Outra Ode ao Split Positivo

Ontem falei brevemente de como (mais) números da Maratona de Chicago vêm dar suporte à ideia de como o split POSITIVO, ou seja, a primeira metade da prova MAIS veloz que a segunda, seria a MELHOR abordagem estratégica aos maratonistas amadores.

Escrevi no Recorrido já 3 vezes sobre isso (aqui, aqui e aqui) explicando que é uma questão de fisiologia, assim, nossa base de preferência pelo split deveria ser sempre o tempo de esforço e não a distância da prova.

A imagem abaixo distribui como os homens (em azul) e as mulheres (vermelho) correram as provas de Chicago (gráfico de cima) e a de Berlim (o de baixo). A linha preta é o ritmo médio final. Quando o ponto está abaixo dela, o atleta está mais RÁPIDO que sua média. Acima dela, mais lento.

Há um padrão bem claro: homens são mais agressivos desde o início, isso é mais comportamental que fisiológico. Outro padrão observado: mesmo os melhores corredores (linha tracejada, que obtêm os melhores tempos, que dão índice para a Maratona de Boston) fazem split positivo, mas de maneira menos agressiva.

O QUE BOSTON NOS REVELA

Observando o padrão desses melhores e também dos poucos que fazem split negativo em Buenos Aires (falei disso aqui) vemos que correr split negativo, conservadoramente, produz tempos piores. E talvez a melhor informação: a 1ª metade deveria ser cerca de 2% mais veloz que a final. É uma diferença tênue, que faz com que a variação máxima de velocidade entre os melhores seja de meros 7%, enquanto os mais lentos variam cerca de duas vezes mais (13%). Basicamente ser conversador te faz ficar aquém. Sair forte te faz quebrar mais feio.

Como já disse antes, fazer a segunda metade mais rápido virou um sonho que é tolo por parte do atleta e até arrogante por parte do treinador. Tolo por parte do corredor porque se você terminou acelerando, mais rápido que a média, acredite, você errou. Aceite que dói menos. E chega a ser arrogante ou presunçoso o treinador achar que uma mísera parcela (5% dos corredores de Chicago e 13% em Berlim, uma das provas com mais splits negativos) saberiam como correr. De duas uma: ou não se consegue ensinar (culpar o atleta é muito feio) ou está negando o que a realidade tenta nos mostrar.

 

Maratona é split positivo. Leve, agora sabemos ser de cerca de 2%, mas é positivo.

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15 pensamentos sobre “Outra Ode ao Split Positivo

  1. Julio Cesar disse:

    Pra um corredor com um pouquinho mais de experiência não é nada difícil fazer split negativo, basta segurar no início.

    Mas como você bem mostrou, simplesmente não vale a pena em termos de resultado final, porque se chegou acelerando é porque tinha muita coisa ainda pra deixar na pista.

    Não dá pra recuperar o tempo perdido quando se sai lento demais.

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  2. Rafael disse:

    “Há um padrão bem claro: homens são mais agressivos desde o início, isso é mais comportamental que fisiológico.”

    podemos dizer que a mulher corre melhor a maratona do que o homem?

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  3. Pedro Ayres disse:

    Serve para qualquer distância de meio-fundo em diante, não?

    Acho que é mais medo do que estratégia (“e se eu não completar? e se eu passar mal?”). O “coach”, que não quer se comprometer, deixa o cliente com essa abordagem conservadora. Saem todos felizes com seus respectivos trocados no bolso e medalha no peito. E la nave va.

    Aliás, o que você acha do pessoal que segura o ritmo em treino de tiro? É de cortar os pulsos ou comer grama? Acho que é a mesma coisa, medo de arriscar. Se o coach disse pra fazer tiros de 400m a 4:30 (?), pra que arriscar tentar ser melhor?

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  4. “E chega a ser arrogante ou presunçoso o treinador achar que uma mísera parcela (5% dos corredores de Chicago e 13% em Berlim, uma das provas com mais splits negativos) saberiam como correr.”

    Poderia dizer que chega a ser arrogante e presunçoso supor que uma dieta LCHF, feita pela minoria da população que quer emagracer é o que funciona, sendo que grande maioria da população que quer emagrecer segue a dieta HCLF indicada pelas diretrizes nutricionais vigentes ??

    Balu, o dificil nessa questão do split positivo/ negativo é provar/ comprovar qual é o melhor. Esse argumento da maioria não faz nenhum sentido, vc sabe disso…

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    • Danilo Balu disse:

      Uma das coisas feitas com sucesso no esporte é replicar aquilo que funciona. Sempre foi assim. O paralelo com nutrição simplesmente não funciona porque a nutrição faz o oposto, define uma abordagem sem considerar que ela funciona ou não.
      É arrogância ou presunção um treinador achar que o que é feito pela esmagadora maioria E pelos melhores, todos com skin in The game, é errado e aquilo que ele propõe sem base na Fisiologia é o certo. Como disse, no esporte vc observa o que faz os melhores, replica e tenta aperfeiçoar. Maratona tem mais de 100 anos.

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      • Pow Balu, outro dia vc disse que não poderiamos tentar replicar o que os profissionais fazem (“os melhores”) pois fisiologicamente é diferente. Eles correm em perto de 2h e a maioria dos amadores em mais de 3hs. Realmente faz sentido. Agora, podemos ou não tentar replicar a estratégia deles??

        Apenas como curiosidade, o WR tem split negativo (não encontrei os splits dos 10 melhores tempos que era o que queria ver e seria mais justo)
        WR de Maratona -> https://trackandfieldnews.com/index.php/category-features/3047-dennis-kimetto-2-02-57-marathon-wr-splits
        _______________________________________

        PS. Semana passada fiz meu melhor tempo em Maratona com split positivo, a segunda metade 1,39% mais lenta, ( 1m13s). Acabou ficando mais lenta pois esquentou um pouco, o bloco que ia coeso até os 25km se desfez e corri meio que sozinho depois dos 28, e era a parte mais dura da prova. O meu ponto é que se eu tivesse mantido o ritmo da primeira meia meu tempo final seria 1m13 mais baixo e o splt constante… ( Não saí forte mas tbm não sai muito conservador, Depois dos 40km tbm não sobrou gás pois não consegui acelerar, apenas os ultimos 300-400m foram um pouco mais fortes)

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      • Danilo Balu disse:

        Mas não devemos fazer tudo o que eles fazem. Os melhores maratonistas do mundo fazem negativo e correm em 2h00. Os melhores do mundo nos 50km fazem pouco menos de 3h00 e fazem positivo. Não é só imitar encarando o esforço como distância ignorando o tempo de esforço. A fisiologia responde ao tempo, não à distância. Essa é um medida indireta.

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    • ciro violin disse:

      “”Pow Balu, outro dia vc disse que não poderiamos tentar replicar o que os profissionais fazem (“os melhores”) pois fisiologicamente é diferente. Eles correm em perto de 2h e a maioria dos amadores em mais de 3hs. Realmente faz sentido. Agora, podemos ou não tentar replicar a estratégia deles?? “”

      Acho que entendo o que o Balu quer dizer no quesito quando seguir e quando não seguir o que dá certo, no caso dos profissionais.

      Que se vc seguir o que dá certo, imitando o que os profissionais fazem, também dará certo, mas apenas se vc seguir o conceito todo deles.

      Não adianta não ter as mesmas prioridades dos prós quanto à alimentação, dedicação, locais dos treinos, cultura no esporte, e tentar fazer a mesma estratégia na prova, pois vc estará apenas copiando uma parte do todo.

      Mas se vc copiar tudo, desde dedicação, alimentação, ritmo, tiros, sono, etc e tal, fazendo como fazem, poderá aplicar o mesmo tipo de estratégia na prova que a probabilidade de dar certo é maior.

      Se vc não fizer nada disso, melhor seguir o que a maioria dos amadores fazem, desde prioridades, treinos, tiros, alimentação e estratégia de prova, que a probabilidade de dar certo será maior

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  5. Marcos Paulo disse:

    Dica interessante Balu, valeu!!!

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  6. Nishi disse:

    Eu ainda acho que essa discussão sobre o split um pouco besta, como se ele fosse um objetivo em si. O objetivo não é simplesmente ser mais rápido? Os splits, pra mim, são só uma consequência. Serve para análise do(s) resultado(s) alcançado(s), mas perde relevância, pra mim, quando vira objetivo a ser alcançado, comemorado, sei lá o que…

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  7. Hélio Shiino disse:

    “Escrevi no Recorrido já 3 vezes sobre isso (aqui, aqui e aqui) explicando que é uma questão de fisiologia, assim, nossa base de preferência pelo split deveria ser sempre o tempo de esforço e não a distância da prova.” (Danilo Balu)

    Eu também penso o mesmo!

    ====================
    Alguém se prepara para a chegada da Morte???
    Calma, não estou aqui para tecer Divagações Filosóficas!
    Explico.

    Independente da distância, eu acho que o momento em que se dá a “quebra” (estou falando e, só poderia ser, baseado no Split positivo), é muito importante não “jogarmos a toalha” no primeiro extremo desconforto!

    Quando os músculos das pernas estão “queimando”, quando puxamos o ar e ele não vem,…

    Neste período crítico, nos vemos diante da chegada da “Morte”!
    Pelo menos isso é o que eu sinto.
    Mas tenhamos muita calma nessa hora!
    Ela chega perto mas não te “leva para o andar de cima”!
    Mas chega muuuuuito perto!

    Aumente uns 5 segundos no seu Ritmo por uns 5 segundos.
    Você ressuscitará!
    É incrível mas acontece!

    Literalmente você sente os pulmões tendo se expandido!
    Você sente o seu diafragma mais forte!

    Passado este período de reanimação, volte a diminuir o seu Ritmo em 5 segundos.
    Fique nesse ir e voltar até quando der.
    Quando não der mais não quer dizer que você morreu!
    Você apenas não conseguirá fazer aquele esforço maior.
    Sustente no que você conseguir até o final!

    A cada treino você se especializará em “subir, pouco a pouco, o sarrafo”!
    É um processo muuuuuuito lento!
    O Ritmo Ideal (um valor variável progressivo ao seu treinamento) será o resultado de treinos desconfortáveis!
    (Nada de GPS, nada de frequencímetro! É no puro minimalismo!)

    Você passa por vários momentos de desespero e pânico!
    Quando você saberá que passou por essa experiência???
    Quando você grita silenciosamente.

    Nos treinos:
    – Eu não aguento mais! Eu preciso parar!
    (Mas NÃO pode e NEM deve parar!)

    Na Competição:
    – Durante o trecho de descomunal desconforto você diz: “Eu NUNCA mais voltarei a participar de uma competição!”
    (Ao cruzar a linha de chegada você diz para si próprio: “Parar que nada! Preciso treinar mais para melhorar esse meu tempo ridículo!”)

    Até umas 2 semanas atrás eu não conhecia uma palavra que traduzisse esse sentimento muito louco do treino/corrida.
    Encontrei essa palavra por acaso.
    Ela se chama Estâmina!

    “Aquilo que não me mata, só me fortalece” (Friedrich Nietzsche)

    Curtido por 1 pessoa

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