Os clássicos ensinam – percepção de ritmo

A quarentena me fez estudar corrida de forma diária e metódica que não fazia havia mto. Ando preenchendo uma lacuna que me incomodava: não tinha mergulhado nos detalhes nos diários de treino de alguns ícones e ainda de arquivos da primeira metade do século passado.

Desde ontem me enfiei em 3 clássicos de 1896. E em vários capítulos há uma obsessão: a capacidade do atleta em determinar o ritmo de corrida. Isso vai em paralelo justamente com o DESCUIDO que amadores dão a o aprendizado de algo tão enfatizado há mais de um século!

Correr “GPS-dependente” é como dirigir olhando o velocímetro do carro a cada quarteirão, correr com frequencímetro pra saber a intensidade do treino é como o motorista que tem que olhar pro câmbio pra saber qual marcha está usando. Eu nunca andaria no carro de alguém que dirige assim. Eu lembro que pedia aos velocistas pra darem tiros de 120m acertando a casa do DÉCIMO de segundo.

Quando o corredor dá tiros de 1km olhando pro GPS ele incorre a um GRAVE erro. O GPS dá a velocidade INSTANTÂNEA da corrida que POUCO importa porque ela NUNCA é estável, a mesma, porque a corrida é uma sucessão de saltos, ou seja, ou a pessoa está acelerando ou desacelerando!

Quando a pessoa checa PARCIAIS de um tiro ela tem um cenário mais amplo, mais preciso, mais FIDEDIGNO porque ela compara sua SENSAÇÃO de esforço pela metragem em questão. E é ESSA sensação que ela PRECISA, que ela vai COMPARANDO e criando referências.

Um jeito de se conseguir isso é treinar algumas vezes “às cegas”. Por exemplo: num treino de 6x1km a pessoa só checar alguns tiros (metade?). Ou então checar apenas algumas parciais (a primeira metade, a segunda metade, o primeiro terço…). Quando ela se guia pelo GPS (velocidade instantânea) ela NÃO recebe um feedback de esforço porque o esforço tem que se relacionar com PERÍODOS, não com um MOMENTO.

Outra coisa que uso muito são velocidades DISTINTAS pra assim criar PERCEPÇÕES distintas. Quem treina comigo sabe que uso NO MÍNIMO 6 velocidades. E se você NÃO é capaz de fazer um treino SEM relógio CUMPRINDO com BOA PARTE do programado você tem um ENORME problema em mãos. Você só não sabe disso. Isso é sabido pelo menos desde 1896. Pelo menos…

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2 pensamentos sobre “Os clássicos ensinam – percepção de ritmo

  1. Antal Varga disse:

    Balu, interessante este seu ponto. Ficar olhando sempre pro gps ou congênere pode te fazer tropeçar e tomar um tombaço épico.
    Coincidência ou não, eu tento tocar guitarra. Correr é bem mais fácil. Mas, o desafio da última aula era libertar-se do melhor amigo do aluno: o metrônomo.
    Consiste em tocar por um tempo uma sequência de notas à 120 bpm e depois reduzir as batidas pela metade, 60 bpm mas, continuar a digitação nos mesmos 120 bpm. Tudo isso para criar o controle de ritmo interno. Depois, com a prática, pode-se dividir por 4, 8 etc.

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  2. Pedro Vinícius disse:

    Esse tema é muito legal e eu fico “quebrando a cabeça” com ele. Esse seria um tema bem interessante pro “três lados da corrida” hein Balu. Sobre aplicação de velocidades distintas vc faz isso como, sugere um pace continuo para uma rodagem por exemplo? Sempre ótimas reflexões, valeu!

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