Na semana passada tive a oportunidade de uma vida: de treinar ao lado de alguns dos melhores corredores de longa distância do mundo, os etíopes. Eu corro literalmente há décadas, já li algumas arrobas de livros e artigos no tema, mas não imaginava que poderia aprender tanto em tão pouco tempo.
Quando decidi embarcar para correr a Maratona de Frankfurt, decidi me dar o presente de pegar um voo pela capital da Etiópia parando por lá na volta. Contatei a Run Africa que organiza running camps (grupos de treinamento temporário) para que me ajudasse. Não poderia ter sido melhor, uma vez que pelo inglês muito precário no país (ao contrário do Quênia, por exemplo), eu NUNCA conseguiria sozinho ter feito as coisas que fiz.
Vou tentar nos próximos dias falar brevemente do que pude vivenciar lá fazendo paralelos com nossa realidade e a do nosso mercado, assim como a realidade fantasiosa da prática por aqui. Não custa lembrar que as citações aqui refletem a intensidade com que fiquei satisfeito com o serviço que me foi entregue. Elas não são fruto de parceria, mas de endosso de como foram competentes comigo.
Pretendo voltar!
A PRIMEIRA PROVA…
Assim que cheguei ao país em um domingo bem cedo, dei sorte de a gigante Adis Abeba (mais de 3 milhões de habitantes, equivalente a Brasília ou Salvador, maior do que BH, por exemplo) estar recebendo uma de suas cerca de míseras 15 ou 20 corridas anuais. É um choque para muita gente que acha que o corredor etíope é competente porque é um povo corredor.
A programação era para treinarmos logo cedo, mas mudamos a programação e no caminho para a minha hospedagem paramos para assistir o evento e ver como se sairiam os atletas do grupo com quem eu treinaria. O agente, que é ainda um rápido atleta amador inglês, explicou que havia entre 2.500 e 3.000 corredores fazendo cerca de 7km.
Havia ali na multidão amadora muitos com pau de selfie, muitos usando sapatênis. Eram claramente não-corredores. Ed, o agente, me explicava que não existe um mercado de corrida amadora no país, como existe aqui, na Europa ou nos EUA. Corrida é a “oportunidade” da vida em um país tão pobre. Mas eventos como a Great Ethiopian Run, uma das maiores provas do mundo e a maior da África, começa a fazer fortalecer esse mercado.
O evento que acompanhei era menor, de menor importância no que diz respeito à premiação e competidores. Reparem na linha de chegada que não há nada… Nem pórtico, nem cronômetro, nem metragem oficial, nem patrocinadores. É a corrida-raiz, é um rabisco total!
Uma curiosidade, sobre a qual já tinha lido, é que por causa da altitude local (cerca de 2.400m) vale mais quem ganha, não necessariamente o ritmo. Tanto é que até agora não sei quanto e quão rápido correram.
Na chegada ganhavam uma água (quem quisesse) e uma laranja. Nada de kit. Uma camiseta azul e nada de medalha ou isotônico. Não havia – reforço – patrocinadores. Era tudo bem simples, como o era nos anos 80 e 90 no Brasil, parecido com o que é ainda em muitas cidades pelo interior do país.
Ao contrário do Quênia, se engana quem pensa que há muitos corredores na Etiópia que não sejam aqueles que vivem ou querem viver disso. Mas há um crescimento da massificação da corrida. Mas no meio da multidão não vi gadgets (monitores de FC e GPS, por exemplo. O Ed que vive na Etiópia há 7 anos ainda não viu um monitor até agora e os celulares do tipo smartphones são raros, bem raros), seu baixo número parece ter mais a ver com menor desejo do que com condições. O povo etíope parece conviver bem com pouco.
Quando comecei a ver todo o evento achei que bateria uma vontade de participar. Mas preferi ficar vendo. Eu e muita gente. Não havia qualquer controle, a polícia parecia mais assistir do que auxiliar. A verdade é que o etíope médio sabe que o país é bom na corrida, o que é diferente de ser apaixonado pelo esporte.
Eles são apaixonados mesmo é pelo futebol.
Nos próximos dias tento falar mais sobre treinamento.
Fazendo um resgate no tempo, quando e como surgiu aquele estalo, mais ou menos assim:
– Por que não fazer uma viagem para a Etiópia ou Quênia???
– Para onde eu ainda poderia ir a fim de acrescentar conhecimentos???
– Gostaria de aprender algo diferente em um lugar diferente!
– De onde saem os melhores fundistas???? É para esse lugar que eu gostaria de ter uma experiência única!
Em suma, Balu:
Quando,
Como e
Onde se deu o início do início (Que tenha sido até mesmo em sonhos!) de tudo isso que você vivenciou na Etiópia???
Essa minha pergunta tem um Grande Q de Curiosidade!
Neste dezembro próximo eu completarei, entre treinos e provas, 6 anos de Corrida de Rua e eu NUNCA ouvi relato de pessoas – isso inclui gente de todos os tipos que tem recursos financeiros para viagens ao redor do Mundo – que tenham planejado uma viagem com fins de aprendizado dentro de um modelo como você fez!
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Nesta reportagem da CR de 2012 narra a história de um corredor que fez isso. http://revistacontrarelogio.com.br/materia/treinando-com-os-quenianos-no-quenia/
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Muito legal….na expectativa pela continuação
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Muito legal essa viagem, cara, excelente pauta, parabéns
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[…] de chegar ao país e adiarem em algumas horas a sessão de treino para que assistíssemos a uma corrida…, era hora de […]
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[…] como falei nos outros textos (aqui, aqui e aqui), a verdade é que eles correm diferente nos treinos leves. Na verdade eles correm, […]
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[…] Ao final dos 3 minutos de trote, acabados, vem a surpresa: mais um tiro de 2 minutos. E aí, sim, fomos aos 15-20 minutos de calistênicos e alongamento dinâmico antes de um alongamento estático mentiroso conversando sobre o desempenho deles na competição de domingo. […]
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