Risco Cardíaco na Maratona e no Triatlo

Esse domingo aconteceu mais uma tragédia no triatlo. Um experiente competidor amador de 48 anos disputando na distância Meio Ironman iniciou a natação, não saiu (deve ter tido um mal súbito), faleceu e teve o corpo encontrado muitas horas depois.

Toda morte nos diminui, diz o poeta. Mas é nossa reação depois dela que pode mostrar equilíbrio na decisão e sensibilidade fazendo com que a morte não seja em vão. Esses acidentes, é duro admitir, servem para que melhoremos os processos.

Primeiramente, esqueça o que os médicos dizem sobre exames obrigatórios para liberar alguém para treinar ou competir. Há 2 tipos de médicos que defendem essa obrigatoriedade: os que não passariam num teste básico de lógica ou do Kumon, e os que ganham dinheiro com os exames. Não conheço médico que defenda obrigatoriedade que não caia nessas duas categorias.

Segundo, triatlo e maratona NÃO são eventos de alto risco cardíaco. Lembre-se sempre também de duas coisas: nossa memória nos trai e o ser humano é péssimo com número e risco. As mortes ou eventos cardíacos em maratona, por exemplo, são tão raros que você tem mais chance de morrer no CAMINHO de carro até a prova.

No triatlo os eventos são mais frequentes, mas ainda muito raros. Interessante levantamento recente do Medscape mostra que os que têm mais riscos são os homens (testosterona e comportamento mais agressivo, mais competitivo em uma relação provável de retroalimentação com esse hormônio), de mais de 40 anos e na natação. Por quê na Natação? Por uma questão logística o atendimento, como pudemos ver novamente esse domingo, mas também meses atrás no Rio de Janeiro com um atleta homem de 39 anos, pode demorar horas. Quando um atleta cai da bicicleta ou correndo o evento não passa despercebido de testemunhas.

Uma estratégia que vem sendo usada com sucesso em corridas nos EUA é disponibilizar um posto de água a menos de 1km da chegada (para desacelerar os mais lentos, mais inexperientes e mais despreparados), pois as chances de um evento no sprint final parecem ser mesmo maiores.

Na natação o que pode ser feito? Criar a obrigação de percursos com voltas. Facilmente você pode disponibilizar um alerta, uma bandeira amarela, ao atleta que demorar, por exemplo, 15% a mais do tempo previsto (*e aqui você pode colocar homens com mais de 40 anos com um alerta mais rigoroso, de 10%, por exemplo). Com isso, você pode DURANTE a prova já se certificar se estão todos bem. Além do que é sempre mais fácil supervisionar com o mesmo staff uma “raia” artificial de 1.000m do que uma de 2.000m, por exemplo. Você dobra sua capacidade sem maiores custos.

Mortes continuarão a ocorrer no triatlo e na maratona. Porém, não se iludam achando que sejam modalidades perigosas. Não são. Mas se as organizadoras não fizerem nada, mesmo cobrando as estratosféricas taxas de inscrição do triatlo, sinalizarão ainda mais claramente aquilo que mais querem de nós: dinheiro, ainda que à custa de uma maior segurança possível.

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7 pensamentos sobre “Risco Cardíaco na Maratona e no Triatlo

  1. Luis Oliveira disse:

    Balu, as sugestões são boas (embora nem sempre práticas, como no caso da volta na natação, que depende do local), mas possa te assegurar: não há nada nem parecido com a organização dos IM no Brasil. Eles são super sérios, super cuidadosos e muito profissionais. Podemos discutir se vale o que cobram (embora o preço em US$ seja o memo em todo o mundo), mas a prova está a anos-luz de provas de corrida, por exemplo. Mesmo das que eles mesmos (Latin) organizam.

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  2. Fausto Flor Carvalho disse:

    Realmente o risco de morte é inerente a vida….quanto a maior número de mortes na natação, vários fatores precisam ser analisados…pra Europa e América do norte, a temperatura da água pode ser uma variável importante….

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  3. Andre Berlesi disse:

    Os valores cobrados são absurdos sim. E só estão nestes patamares pois praticamente existe um cartel neste mercado (triathlon). Todas as empresas que organizam provas de longa distância da modalidade estão cobrando valores altíssimos. O participante fica sem opção. Entendo que os valores envolvidos para realização do evento são altos, mas para mim, algo em torno de R$1.000,00 é demais.

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  4. liporati2002 disse:

    O risco cardíaco é baixo e os homens são mais competitivos…. e ninguém levanta a hipótese que a causa mais provável não é morte súbita mas levar um chute ou braçada (mesmo que involuntários) de um competidor que vai à frente, ficar grogue, respirar água e se afogar!

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  5. Fausto Flor Carvalho disse:

    Inscrições caras são um problema….ter equipe médica adequada de suporte custa caro…mas tem se que pensar nas possíveis eventualidades….quanto mais rápido o atendimento maior a chance de sobrevida.

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