Periodização

Periodização (de corredor) é como sexo na adolescência:

– Todo mundo fala sobre ela;

– Ninguém na real sabe como fazer;

– Todo mundo pensa que o outro está fazendo;

– Então todos falam que estão fazendo.

 

Tempo atrás 2 treinadores BEM experientes em momentos distintos me perguntaram de canto o que eu achava de PERIODIZAÇÃO. Eu disse que é MUITO sobrevalorizada (overrated). Eu não faço, ao menos não do jeito que os professores fora do mercado, que não dão treino, nos “ensinam” na faculdade.

Quase um ano atrás me contrataram para dar treino a uma equipe de fundistas amadores que curtem competir forte. De certa forma depois de já contratado eles me cercavam porque queriam saber da “periodização”, já que há atletas ali com competições em diferentes datas e distâncias.

Eu falei o que hoje eles já sabem: não há periodização. Todos vão treinar juntos, praticamente o MESMO treino, não importa a prova (se 5.000m ou 10km), não importa a data (se em maio ou em julho). Aliás, se a data mudasse alguma coisa no treino, bastaria eu aparecer 5 semanas antes e pedir meu treino “individualizado e periodizado”, não ficaria treinando igual tonto por 12 meses.

Eu achei que igual treinador de futebol eu fosse cair em 2 semanas. Acho que quase caí, é verdade, mas eles compraram a ideia e aí estamos.

SE periodização DE FATO funcionasse, você não teria TANTOS atletas olímpicos ficando LONGE da melhor marca da temporada quando mais importa. Aliás, um dos termos mais em voga de quem corre pouco é justamente o “prova-alvo”. Tenho úlcera quando ouço.

Da pessoa que fala “prova-alvo” você tira de cara duas informações. Ela corre há muito pouco tempo. Tão pouco que ela ainda não aprendeu o básico desse esporte. O segundo, e talvez nem ela saiba, é que quando ela diz “prova-alvo” no fundo no fundo ela já está te dando desculpas do por que ela vai tão mal nas provas anteriores à tal “prova alvo”. “Prova-alvo” é autossabotagem.

Se nem atleta profissional tem prova-alvo, por que eu ou você teríamos?? Deixe de delirar!

Um dos princípios do Treinamento estabelece definir cargas que gerem estresse num nível adequado (é mais arte do que ciência, para desespero do povo de avental, é muito mais feeling do que cálculo). Aí você vai fazendo indo sessão após sessão ad eternum. Qual valência física deve vir antes (força, resistência, velocidade…) vai do gosto do treinador. O que a gente encontra na literatura (e mesmo na prática) é que ela pouco importa na corrida de longa distância.

A “minha” periodização eu divido em 3 partes. Começo pela base onde trabalho força geral e velocidade “pura” do corredor. E termino com queda de volume (não de intensidade!) de 1 a 3 semanas antes da competição.

E o que eu faço “no miolo”? Qualquer coisa. Literalmente qualquer coisa, NÃO é modo de falar! O treino eu invento quando estou chegando na pista. Eu sei o treino que eu fiz na semana passada, o de “hoje” e o da próxima. E só. Nada mais.

Mas como eu quero cobrar o mais caro possível pelos meus serviços, eu faço o que qualquer assessoria esportiva do mercado faz, eu falo que faço planos personalizados, individualizados e periodizados em função das metas e da “prova-alvo“ que é definida com o cliente. Os clientes, que entendem de corrida menos que eu, gostam disso.

Mas agora contei meu segredo… Periodização é como sexo de adolescente.

 

 

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13 pensamentos sobre “Periodização

  1. Gostei da periodização. Fiquei apenas com uma dúvida: O que é velocidade “pura”?

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  2. joaocrz disse:

    Balu, eu só tenho um ano e quatro meses de treinamento regular. Apenas neste ano, já estou com uma rodagem de 690km e 40:28 nos 10km, não tenho sua experiência e ainda me considero um “barriga verde” no assunto, mas neste tempo de dedicação à corrida, percebi que a prova-alvo serve como um objetivo para você dar o seu melhor em uma corrida, pois eu não gosto de correr por correr, gosto de correr para dar o meu melhor. Neste ano, estou com uma volume de treino em média de 55-60km por semana e quando planejo a “periodização” de 12 semanas, a cada 4 semanas, faço um teste. Gostaria de fazer este teste em provas, mas o preço não me permite. Também percebi neste pouco tempo de prática de corrida, se a pessoa for autodidata, ela mesma consegue planejar seus treinos. Comprei o livro Fórmula de Corrida do Daniels e lá ensina tudo, para quem não quer gastar com “assessoria personalizada”, lá está toda a personalização das assessorias.

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    • joaocrz disse:

      Apenas ressaltar que passei minha adolescência dos 12 até 20 na prática de futebol e artes marciais e acredito na memória muscular.

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      • João, tb não tenho muito experiência mas vou na mesma linha que você, buscando conhecimentos diversos, inclusive de caras como o Balu.

        Obtive rendimentos muito melhores quando sai de uma dessas assessorias grandes e passei a seguir as tabelas de ritmo do Jack Daniels. Vejo como um método simples de seguir pra quem não quer ou não pode pagar pelo direcionamento e ainda não tem tanto conhecimento.

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  3. Varga disse:

    Balu, acompanhei este post nas redes sociais e gerou gde discussão. Particularmente vou mais na sua linha de raciocínio.
    Planos não são nada, planejamento é tudo – frase do Gen. Einsenhower.

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  4. Marcos Paulo disse:

    Balu é foda, mala mesmo. Lembra aquele personagem do (eterno) Francisco Milani (tolerância zero!), eheheheh…

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  5. Celso Nascimento disse:

    Caro “treinador” talvez o problema está na sua afirmação: “Quase um ano atrás me contrataram para dar treino a uma equipe de fundistas”. Quando vc dá alguma coisa é por que vc mesmo está dizendo que não tem valor. No momento que vc começar a vender o seu trabalho, aí sim, vc vai para de “dar” e se empenhar em fazer alguma coisa minimamente de qualidade.

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  6. […] Dias atrás escrevi um texto sobre periodização (na corrida de longa distância), um tema do qual sempre quis tratar e do qual sempre me perguntavam. Como disse nele, não foram uma nem duas (nem 5) vezes que tratei disso com treinadores experientes, alguns de atletas profissionais, outros de seleção, olímpicos, etc. […]

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