Quando eu fiz os posts sobre as minhas provas dos sonhos na Europa e depois no resto do mundo, abri espaço para opinião dos leitores, o que resultou neste post aqui. O Nishi, ultramaratonista pangaré como ele mesmo gosta de reforçar, enviou por comentário a lista de ultras dele. Como não entendo nada, pedi pra ele fazer um post falando das provas. Abaixo você tem então algumas das melhores provas na opinião de quem sabe o que fala quando o assunto é mais de 42km.
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por Ricardo Nishizaki
A Lavaredo Ultra Trail ocorre numa região dos Alpes Italianos onde também se fala alemão, próxima à fronteira com a Áustria, e durante os seus 119km e quase 6000m acumulados de subida, passa pelo “Tre Cime di Lavaredo”, aquele tipo de montanha que é cartão postal de dez entre dez montanhistas.
Nessa matéria, o orgulho dos portugueses é a Madeira Ultra Trail, que cruza toda a simpática terra do Cristiano Ronaldo por 115km e 6000m de desnível positivo. A portuguesada pira e mostra que toda a sua tradição em corridas só se deslocou para os trilhos (como eles chamam as provas em trilha), após a “Invasão” do Rift Valley.
Dizem que todo japonês deve, um dia subir o Monte Fuji. Mas tem gente que faz isso pelo caminho mais difícil e fazendo vários desvios complicados, na Ultra Trail Mt. Fuji, que tem 161km, 9000m de subida acumulada e compete – e é parceira – com a Ultra Trail du Mont Blanc como prova mais desejada de montanha do mundo.
Quem gosta desse tipo de prova, vai adorar também de atravessar o mega-vulcão que é a ilha Gran Canária, a maior das ilhas do arquipélago das Canárias. A Transgrancanaria é o orgulho dos espanhóis, que criaram uma prova que corta essa ilha redondinha de norte a sul, saindo do nível do mar, subindo a quase 2000m de altitude e depois descendo, durante 126km e 8.500m de ladeiras acumuladas.
Como já disse, os franceses têm a Ultra Trail du Mont Blanc como orgulho nacional, já que é a ultramaratona de montanha mais conhecida do mundo. Mas a UTMB não é totalmente francesa, já que contorna o Monte Branco, o ponto mais alto da Europa ocidental, atravessando também território italiano e suíço, durante seus 168km e 9600m de desnível e neve. Talvez por isso os franceses gostem tanto da Diagonale des Fous na Ilha Reunião, no meio do Oceano Índico, vizinha a Madagascar, e território ultramarinho francês. Ali você corre por 164km e 9.900m de subidas totalmente em território francês! E é mais quentinho.
Se mesmo assim você prefere correr no gelo, mas no plano, a Baikal Marathon é uma boa pedida. O Lago Baikal, na Sibéria, é o lago mais profundo do mundo (1.680m de profundidade) e o que tem a maior quantidade de água doce do planeta, mas na época da maratona está congeladíssimo. Aí é só correr 42,195km sobre o lago gelado, em linha reta, embora os organizadores não garantam a distância aferida por causa da movimentação do gelo. Não, não tem blue line nem tangentes.
Ali pertinho, mas num período um pouco mais quente, rola na Mongólia a Sunset to Sunrise, à beira do Lago Khuvsgul. Ela se intitula a mais bela corrida em trilha de 42km e 100km. É só correr da alvorada até o por do sol (ou um pouco mais, já que você pode fazer os 100km em até 18 horas).
Voltando às maratonas, a Pikes Peak Marathon é famosa nos EUA por sua fórmula imbatível de sofrimento. Você basicamente sobe os 2.382 metros do Pikes Peak (alcançando a sufocante altitude de 4.302m acima do nível do mar) e depois desce de volta.
Simples como a recém criada Ultramaratón Aconcágua, que obviamente NÃO sobe até o cume da montanha mais alta das Américas, mas sobe até a Plaza Francia, a 4.200m de altitude, platô que dá vista à face sul do maciço. Depois é só descer pelas trilhas pedregosas e retornar à largada.
Caso você não goste muito de montanhas, pode optar pela Lake Balaton Supermarathon, uma voltinha de 195km ao redor do Lago Balaton. Mas você não faz isso de uma vez só, a prova é montada de forma a ser cumprida em quatro estágios de mais ou menos 50 km. Em quatro dias você completa o desafio, em percurso quase todo plano.
Quase toda plana é, também, a Maratona de Istambul, que só tem uma elevação, a ponte que cruza o Estreito de Bósforo, que liga a Istambul asiática à Istambul europeia. Esse é o charme da prova, única maratona oficial intercontinental.
Por fim, a Valencia Maratón, de longe, é a mais normal das provas listadas. É uma maratona “comum”, plana, rápida, realizada em novembro. Mas então porque está nessa lista? A largada e chegada na incrível Ciudad de la Artes y las Ciencias responde a essa pergunta.