Ontem conversava com um amigo corredor sobre… corrida. E uma coisa com a qual ele concorda comigo e que foi assunto de conversa também com outro amigo (corredor!) é que o último lugar onde alguém deveria ir quando quer correr bem DE VERDADE é a uma assessoria esportiva.
Não me levem a mal! Estou longe de achar que não haja vários benefícios inegáveis em se treinar em uma assessoria esportiva. Até porque lá você encontra profissionais que estudaram (e estudam) para orientá-lo melhor na atividade física. Mas achar que é indo lá que você irá correr bem é como achar que será na academia padrão que você ficará forte de verdade. Não, não será. E a resposta do melhor lugar para buscar qualquer um desses 2 é mais difícil do que parece.
Uma coisa que você descobre rapidamente no mercado é que você tem que vender uma coisa e entregar outra. Do contrário você fica sem nada. Não foi uma, nem duas, nem 3 vezes que alguém chegou até mim querendo correr mais rápido e ao olhar o treino de assessoria que essa pessoa realizava, a minha conclusão muito direta era: você não vai correr rápido nem em 5 anos fazendo religiosamente isso!
Cliente machucado é um cliente que não paga. Treinamento é uma sucessão de estresse, agressão calculada ao corpo. O melhor jeito de garantir não-lesão em 100% das vezes é garantindo que você determine cargas bem baixas que não agridam o organismo, não o tire da homeostase. E é esse um jeito ainda garantido que a carga é tão baixa que correr bem é justamente o que a pessoa não fará.
De novo, que ninguém fique bravo. Eu acho que o ambiente de assessoria é saudável, muito saudável. Tem a questão social, a questão de gerar uma carga aeróbia saudável, a questão da motivação, do compromisso social e consigo mesmo. Acontece que saudável e adaptações buscando um mínimo de desempenho nem sempre se conversam, falam idiomas diferentes, distintos.
Correr é desconfortável, o treinador, que geralmente precisa ter mais clientes, está em um dilema: para gerar maior desempenho ele precisa aumentar o desconforto justamente de quem paga seu salário. É mais garantido cargas menores, mais seguras, que – novamente – geram benefícios sem incomodar. Mas correr BEM? Definitivamente não.
O irônico é que sempre aparecem clientes dizendo querer “correr bem”. O problema é que arrisco dizer que a maioria não sabe o preço disso, o preço de correr bem. Na ânsia de atender o cliente, o profissional promete entregar aquilo que ele não consegue. Ao menos não fazendo o necessário sem perder esse cliente. E aí fica o dilema do Vampeta no Flamengo. Certa vez o jogador teria dito que fingia que jogava enquanto o clube carioca fingia que pagava. Aí o circo está armado. O linguajar com um vocabulário cheio de palavras que todo amador gosta de ouvir (prova-alvo, performance, recuperação, personalizado, periodização…) e para fazer o básico para se correr bem, ele não preenche sequer até a página 2.
Logicamente que você acha grupos que buscam desempenho. Notadamente equipes menores, com treinadores mais românticos, tradicionais, menos comerciais. Ou mesmo equipes maiores, por exemplo, a HF lá de BH. No mais, para crescer você precisa abandonar um pouco o desempenho. Por isso que se você quer levantar 180kg no Terra, não será na famosa rede de academia que você irá encontrar o melhor treino para isso.
E onde você acha isso? Não me faça pergunta difícil. É sempre mais fácil falar o que é errado (achar que é em assessoria você vai virar elite B) do que o que é certo, que muitas vezes não sabemos. Mas é inegável, há um enorme conflito entre correr bem quando quem busca um grupo muitas vezes no fundo no fundo quer outra coisa, seu aspecto social. E como sempre digo: não há NADA de errado em não correr rápido.
Isso que você falou é válido para quem tem algum conhecimento sobre treinamento de corrida. Lógico que não se aplica a iniciantes que não sabem absolutamente nada sobre treinamento e vão correr ao léu. Para esses é muito provável que o treino seja leve demais para correr rápido, ou que, tentando correr rápido, acabem se machucando antes de um resultado.
Mas entendi o seu ponto. Em geral as assessorias são conservadoras e entre aplicar uma carga de treino próxima aos 100% e uma carga de 85%, em geral preferirão essa carga de 85%, que já gera algum resultado, mas com um menor risco de lesão. Afinal, corredor machucado é cliente que não paga. E outra: lógico que um corredor se constrói aos poucos e o universo do mundo da corrida hoje é majoritariamente composto de corredores tardios, que estão sendo construídos, mas existe o princípio do Sergei Bubka (que batia o recorde mundial cm a cm, ao invés de saltar o máximo que dava logo): se o cara atinge logo o seu ápice de resultado num treino forte de fato (se aguentar), o que vem depois? Trocar de assessoria, lógico, pra tentar novos métodos e ver se dá pra ir um pouquinho além… então, administrar a progressão do corredor, ainda que inconscientemente, também é algo que rola para a assessoria…
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Minhas discordancias contigo, Balu, são quando voce desconsidera (ou minimiza, sejamos justos) o aspecto motivacional. Isso é verdade para ao treino com acessorias, para o uso de gadgets tecnológicos, para o tenis bacana super-responsívo. Lógico que essas coisas todas são assessórias, mas o poder que elas tem de fazer com que o corredor se sinta (inclusive financeiramente) investido no esporte é enorme.
Correr é difícil e desistir é fácil. Se eu tenho o suporte social (acessoria), consigo medir ainda que imperfeitamente meu progresso (GPS) e ainda encontro alguma superstição que me ajude (tenis responsívo maximalista), as chances de ficar aumentam. O resultado é sub-ótimo se comparado com o que alguem totalmente racional maximizador de utilidade conseguiria. Mas essa é a comparação errada, o correta é se eu continuo correndo depois de 2, 3, 5, 10 anos. Ainda que lentamente e abaixo do potencial.
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Eu acho que motivar (no curto e médio prazo) é uma das duas principais fções de um treinador!
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Por que saiu aCessoria no texto, sendo que eu escrevia aSSessórias logo em seguida? Mistérios do WP.
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Sou “corredor” há 2 anos e entrei numa assessoria em dezembro de 2017 para evoluir das provas de 10km para a meia. Queria muito conseguir correr uma meia. Minha meta não é ser rápido. Claro, concluí a meia e quero concluir outras agora, sempre em melhores condições, com mais facilidade de correr esse volume. É isso. E nisso o treinamento programado me ajudou e tem me ajudado.
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Eu gosto da assessoria e concordo que muitas vezes eles pegam mais leve do que podem. O que faço é incrementar mais tempo no aquecimento e desaquecimento e incluir rodagens nos dias de off. Assim aumento significativamente a km semanal e aproveito os benefícios sociais do grupo
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Passei exatamente por isso. Comecei a treinar sozinho e logo conheci o recorrido, foi a época que mais evoluí, seguindo a receita de bolo da corrida. Passei um tempo no romantismo e agora voltando novamente ao estresse do corpo, me sentindo motivado.A MPR em SP tem uma galera forte também, porém é gigante.
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Acgo que a MPR é fora da curva (eu treino com eles) por exatamente o que você falou: ela é gigante (talvez a maior). Então tem grupos de todos os niveis, com todos os objetivos. E tb tem o lance que eu sinto lá que depende do treinador que você escolhe, tem alguns que puxam mais do que outros.
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Balu, na minha opinião a principal função de uma assessoria é “coletivizar” um esporte que é individual em sua essência. Acredito que isto se deva principalmente à herança dos nossos antepassados (vide a Teoria do Homem Corredor).
Para quem é ou pretende ser atleta não é a melhor solução. Atleta vive do esporte. Mas, para quem é somente um praticante e não curte a solidão da corrida, pode ser uma opção interessante.
Eu estou no 2º grupo e comecei a correr por conta própria, fui do sofá à Maratona desta forma, sendo curioso e experimentando. Já minha esposa, fez 1 mês de degustação numa assessoria e achou bacana mas, não perseverou. Detalhe: eu adoro correr, ela não.
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Eu diria que as assessorias se adaptaram a um nicho hoje de pessoas que correm por saúde, e quando vão para uma prova, não pensam em tempo, vão pelo social, como se fosse para uma balada, só que uma coisa com apelo saudável! Além daqueles que querem apenas completar 1/2 ou maratona, não importa tempo. Se você abre uma assessoria para treinar quem quer tempo, vai ter pouca gente… Mas tem assessorias que tem as 2 coisas: o grupo da corrida social e saudável, e o grupo menor, que quer melhorar tempo.O tipo de atendimento, a atenção, é totalmente diferente, por isso imagino que seja bem mais trabalhoso ter esses 2 tipos de atendimento. Muito mais fácil e garantido é focar na primeira opção.
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Aliás, isso que a Adriana falou me lembrou que aqui na minha terra tem concorrencia entre as assessorias (eita, dois ss) pelos ‘canela-finas’. Eles pagam menos ou nada (acho que não recebem), ganham material e chamam alunos-recreativos para a empresa com os resultados, as fotos de pódio nas midias sociais, etc. Deve ser assim em outros lugares.
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Ah fala sério..
Aí a pessoa está numa assessoria só faz treinos com mais 30 pessoas em volta. Faz aquecimento em grupo, rodagem em grupo, tiros em grupo
E na hora da prova segue um pacer para fazer o tempo determinado.
Isso para mim não é o esporte corrida. É outra coisa.
Sou totalmente lobo solitário esquizoide esquisitão.
Só treino sozinho e na hora da prova corro sozinho o mais rápido que puder, no máximo me escondo atrás de alguém para quebrar o vento durante algum tempo.. rsrsrs
Assessoria é mais para o lado social mesmo. Até aqui na minha cidade pequena já tem assessoria de corrida.
Vejo o pessoal se arrast… Ops.. trotand… Ops… correndo em grupo pela rua. Melhor do que ficar sentado no sofá né…..
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Balu,
Sua pensata me fez lembrar da história de um colega que “deixou” a corrida, após passar por umas 3 assessorias ao longo de vários anos, para dedicar-se ao triatlo, também vinculado a uma assessoria dessas “altamente especializadas”. E ele veio comentar comigo: “Cara, o que mais tem me assustado é que parece que estou aprendendo e melhorando a corrida agora que entrei na assessoria focada em triatlo. As assessorias de corrida parece que pouco se preocupam com a qualidade da corrida do atleta como por exemplo a postura de corrida. Você corre “sentado” no próprio quadril e ninguém tá nem aí. Elas estão focadas somente na planilha semanal, no isotonico da marca X no pós-treino, etc, etc, e quando você vê está lá rodando dezenas de Km’s igual a um frango”.
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Tive que treinar em uma assessoria pra afirmar que tudo isso que vc ta falando ‘e verdade….. sim sim sim.
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tambem o legal, se voce precisar de uma bicicleta no meio do caminho, la voce pode fazer amigos que podem te ajudar.
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Prezado Balu/ Demais Leitores;
Eu gostaria de saber, por exemplo, o que faz a HF, por exemplo, para ser mais competitiva do que as demais assessorias, por exemplo.
Atualmente faço parte de assessorias, mas percebo nitidamente que o foco é qualquer coisa: viagem, camisetinhas comemorativas das coisas mais boçais possíveis, lanchinhos, comidinhas… etc. Mas não vejo empolgação alguma em sentar a pua e fazer aqueles treinos brabos, colocar os alunos para treinar 4,5,6 as vezes 7x na semana, etc.
Al’guem que tenha experiencia em equipes com pegada mais forte poderia me ajudar a elucidar como é o mecanismo que funciona com essas equipes?
Obrigado
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Eu acho que não tem resposta fácil… Vai mto da “cultura” da equipe, do desejo do sócio-treinador … Cada assessoria acha seu nicho.
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Muito Obrigado, Danilo!
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