A britânica Athletics Weekly , talvez a mais importante revista do mundo voltada ao atletismo ainda publicada, fez um longa e completa reportagem abordando a evolução da marcas britânicas no atletismo. Eles pegaram assim o ranking nacional e, para anular o efeito dos fora-de-série, consideraram não o líder, mas o 10o colocado do ranking. Para poder entender se aumentou também em quantidade a qualidade, consideraram ainda o 30o colocado. Aqui no link você tem o que eles fizeram nas provas de pista.
Resolvi então fazer uma análise do atletismo tupiniquim. O primeiro enorme e mais importante problema foi que (absurdo!) ninguém quis me pagar para fazer isso. O próximo problema foi a falta de dados. Dinheiro para isso não falta, mas a CBAt sempre tem outras prioridades, como mandar Nutricionista para campeonato em Bahamas.
Para fazer algo similar, enquanto os britânicos puderam regredir até 1978, eu tive que me limitar a 1998, 2008, 2016 e 2018. O correto seria 2017, mas acreditem, esses dados não existem!
Contentei-me ainda com os marcas do 10o e as do 20o colocado, que é até onde o ranking nacional cobre. E o que encontrei?
A primeira grata surpresa é que quando falamos de provas de velocidade (100m, 200m, 400m, 100m&110m com barreiras e 400m com barreiras) temos uma constante melhora das marcas do 10o e do 20o colocado, o que indica que temos mais gente de melhor qualidade competindo nessas provas.
O gráfico masculino, assim como todos os demais em diante, deve ser interpretado assim. A linha amarela é o nulo, ou seja, sem melhora nem piora. O que vai acima indica piora e abaixo dela, melhora! Veja o que acontece nas marcas masculinas de velocidade em pista:

Pode optar por ignorar as legendas que fiz questão de manter aos mais curiosos (ex: H100A é o 10o colocado nos 100m masculinos. F1500B é o tempo da 20a mulher nos 1.500m). O que tem que se tirar é que de 1998 para cá as marcas foram melhorando, mesmo passado o ano olímpico, o que é uma boa notícia! Agora as mulheres!

Nova tendência de queda, ou seja, de melhora! Ótimo! Porém, quando vamos ao fundo e meio-fundo feminino o terreno fica mais duro… Reparem:

O 800m feminino é representado na curva que vai (bem) acima da média, em amarelo destacado. E as marcas das demais provas (1.500m, 5.000m em pista e 3.000m com obstáculos) possuem melhora bem mais discreta. Mas a coisa fica preocupante quando vamos aos números masculinos. Mesmo com o caminhão de dinheiro de COB, CBAt, veja o resultado:

Fiz questão de mudar as cores das curvas para enfatizar como regredimos (acima da reta em amarelo forte). Ou seja, de 1998 para cá pioramos nessas provas em pista (800m, 1.500m, 3.000m com obstáculos e 5.000m e 10.000m) no masculino!
Seria porque as competições de rua, que hoje movimentam muito dinheiro aqui e no exterior, estariam roubando os atletas correndo rápido na pista (mais precisamente 1.500m e 5.000m)? Quando olhamos as marcas masculinas brasileiras vemos que não parece ser esse o caso, porque na rua também estamos piorando nossas marcas! Vejam:

Os homens brasileiros estão mais lentos dos 800m à Maratona, ou seja, rua e pista comparado com 1998 para cá. O lado bom é que na provas de velocidade vimos numa melhora. Como podemos melhorar as marcas masculinas na rua e fundo? Não sei! Seria excesso de prova? Não sei! Seria uma geração? Duvido! Seria investimento ($)? Certeza que não!
Eu só juntei os números. Respostas não são comigo. O mais triste é que duvido que mesmo na CBAt, a maior responsável e que seria a interessada, tenha alguém preocupado com isso. E você?! Tem algum comentário?
p.s.: eu deixei de lado um gráfico feminino dos 10km à Maratona porque era tudo tão amador e a falta de dados tão grande que as curvas ficaram distorcidas. As 20as estão muito mais velozes (em função do amadorismo), mas as 10as continuam piorando, tal como os homens.