Quando um grupo de “jornalistas e blogueiros corredores” resolveu assinar e apoiar a Black Run, ato para homenagear o corredor assassinado por um motorista bêbado aqui em SP, a primeira coisa que pensei além de certa vergonha alheia foi: agora vou poder chegar no escritório e provar meu ponto, junte todos eles e você não vence sequer votação de um condomínio qualquer. Esse é o peso dos “formadores de opinião” que escrevem no segmento.
Respeitar o luto alheio é uma convenção social, é o que se espera. Não sei se conhecia o atleta em questão, o que não muda nada. Deixei para alguns outros que mal o conheciam fazerem a disputa via Facebook pra saber quem era o mais amigo, ou quem sabia melhor seu currículo esportivo, como se isso diminuísse a dor dos parentes ou a dos verdadeiros amigos. Mas respeito o luto…
Porém, se o grupo de jornalistas ainda assim vem e assina um texto todo atrapalhado, é porque não entendeu muita coisa. Nem entro na questão do ego pesar uma enormidade nessas horas, repare que não deixaram de citar os veículos para os quais trabalham, citação sem a qual não saberíamos jamais saber quem é quem. Diria eu até que faltou foto e CV na corrida, mas duvido que tenha faltado vontade.
Eu tenho uma máxima: se qualquer categoria artística ou da escrita brasileira se dá ao trabalho de se reunir para assinar algo em conjunto, eu já de partida sou contra. Nem paro pra analisar porque fazendo isso ganho tempo e a minha chance de acerto ao ficar do outro lado é exponencialmente maior.
As bobagens escritas no texto mostra que quem “escreve sobre corrida no país” vive numa bolha, não entende que a corrida não cabe nem se limita dentro da USP nem debaixo da Marquise do Ibirapuera. Eles acham que foi acidente, e essa é a bolha. Não precisamos saber a opinião deles porque já vemos que disso não entendem nada, pois no Brasil matar ao volante é um direito, não acidente.
Se jornalistas corredores gostassem ou tivessem familiaridade com números, veriam que morte no trânsito é rotina. Quando a vista fecha e você usa a corrida como régua moral, você não enxerga o problema. O senhor em questão não morreu porque era corredor, então pedir “respeito ao corredor” é miopia, ele não foi atropelado por correr, assim como as ciclistas não foram atingidas por serem mulheres. É como a ideia imensamente tola dita na Runner´s World de que foi a “Boston brasileira”, é um atestado assinado de quem não entendeu nada do que se passou nos EUA nem o que se passa diariamente no Brasil. Cada país tem a revista de corrida que merece, e nem falo pelo enorme desrespeito.
“Toda causa justa pertence à humanidade” e quem traça gestos para adesão não quer vitória da causa, quer território. Um texto desses, avisando que são a favor da vida é da profundidade de um discurso de concurso de Miss, faltou apenas citar alguma passagem do Pequeno Príncipe. Mais do que constrangedor porque mostra que não entendem o momento, reafirma que acreditam num mundo onde irresponsabilidade, imprudência e desrespeito às leis se combatem com #, mas isso só funciona quando # significa prisão.
Adaptando o que diz um brilhante amigo, vou perseguir como projeto de longo prazo virar um profissional assim, que tem licença para escrever essas bobagens e seguir tendo plateia.
*pra quem ainda acha que o que houve em SP tem a ver com respeito ao corredor, sugiro ler o texto do Rodolfo Lucena, quem melhor escreve sobre corrida no país, sobre a idiota ideia de superioridade moral de quem acorda cedo pra perder o fôlego.
Parabéns. Assino embaixo. E já faz algum tempo que parei de frequentar blogs e revistas de corrida, pois percebi que, como você falou, ninguém entende nada do assunto e a maioria agora vive de jabá. E sobre a tal black run, vi algumas fotos, e achei bizarro algumas pessoas sorrindo nas fotos, e mais bizarro ainda, outras tentando parecer tristes mas com cara de sorriso. Estou em uma fase da vida na qual não posso mais perder tempo com algumas bobagens, e ficar lendo sites e blogs de corrida é uma delas. Exceção feita ao seu blog, naturalmente. Mas se um dia eu perceber que vc está fazendo algum jabá será o último dia que entro aqui.. rsrs…
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Aqui não tem jabá…. TUDO que me foi dado deixei claro aqui no post rsrs
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Recalcado
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Segura meu like aí fera ! Kkkkk excelente texto. Concordo plenamente. O cara nem tinha acabado de morrer e já tinha colecionadores de likes em cima da historia do cara. Vergonha alheia mesmo
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Infelizmente estamos numa grande guerra por disputa de espaço urbano, de um lado a gananciosa indústria automobilística que apoiada por grandes campanhas de marketing usam e abusam da lavagem cerebral nos fazendo crer que precisamos de carro até para ir na padaria, subutilizando este veículo motorizado como uma autêntica cadeira de rodas, temos “várias guerrilhas” como por exemplo: carro x pedestre comum, carro x corredor e carro x ciclista, por ironia muitos corredores e ciclistas fazem exatamente a mesma coisa usando o carro para percorrer menos de 1 km para ir ao parque mais próximo para treinar, é uma grande hipocrisia!!! Nos temos que ter consciência que também podemos melhorar a qualidade do trânsito de nossas cidades abrindo mão do carro para distâncias que da para muito bem ir a pé como por exemplo da estação Butantã até a USP. Fica a dica!!!
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Concordo em GN e G
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OK, realmente MUITA gente (carniceira) quis se promover com isso, infelizmente…
Mas você quis dizer que, por sermos corredores, não podemos lutar (unidos – seja pelo ego, luto real, desejo por mudanças, likes, PR ou por qq cazzo que o valha..) por direitos e mudanças específicas como uma “classe” ? Devíamos deixar que as autoridades “competentes” se prontificassem a avaliar o cenário ocorrido como mais um incidente de transito e não um acontecimento que afetou nossa “categoria”? O ocorrido nos afetou diretamente – DIRETAMENTE .Creio que essa seja a diferença entre mais uma ocorrência normal e o ocorrido na ocasião. Acho que não entendi seu texto dessa vez… mesmo…
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Opinião dele (Balu).
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O ocorrido com o Sr. Teno afetou mais diretamente os negócios de muita gente que fazem do espaço público da USP o seu local de fonte de renda, falando claramente, as famosas assessorias, que ganham bastante dinheiro utilizando o espaço público para fins privados. E enquanto corredor não preciso que ninguém me “represente”, especialmente jornalistas paraquedistas e blogueiros interessados em likes pra fazer jabá.
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@Julio Cesar Kujavski, concordo 100% que existam esses jornalistas e blogueiros desclassificados. Não os defendo e espero que não tenha parecido isso.. O que questionei no texto, foi a reatividade do Danilo quanto a união de uma classe (qualquer que seja) para insistirem e lutarem por determinados pontos.
Se não nos “unirmos como classe” como podemos fazer com que nossos interesses sejam respeitados? (como corredores, temos interesses em comum, certo?). Achei interessante seu ponto de que você não precisa de ninguém para te representar.. mas tenho uma dúvida de verdade: Se, eventualmente, alguém tivesse que dar a cara por uma causa da “classe corredora”, quem faria isso por você?
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Alexandre, o problema do trânsito no Brasil é MUITO sério. Meu pto é: os jornalistas não entenderam NADA. O ocorrido não afetOU, ele afetA. Não existe a categoria “corredores” que exigem atenção oiu merecem mais. Temos maneiras de buscar mudança na legislação e ela NÃO será via hashtag. Outubro é um bom começo.
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Perfeito, concordo com tudo! Mas ainda assim, adicionalmente, eu acho esses “microgrupos” de interesses necessários e, infelizmente, as mudanças que podem surgir a partir de outubro, tem uma grande morosidade e muito provavelmente serão ineficazes.
Abççç!!!
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Por fim, penso parecido com o que disse o Julio. Quem me representa não é uma carta de apoio. Podem fazer 500mil delas, não muda nada. Jornalista corredor dizer que “apoia a vida” não vai mudar uma vírgula. estamos no caminho errado se essa for a opção tomada.
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Perfeito, Balu e olha que não sou de puxar seu saco. Bom, já elogiei sua postura quando escutei o podcast do corrida no ar sobre o assunto e quanto a black run eu caí nessa pq achei que fosse uma forma de mostrar respeito ao atleta morto, já que a família do cara estaria lá para um ato quase como uma missa de 7° dia. Terminei meu treino falando 10 minutos pro tal evento na praça do relógio e o que ouvi das pessoas ao meu redor no QG da assessoria me fez ter vergonha de ter caído nessa. Depois ainda tive que ler no facebook que “o problema são os alunos da USP que não deixam a PM entrar lá”. É um tal de misturar alhos com bugalhos, de arrotar contatos, hashtags, fotos com amigos blogueiros unidos pela causa, que resolvi nem tentar argumentar mais.
Foda é que tem gente que admiro e caiu numas de tentar virar super herói e agora passa os dias apontando o dedo na cara do outro, o ciclista que pedala errado, ocorredor que joga gel no chão da USP, as amigas que correm em pelotão…o mundo tá errado só eles estão certos. Chato pra cacete tudo isso.
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E tem gente que acha que correr nos faz melhores cidadães. Esse texto do Lucena ilustra bem o que falo. E essa do gel no chão soube há pouco tempo. Ridículo!Sujo as ruas e depois posto que sou guerreiro por correr uma maratona de 15 kms (rsrsrs). Não se engane: em todo lugar ou classe existe os bons e os ruins. Sem exceção. E tenho dito ! rsrsrrs
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Balu, você acredita na eficácia de alguma ação coletiva como resposta ao ocorrido na USP?
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Existem já alguma ações coletivas pra mudar a legislação brasileira. A USP não é outro país. Uma lei especial lá dentro abre brecha inclusive pra vc escapar qdo infringir.
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Sim, a USP não é outro país, claro.
Mas, quando perguntei, nem estava pensando em mudanças na legislação brasileira. Também não me parece razoável “uma lei especial lá”, se é que isso é possível.
Pensava mesmo em ações organizadas independentemente.
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Gostei do seu texto. Quando eu tinha aula de sabado la na Poli, era uma festa do caqui. Barraca de assessoria fechando a calcada, ruas lotadas de ciclistas e corredores. Nunca impedi, nunca falei nada, mas sempre achei um saco, ficar dirigindo sempre atenta e com medo de alguem “Atropelar” meu carro. Fora que eu demorava 20 min, num caminho que era 5. Ja corri sim na USP, depois da aula. Corri sempre na calcada. Acho tb que tem muita assessoria e blogueiros tentando se promover. Nao sou contra correr em espaco publico, sou contrar infringir a lei: Correr na rua, onde tem carros passando, atravessar com o sinal vermelho pra pedestre. Ja vi tb viu: muita gente dando de santinho e nao olhando pro proprio rabo.
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[…] atrás eu escrevi um texto dizendo que não gostei de um texto bem ruim feito na ocasião de um evento de corrida para […]
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[…] Dias atrás falei do grupo de jornalistas que veio trazer o apoio deles sobre a questão do perigo no trânsito. Ninguém queria saber a opinião deles, mas o ego é assim, como a gente não dá a mínima pelo que eles acham disso, eles trouxeram mesmo sem a gente pedir. Basicamente não entendem que não se faz revolução só curtindo ou compartilhando imagem no Facebook, tem que sair por aí matando gente. É assim no mundo real. […]
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[…] Já falei disso quando foi com “jornalistas corredores” porque eles parecem ter um talento especial para escolherem juntos o lado errado. E a mesma regra funciona sobre revistas de corrida quando falam de Nutrição. A quem recorrer? A um profissional? Porém, isso está longe de ser garantia, ainda assim não falta quem defenda a tese furada. […]
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