O que aprendi com nadadores olímpicos…

Passei quase três semanas com alguns dos melhores nadadores do mundo que se preparavam para a competição mais forte e mais importante da vida deles. Apesar de realidades tão distintas, sempre dá para tirar muita coisa aplicável a um amador. Mas 3 coisas chamaram em especial minha atenção.

(Foco, Treino e Descanso) A primeira eu já sabia pela rotina dos fundistas quenianos: o ENORME peso que dão ao descanso e ao foco. Os atletas ou estavam treinando (duas vezes ao dia), ou estavam comendo (sempre logo após os treinos) ou descansando (dormindo ou relaxando no hotel). Nesses mais de 15 dias, apenas 2 passeios de menos de 2 horas cada. Não dá para achar que você vai treinar pesado, baladar pesado, trabalhar pesado, dormir pouco, bater perna o dia todo e conseguir competir forte. Não, não vai.

O que isso ensina? TEM que descansar. Você pode não ter vida de atleta profissional, mas na semana da prova, reduza bem o volume, tente fazer turismo DEPOIS da prova. Uma rotina saudável e compatível de sono e descanso é parte fundamental do treinamento!

(Treinador é essencial, o resto é espuma) A segunda coisa é como se eu fosse ensinar a um meu “eu” ainda estudante. Na faculdade debatíamos inconformados como no futebol dá-se uma importância grande ao massagista, por exemplo, em detrimento de outros profissionais da saúde, como o fisioterapeuta. Dentre os grupos que acompanhei, havia obviamente muitos treinadores, mas também havia muito mais massagistas que fisioterapeutas. Estranho, né? Nem tanto. Um fisioterapeuta no dia a dia, o melhor que ele pode te oferecer ou não é itinerante (material grande, pesado e caro) ou é completamente dispensável no curto prazo. Em uma situação como essa, um fisioterapeuta é quase como um boneco de posto, você o vê ali, mas não vai te ajudar muito, você quer e precisa mesmo é do frentista. Nesse caso, o médico, esse sim fundamental no caso de alguma emergência ou doença.

bonecodeposto_carnavalJá os massagistas, sempre acionados e importantíssimos, carregam com eles o material mais útil e importante: suas mãos e braços que apertam mais que um grifo e um torniquete. Hoje quando converso com meus colegas de faculdade, vejo como uma visão “cientificista” e quase ingênua da coisa é tola porque é teórica, sobrevaloriza ferramentas e ignora 100% a prática.

Temos sempre que saber que nesse alto nível de desempenho O MAIS importante no processo de treinamento é SEMPRE o treinador. Seja ele quem for. SEMPRE. O resto é luxo. Médico é emergência. O resto é perfumaria, é fumaça. E já explico o porquê agora que chego à terceira lição que aprendi.

Com mais de 7 delegações, mais de 10 nacionalidades, havia quantos nutricionistas? Adivinhe você… Zero.

Volto novamente aos meus tempos de faculdade. A visão científica é bonita, mas é pouco prática (*veja que eu JAMAIS disse que treinador tem que ser formado em algo). Quando entrei na EEFE-USP sempre achei junto com alguns dos melhores alunos que conheci que a área do Esporte era “várzea”, até eu ir estudar Nutrição e ver que o esporte é prático e BEM eficiente. Primeiro porque seus processos são quase sempre muito facilmente mensuráveis e, mais importante, respondem diretamente pelos resultados, não pelas intenções. No esporte o melhor será aquele que ganha, ponto final. Não é considerado ideal aquele que ACHA que tem a melhor estratégia.

No restaurante desses atletas cada um se servia. No cardápio tinha que ter massa, folhas, frutas, legumes, carne… não havia segredos, era tudo aberto e acessível a quem quisesse ver! Não podia haver refrigerante, por exemplo. Um acerto. Uma Nutricionista no hotel instruiu para que não houvesse sal nas mesas. Mas havia açúcar à vontade. Não podia haver bacon, mas havia leite condensado à disposição. Sem frituras, um acerto, mas somente carnes com cortes magros. Dá para entender? Eu não consigo. O que acontecia? Atletas quando podem correm pedindo pizza e tapiocas doce. Lógico! Até quando quer acertar, a intervenção especializada na Nutrição parece errar.

Fui ajudar 3 atletas a comprar suplementos nesse período. Nada de mais. Ômega-3, maltodextrina e Vitamina B. Não havia lancheiras, não havia lanches a cada 3 horas, nada de shakes pós-treino, não havia refeições prontas. Diferentemente do Treinador, essencial, o Nutricionista Esportivo não é quem responde pelos resultados. Por isso você consegue enxergar o porquê mesmo entre os melhores do mundo há tanta gente que abra mão dele, mas não do treinador, nem do treinamento. Quando você enxerga o essencial, você acaba por definir quem é dispensável.

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12 pensamentos sobre “O que aprendi com nadadores olímpicos…

  1. Claudio disse:

    Olá Balu,

    sinceramente, não entendi o seguinte:

    “Hoje quando converso com meus colegas de faculdade, vejo como uma visão científica e quase ingênua da coisa é tola porque é teórica, sobrevaloriza ferramentas e ignora 100% a prática.”

    “A visão científica é bonita, mas é pouco prática”.

    Vindo de você, fiquei surpreso. Há sarcasmo aí? Está questionando a “visão científica”?

    Até que ponto há problemas com a visão científica?

    Abs,

    Claudio

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    • Danilo Balu disse:

      Não há sarcasmo, apenas escrita ruim mesmo… Vc sabe bem o que penso: tudo que for feito tem que ter uma explicação ou “comprovação”…
      Talvez o melhor tivesse sido usar a palavra “cientificista” (vou lá trocar). Não há nada de errado com a visão científica, há apenas limitações. Meu pto neste trecho não vai contra o que eu digo…. veja bem, para vc fazer uma intervenção, vc TEM que provar que ela faz bem OU que ela não faz mal OU que ela é essencial (gde risco de vida, por exemplo). Qdo entramos com mais de profissionais da saúde (fisioterapeuta e nutricionista, por exemplo) na prática, é uma visão cientificista, de que gente estudada e graduada vai trazer um bem esquecendo de buscar pela própria ciência evidências de que eles fazem bem ou que não fazem mal. Sabemos que intervenção necessariamente faz mal (puro risco), então os benefícios desses profissionais deveria trazer um bem que ultrapasse os riscos/malefício. Isso não é feito! Ábrax

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      • Claudio disse:

        Perfect! (falo em relação aos termos científica e cientificista – faltou corrigir um, creio).

        Mas antes, uma dúvida. De que material grande, pesado e caro você se refere em relação ao que o Fisio pode oferecer? Fiquei curioso mesmo.

        Você diz que os benefícios do Fisioterapeuta são dispensáveis, ou inexistentes no âmbito desportivo do curto prazo. Sem querer desmerecer os massagistas, mas o que os Fisios não podem fazer que só os massagistas fazem? 😉

        Temos evidência de benefícios clínicos a curtíssimo prazo pra certas condições (dores lombares, por exemplo), além do uso de recursos diversos para controle/amenização das dores dos atletas, sejam esses recursos de origem manual ou eletroterapêutica.

        Você quer evidência dos benefícios dentro do grupo de atletas (pesquisas mostrando o benefício, custo-benefício, etc de ter o fisio no grupo de atletas) ou evidência de condutas úteis no âmbito do esporte? Se quiser a primeira, acho que ainda não temos, mas em relação à segunda (conforme citado) creio que existe sim. Ou seja, temos evidência indireta do benefício no contexto esportivo.

        Poderia citar experiência clínica de casos onde o Fisio foi importante (a curto prazo) pra atletas, mas aí vira conversa de bar, neh?

        Mas eu penso, no âmbito da Fisio no esporte de alto nível, muita coisa é inútil, serve como placebo, como confeitaria para agradar. Acho esse tema bastante discutível. Até que ponto amenizar a dor com eletroterapia é importante? Pra qual tipo de atleta seria importante (todos? Somente aqueles com certo perfil de dor ou certo perfil psicológico)? E assim por diante.

        Seu texto é ótimo, especialmente pra fomentar a discussão entre os Fisios. Espero que ninguém leve pro pessoal.

        Abraço e até a próxima.

        Att.

        Claudio

        PS: Esse texto aqui (http://blogs.bmj.com/bjsm/2016/08/04/evidence-based-medicine-in-elite-sports-why-go-for-the-1ers/) mostra alguém que acha que as condutas não comprovadas úteis, vale para uma discussão.

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      • Danilo Balu disse:

        “mas o que os Fisios não podem fazer que só os massagistas fazem?”
        O fisioterapeuta PODE tb ser ainda um massagista. O massagista é por definição massagista. E mais barato! rsrs
        É sobre o que ele faz, não o que ele estuda.

        “Temos evidência de benefícios clínicos a curtíssimo prazo pra certas condições (dores lombares, por exemplo)”
        Se o cara se apresenta COM dores/lesões ele TEM que fazer tratamento (fisio). Se ele se machucar, o médico vai ter que encaminhar. Não é sobre barrar um fisio! É sobre ele não ter necessariamente que estar lá. Exagerando perdendo a mão: vc pode perder as suas chaves na viagem, nem por isso vc leva um chaveiro. Se perder, vai chamar um.

        “Você quer evidência (…) de condutas úteis no âmbito do esporte?”
        Tenho certeza ABSOLUTA que eles podem ajudar MUITO. Estou aqui falando sempre do curto prazo e do que é essencial, não beneficial.

        “Poderia citar experiência clínica de casos onde o Fisio foi importante (a curto prazo) pra atletas”
        ACREDITO! Dentista tb! Nem por isso vc leva um.

        Meu texto deixou a entender que eu acho que eu não levaria um fisioterapeuta no grupo… levaria!! E ainda daria preferência a um com formação e/ou curso de massagem!! Mas levaria provavelmente mais massagistas que fisioterapeutas, já que a demanda no dia a dia é maior.

        Abrax

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      • Claudio disse:

        Acho que agora entendi!

        Não sei se concordo plenamente, mas até certo ponto ao menos, faz sentido!

        Abs

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  2. Ralph Tacconi disse:

    Creio que os resultados alcançados por esses atletas tenha sido dentro do planejado. Aí sim vale o aprendizado. Ou não ?

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  3. Uma dúvida: se treinador é fundamental, na natação o atleta escolhe o treinador? Ou é o contrário?

    Vejo que varia de esporte para esporte. Em ginástica rítmica individual, salto em altura (noss Thiago Braz), vôlei de praia, os atletas escolhem o treinador, ao que me parece.

    Já em esportes coletivos (futebol, vôlei), o treinador escolhe os atletas.

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    • Danilo Balu disse:

      Na verdade Adolfo, em casos de seleção, vc vai com o treinador que a seleção envia… a regra brasileira e em mtos países é pela qtide de atletas classificados. Treinador com mais, vai! Em outros casos vc como treinador tenta acompanhar o seu atleta no camping. Federação pode ajudar ou não…

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  4. Breno disse:

    Pelo visto a experiência te fez mudar um pouco a ideia sobre a massagem auxiliando o processo de treinamento, né, Balu? Lembro que você postou alguns textos que iam de encontro a isso, afirmando que de fato poderia atrapalhar o corpo num processo de auto-recuperação. É isso ou as perspectivas mudam de amadores para profissionais?

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    • Danilo Balu disse:

      Não não… na verdade ainda acho massagem overrated… acho que hj seu uso se baseia mais na fé do que qq outra coisa… e tb porque e gostoso demais!! Meu pto foi mais sobre tentar entender o porquê levam mais massagistas que fisioterapeutas ou que nutricionistas (completamente ausentes no grupo). Até Nutella na hora errada estraga alguma coisas… massagem é gostoso, mas ainda sou mto avesso ao uso que mtos sugerem.

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  5. Moema M Batista disse:

    Eu faria um texto reclamando da reclamanção exagerada de clubes de corrida com tecnicos meia boca e suas pranchetas.

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