A Maratona de NY também está mais lenta na média…

No vácuo da Maratona de Chicago, que viu cerca de 1.300 pessoas correndo abaixo das 3h00 entre seus quase 45.000 concluintes, cheguei a uma análise que me passou em branco ano passado. Olhando aos dados da Maratona de Nova Iorque desde os anos 80, temos que – adivinhem! – os maratonistas amadores estão ficando cada vez mais lentos.

Esse é um dos temas que mais me atraem, vocês já sabem (já falei aqui e depois aqui no blog)! Os mais iludidos com o avanço da “ciência” vivem alegando que hoje o treinamento é mais científico, muito “melhor” ou mais eficiente que o do passado (digamos, 40 ou 50 anos atrás). Eu tenho ENORMES dúvidas sobre tamanho avanço. Porém, quando olhamos apenas o tempo médio, que no Brasil também vai ficando mais lento ano a ano, temos alguns desafios para isolar as variáveis.

Primeiro é que com mais gente correndo, os iniciantes “contaminam a média”. Um iniciante, o nome já diz, em uma modalidade que o tempo de prática e o volume de treino têm enorme impacto no desempenho, quase sempre começará mais lento que a média dos praticantes. Então com mais gente começando a correr, a tendência era mesmo a redução da velocidade média.

E tem mais. Quando olhamos a elite (profissional ou não) temos que ela hoje consegue se dividir (por premiação ou mera escolha) em centenas de provas pelos EUA (no Brasil havia 2 ou 3 maratonas 40 anos atrás, hoje há quase 25).

Esses 2 argumentos acima explicam BOA parte do debate (sim hoje a média é sabidamente mais lenta). Mas 2 pontos acho que não vêm merecendo a atenção devida. O primeiro é que a sociedade muda com o tempo. A corrida é uma prática exigente, ela exige muita dedicação. E nosso mundo de redes sociais e smartphones nos oferece MUITAS distrações e competidores (se qualquer vídeo de 3 minutos no whatsapp ou YouTube já são preteridos, imagine 1h30 sem checar o Instagram??).

E por fim, um tema mais espinhoso: o mundo está cada vez mais gordo. Baixo peso é condição sine qua non para corrermos bem ou melhor. Como esperar que melhoraríamos se estamos carregando mais gordura, um “peso morto” nesse esporte?

Com certeza alguns dirão que toda a tecnologia de calçado e de treinamento (só nunca dizem quais são elas ou mais precisamente esses tais avanços) dirão que os amadores estariam ainda mais lentos e ainda mais lesionados não fosse o tal progresso. Não consigo acreditar nisso… até porque fica sempre tudo na esperança, na torcida, nunca nas evidências.

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9 pensamentos sobre “A Maratona de NY também está mais lenta na média…

  1. Rafael disse:

    não sou vegetariano, nem pretendo ser.
    Mas gostaria de saber sua opinião, sobre a Patrick Lange, que foi Bicampeão do Mundial de Ironman, neste fim de semana, no Hawai.
    Ele é vegetariano, desde 2019, e alega ter melhorado muito seu desempenho, pelo vegetarianismo e principalmente por pensar no que se alimenta.

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    • Danilo Balu disse:

      Putz… me avisaram que iriam reavivar esse debate de vegetarianismo e alto nível… para cada vegetariano de destaque tem um que vive à base de cerveja, Mc e nuggets… para cada ouro no IM tem 10 outros que comem carne… o vegetarismo bem orientado exclui os alimentos mais inflamatórios que existem, os processados (óleos & açúcares…). Um cara que toma cuidado com o corpo e não ingerir determinados alimentos, é cuidadoso… é difícil isolar tudo isso. Tem mais. O peso corporal no triatlo é fundamental. Pessoas vegetarianas conseguem um peso baixo benéfico na modalidade! Mas o segredo do Lange está mais naquilo que ele não come E que NINGUÉM deveria comer regularmente: alimentos industrializados, que o Rodrigo Polesso genialmente chama de “substâncias comestíveis”.

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  2. Antal Varga disse:

    Balu, seu post foi bem preciso. O universo de corredores aumentou pq teoricamente correr é simples mas, não é nada fácil e exige baixo investimento em equipamentos. Também a qtde de amostragens aumentou muito. Tem corrida a dar com pau, as vezes 3 ou mais num mesmo dia e nas mesmas distâncias. E por fim e não menos importante, a separação entre prova e evento. A quantidade de praticantes numa prova, os que estão correndo para resultado e puxariam a média para cima é significativamente menor aos praticantes num evento, os que correm para completar, divertir-se, bater marcas pessoais. É como se fosse uma distribuição normal com duas “corcovas”, ou seja, são dois fenômenos distintos ocorrendo. E para fechar, estou na “corcova” que puxa a média para baixo.

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  3. Pedro Ayres disse:

    Balu, fazendo o advogado do diabo, pergunto: por que deveríamos esperar performance no corredor médio? Não aplicamos o mesmo ao praticante recreativo de futebol, basquete, tênis, bicicleta etc.

    Na prática, as pessoas não desenvolvem seu completo potencial, da escola primária ao mercado de trabalho, passando pelo seu hobby. C’est la vie.

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    • Danilo Balu disse:

      Não não! Não acho que temos que “esperar performance no corredor médio”! Que eles estão mais lentos é só uma constatação! Prefiro 20% da população conseguindo correr 5km devagar a 10% correndo abaixo de 20min (mesmo que não sejam excludentes), mas a prioridade seria a primeira opção (a dos 20%). Aliás, se a pessoa corre rápido, tenho mais convicção de que ela deve ser uma chata! Minha birra mesmo é quem diz que hj a tecnologia não sei o que lá! Isso é cientificismo vagabundo e rasteiro… continuamos nos machucando igual, acima do peso e correndo igual (qdo treinamos o mesmo volume).

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  4. Luis Oliveira disse:

    Ok, seu ponto não é a diminuição da velocidade do corredor médio em si, mas como isso comprova a ineficácia dos (chamados) métodos científicos de treinamento.

    Estaria completamente de acordo se: (1) houvesse um razoável consenso científico, baseado em evidências, sobre quais seriam tais métodos; e (2) houvesse evidência de que os métodos estão sendo aplicados pelo corredor médio.

    Sobre o ponto (1), eu acho que há um conjunto razoável de conhecimento, baseado em evidências científicas razoáveis, e que pode levar um atleta amador a obter resultados melhores do que aqueles que ele obteria há, sei lá, 25 ou 30 anos. Algumas dessas coisas são relativamente diseminadas, outras nem tanto. Ainda há muita fé cega em práticas que tem a eficácia de horoscopo.

    Ou seja, há coisa novas e há coisas boas, não necessariamente excludentes. A generalização de que o atleta médio usa um conjunto homogêneo de tecnicas científicas de treinamento me parece um exagero.

    Sobre o ponto (2), ainda que houvesse esse conjunto de tecnicas, a generalização somente seria possível se os atletas realmente as estivessem aplicando. Muito provavelmente, se o corredor médio aplicasse consistentemente qualquer tecnica de treinamento, ao acaso, sua performance seria melhor do que não treinar.

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  5. Felipe disse:

    Balu, no site da análise da maratona de NY tem os 10% mais rápido. Mas esses 10% possuem os mesmos problemas do todo, e 10% nos últimos anos é mais que 5k pessoas. Mas o que acontece se você pegar os 50, 100, 200 mais rápidos – talvez até excluindo a elite. Sei que é injusto também porque de 55k os 200 primeiros possuem muito mais chance de correrem bem que os 200 primeiros de 1980, mas naquela época só corria quem era rápido mesmo. Enfim, antigamente não sei como as pessoas treinavam, se quem corria era quem treinava na escola ou se seguiam planilhas de revista. Mas hoje quem treina ou segue um treinador de assessoria ou treina por conta, lendo e com planilhas ou livros.
    Para o público total, algo que certamente impacta no aumento do tempo de conclusão é o aumento de peso do corredor médio por conta de dieta ruim, mesmo entre corredores. Provavelmente tem um peso menor do que o grande aumento de corredores iniciantes, mas seria interessante achar alguma corrida que fosse capaz ver a evolução do peso dos corredores no tempo. Enfim, tendo a achar que quem tá lá na ponta é melhor do hoje do que décadas atrás, porque a competição é maior hoje. Mas o que importa é ter mais gente correndo, então isso tudo é uma grande bobagem haha!

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