Leituras de 3a Feira

O povo japonês é o que mais corre maratonas no mundo! Precisamos de cerca de 2 décadas para correr o que eles correm! Um texto bacana explica os motivos que fazem de Tóquio a capital mundial da corrida!

Treinar (ou correr) pra morte”. Eu sei, é uma expressão meio forte. O corredor a usa quando fala que vai correr forte, “até onde der”. O equivalente na musculação (ou do treino de força) é o “até a falha concêntrica”, quando há um “tetanismo” (um tecnicismo) e você fica tremendo sem o peso subir. Uma vez ouvi o pesquisador Tim Noakes falando dos tempos em que ele era remador. Ao acabar um treino de – sei lá – 6 tiros de 2.000m, o treinador avisou que haveria um tiro surpresa. Houve um 7º tiro. Depois um 8º. E um 9º. Justamente quando todos achavam que não haveria energia sequer para um 7º. Na minha experiência na Etiópia quando acabamos o 5º e último tiro, após o intervalo o treinador veio com a surpresa: haveria mais uma repetição. Eu achei que estivesse morto, tive que ressuscitar e correr mais 2 minutos. Há todo um tolo debate recente de que o que importa na longa distância seria 90% mental. Obviamente que não é. Se fosse eu faria meditação, não tiro me esguelando. Você vai encontrar treinadores que afirmam com segurança que você deveria ser capaz de terminar o último tiro capaz de dar mais um. Não é a minha linha. Sempre encaro que em um treino de 8x800m, por exemplo, você não deveria ser capaz de fazer um 9º, mas talvez um extra de 400m após uma pausa um pouco estendida. Porém, você vai encontrar outros que acham que não deveria haver condições para mais nada, que cada sessão é uma guerra, atitude comum em muitos treinadores e preparados físicos de esportes coletivos, notadamente nos EUA. O que funciona melhor? É como comparar bananas com peras. Tudo no esporte tem seu tempo. Tudo. Contexto e timing. A arte está em saber quando usar cada coisa e na intensidade certa. Posso dizer que é como curry, um pouco a mais e tudo está estragado. Quando dava treinos na minha assessoria tinha que ficar explicando isso para marmanjo adulto que treinava forte uma vez a cada 15 dias e queria fazer daquele o treino mais intenso do mês. Enquanto agora oriento universitários na casa dos 18 a 20 anos, tenho que fazer o oposto, tenho que invadir a pista impedindo que eles se matem em praticamente todos os treinos. Já estive lá, sei como é. Associamos naturalmente o mais a melhor, dando para um peso de menor importância a coisas como frequência ou recuperação. Um texto bem bacana (meio técnico, é verdade) de Steve Magness explica como esses treinos “pra morte” geram um estresse enorme (talvez só reproduzível em bem maior escala nas competições) e inibem o anabolismo do atleta. Descansamos depois de provas, porém não muito após treinos. Já os treinos “quase lá” seriam o estímulo perfeito de adaptação (melhora). Mas é só quando enganamos o corpo, indo ao limite, que conhecemos melhor qual seria esse limite, além de reforçar para nós mesmos que algo “dá”, é possível. É uma lição de casa fundamental para o dia da competição: sempre há um pouco a mais. Só que se tentarmos muitas vezes visitar esse local, seja em treino ou prova, não há corpo ou cabeça que aguente. Pense duas vezes antes de ficar entrando semana sim semana não em provas…

A RUNVI é a uma “palmilha inteligente- promete ser o melhor treinador de corrida que você pode ter”. Este é uma das armadilhas sem fim na corrida, as pessoas achando que dado é informação. E na ingenuidade tentam tirar alguma coisa desses números. Menos é mais. Mas não vende. Aqui mais informações. *dica do Antal Varga.

6 pensamentos sobre “Leituras de 3a Feira

  1. Maicon disse:

    Ah não. IA até pra dizer como treinar e quanto… Mas a propaganda é boa

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    • Antal Varga disse:

      Pois é Maicon, cada vez mais “inovações e disrupções”. O que não é de todo mal mas, para o 2º movimento mais natural do homem, talvez soe sem muito sentido prático. Demora um pouco para nos ligarmos que na corrida menos é sempre mais e frequentemente somos encantados pelo canto da sereia que sai de calçados, gadgets, apps etc, pois basta comprá-los.

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  2. Antal Varga disse:

    Balu, em relação a questão mental em treinos ou mesmo em provas lembro do que o Ten. Varga, meu irmão que foi oficial infante (entendedores entenderão) do EB por 8 anos, dizia para seus comandados: “Guerreiro, quando vc achar que não aguenta mais e está para chamar a mamãe, lembre-se que vc ainda tem 20% para dar !!! Hori-hop !!!”
    E eu penso, por puro achismo, que esses 20% só são usados de verdade, para valer, em situações com risco de vida para si ou sua prole. Puro instinto animal.

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  3. Nishi disse:

    Só uma correção. Curry nunca é demais, sempre tá faltando um pouco…

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  4. ciro violin disse:

    Penso esse exemplo do Tim Noakes sobre os tiros remando, foi o que o provocou para formular a teoria do governador central.

    Sua capacidade de quanto suportar mais dor por mais tempo só aumenta quando vc coloca outra referência maior numa situação dessa, como o técnico dizer que ainda precisam dar mais dois ou três tiros além do combinado. Vc acha que não conseguiria fazer mas faz e muitas vezes, melhor.

    Essa é a diferença entre atletas naquela escala: peba, fraco, forte do fraco, forte, forte do forte, bruto, galático. Uma pessoa somente “morfa” de peba pra fraco, ou de fraco pra forte do fraco, ou de forte pra bruto, o dia que ele muda a referência de conseguir suportar mais dor e ou mais dor por mais tempo.

    Cada indivíduo tem uma maneira e um tempo para fazer isso, e, as vezes é consciente e muitas vezes inconsciente. As vezes ele provoca e muitas vezes é provocado e ou obrigado a fazer como questão de sobrevivência.

    Tem inúmeras histórias de superação e capacidades de ter sobrevivido em situações extremas que as próprias pessoas não conseguem imaginar que elas mesmas tiveram capacidade para tal, aí se voltam e tentam explicar jogando para o sobre natural como milagres etc etc etc.

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  5. Marcelo Rezende disse:

    RUNVI…não conhecia até um “influencer” colocar hj no instagram que o dele chegou…agora li aqui de onde vem isso..rs..daqui a pouco a moda espalha

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