distância. Em uma tese de 1995, Dr. Coyle condensou os resultados de 2 décadas de pesquisas em 5 palavras.

    Velocidade no limiar de lactato? Exatamente, velocidade no limiar de lactato é o fator mais importante para determinar o sucesso na corrida de longa distância.

    De fato, um estudo com corredores de fundo, feito por Farrel e colegas, descobriu que mais de 94% das variações na velocidade em competições era explicada por diferenças na velocidade no limiar de lactato, comparado com apenas 79% pela variação no Vo2 máximo.

    http://www.copacabanarunners.net/limiar.html

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