Minha vontade de ler sobre biomecânica e tênis é cada vez menor. Mas me sentia na obrigação de ler o Tread Lightly (– form, footwear, and the quest for injury-free running) de Peter Larson em co-autoria com Bill Katovsky. Resumidamente: um espetáculo de livro. Mesmo para quem não é da área e tem interesse no assunto, não sei se eu poderia eleger um livro melhor no tema. Não demorei para ver que valeria a pena. Logo de cara Arthur Newton, Daniel Lieberman, Amby Burfoot, Steve Magness, Christopher McDougall, Phil Maffetone e Sock Doc todos citados. Não haveria como ser ruim!
Minha atual preguiça no assunto é a profundidade com o qual o tema hoje é abordado nos canais especializados. O jornalista ou blogueiro ganha um tênis e começa a falar sobre suas propriedades para proteger o corredor de lesões. O médico lê o site da marca e explica como aquelas tecnologias são essenciais. O corredor na boa-fé não reconhece a incompetência dessa gente, investe muito dinheiro e deixa que a fé faça o resto. E ao treinador por sua vez lhe resta torcer para que nada de ruim aconteça.
Vai chegar o dia em que trataremos as lesões na corrida como algo multifatorial e complexo. O Tread Lightly é um ótimo passo na direção da popularização desse conceito.
No capítulo 1, A Evolução da Corrida em Humanos, recapitula as incríveis adaptações fisiológicas e anatômicas que, se não nos possibilita ser um dos animais mais rápidos, nos faz um dos mais resistentes do mundo. Ainda tenho certa dificuldade em achar que nascemos para correr, mas muita coisa produzida por Daniel Lieberman e outros sustenta o ponto: a corrida faz parte do homem em toda nossa evolução.
Já no capítulo 2, Lesões na Corrida: Por que elas acontecem, você chega a um dos temas mais ricos. Quais as lesões mais comuns? Qual a problemática em estudar as causas? O que pode ajudar? Musculação? Melhor equilíbrio muscular? As respostas surpreendem. Há MUITA coisa superestimada DEMAIS em seus alardeados supostos benefícios.
O capítulo 3, Pés descalços e a Corrida, está longe de ser uma defesa dessa prática, mas é ESSENCIAL entendermos que há necessidade fundamental de mudança de paradigma. Você pode não querer correr descalço por uma questão social (como eu!), mas proteger os pés com muita borracha ou placas rígidas é de um princípio parecido com o de dar luvas de boxes para alguém que vai começar a nadar. Se seu treinador, médico, amigo ou vendedor não der uma ÓTIMA explicação do porquê deveríamos nadar com grossas luvas, ele fará contorcionismo argumentativo e será desonesto intelectualmente ao recomendar que você se proteja com grandes tênis.
O 4º capítulo, Tênis de Corridas, faz uma regressão fundamental nos contando a história dos tênis. Gosto sempre de lembrar que o fundamento da construção de tênis de corrida é baseado 98% em marketing e 1% em achismo. (o 1% restante você distribui a quem quiser) Se o calcanhar do seu tênis é mais alto que o bico, talvez você se surpreenda ao saber que a razão é porque Bill Bowerman achou melhor assim. Por quê? Porque sim. Se um lado do seu tênis é mais duro que o outro para – respiro fundo – controlar sua pisada, foi porque alguém quis assim. A base disso tudo? “Porque sim”. Por isso também que é com muita preguiça quando tenho que ouvir gente “com agenda“ falar sobre tênis e lesões.
O capítulo 5 fala sobre o Corredor Recreacional, aquela espécie que se prolifera velozmente e que ficou por décadas namorando firmemente com o sedentarismo, mas que da noite para o dia quer brincar de Super-Homem correndo Maratonas ou 21km sempre que bater vontade.
Amanhã continuo…
Show
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Diferentemente da corrida onde uma parte (pés) do seu corpo sofre grande impacto, na natação seu peso é distribuído uniformemente pela água. Vendi ou não o tênis ? rsrsrs
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Sim, os corredores recreacionais que agora são atletas.
Acabei de ver no facebook uma corredora que mostra com todo orgulho sua medalha de conclusão em uma meia maratona e agradece ao seu treinador (sim, ela tem treinador).
Ah.. na postagem tinha uma foto de um gps com o tempo: 2:45.
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Tá cada vez mais comum.
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Gostei do livro na época em que li. Li faz tempo.
Só acho que o Peter defende demais o princípio “se você não se machuca você pode correr com qualquer coisa”. Não acho que ele esteja certo neste ponto.
E ele é assumidamente um viciado em tênis. Eu não sou.
Se eu pudesse ter só um calçado, teria.
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Sim, ele recorre demais à individualidade biológica.
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O que funcionou para mim, foi correr algumas vezes, descalço na areia dura (da praia). Pra quem puder, é um ótimo treino, para mudar a passada. Agora na cidade, com asfalto e calçadas irregulares, não tem jeito, vou de tenis
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Sabe o que é mais “engraçado”? Nas ruas da cidade vc tem mais irregularidade, que seria ainda melhor que na praia que tem inclinação de um lado… Não estou sugerindo nada! Mas que tal experimentar correr com algo BEM minimalista em seus treinos leves na cidade? Eu uso o New Balance Minimus Road. Paguei 100% por eles, tá?
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vou testar
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Balu, alguma sugestão para achar o Minimus? Não encontro em nenhum site ou loja, e ainda tenho a dificuldade extra do tamanho do pé. Só no ebay, talvez? Abs
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Veja no site da Velocità e no da New Balance Brasil…. o meu eu comprei faz mto tempo, mas acho que a linha Road (a melhor) nem tem mais por aqui… =/
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[…] *Continuando o post de ontem sobre o livro Tread Lightly (– form, footwear, and the quest for injury-free running) de Peter Larson em co-autoria com Bill Katovsky… […]
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Seria melhor se me indicasse um pé de pato pra natação rsrs……..
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[…] Na verdade, fiz o texto depois de falar um pouco em duas partes sobre o ótimo Tread Lightly (aqui e aqui). O drop, a espessura (que atua indiretamente e decisivamente no peso) e a capacidade do […]
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Amigo, poderia me indicar outros livros como esse? Obrigado!!
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Excelente indicação de livro, está na minha fila.
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