Tem, mas provavelmente é bem diferente do que você imagina…
Vou arriscar um palpite: saia perguntando entre treinadores de corrida de assessorias se um maior peso do atleta está correlacionado positivamente com ele sofrer mais lesões (mais peso, mais lesões) e acredito que mais de 80% diria que sim. Mas… estaria mesmo!? Quando olhamos na literatura não encontramos essa correlação. *Trato disso em O Treinador Clandestino (versão impressa clicando aqui).
Aliás, o contrário parece ser verdadeiro: atletas mais leves têm mais lesões. Um texto interessante no The Washington Post agora retrata que atletas com baixo IMC inclusive demoram mais para se recuperar de lesões por estresse repetitivo (variações da canelite para o amigo corredor entender).
A primeira ideia parece simples de explicar… Atletas mais pesados geralmente treinam (e conseguem correr) menos quilômetros e em uma velocidade menor, e isso gera menor carga mecânica. Já a ideia do IMC baixo ser um problema exige explicar outras nuances.
O IMC é limitado para se aplicar em indivíduos (apesar de poder ser interessante quando usado com populações) porque junta em um número duas variáveis: massa muscular e massa gorda. A saúde óssea sabemos hoje ser muito dependente de nossos hábitos de atividade física, já a massa muscular é por sua vez muito dependente desta (e não da nutrição, como muito nutricionista gosta de acreditar). Por sua vez, a massa de gordura é algo meio morto atleticamente falando, gera “apenas” carga. Para uma melhor saúde óssea precisamos fazer exercícios, o que por sua vez gera ganho de massa muscular, e causa pouco impacto na massa gorda.
Podemos levantar a hipótese então que essas pessoas de baixo IMC (os leves) que se machucam são aquelas de pouca massa gorda (que não tem muita relação com exercício) e que também fazem pouca atividade física. Assim fica claro entender que não é o peso baixo per se que aumenta a susceptibilidade de se machucar ou atrapalhar na recuperação, como dito no artigo do jornal, mas apenas reforça que é massa muscular que é um indicativo da saúde óssea.
A pessoa pode ser sedentária e ter pouca gordura E pouco músculo. E esses parece que irão lesionar seus ossos não por serem leves, mas por terem pouca massa muscular. E, por incrível que pareça, as pessoas de alto IMC (as que seriam gordas) teriam 2 fatores protetores: elas são um pouco mais fortes (o corpo ganha músculos com o hábito de carregar mais peso) e quando elas se movimentam, o fazem em velocidades e volumes menores. A gordura aqui acaba sendo um protetor dos ossos (e é bom destacar aqui porque a gordura pode proteger os ossos, mas no âmbito geral mais gordura está correlacionada com menor longevidade).

Uma balança prática assim que medisse nossos músculos faria mais pelos ossos do que manter o peso baixo…
O que podemos concluir disso?
Basicamente a limitação do IMC está no fato que ele não difere o que é muita/pouca massa adiposa (o que faz a pessoa poder ser gorda ainda que não pesada, os falsos-gordos) e o que é muita/pouca massa muscular. Mas talvez a melhor lição que fica é que se você quer proteger os seus ossos (hoje e no futuro, leia-se: terceira idade) não basta olhar para a balança, você precisa olhar principalmente para a sua rotina de movimento (o mais importante) e para os aspectos nutricionais (uma dieta que ofereça condições de ganho de massa óssea DESDE QUE esteja treinando). Não é questão de peso, mas de músculo!
Se você se interessa por esses mitos da corrida ou outros aspectos das lesões (alongamento, tênis, pronação…) reforço o convite para ler meu livro O Treinador Clandestino (versão impressa clicando aqui) onde trato desse assunto mais profundamente.
Danilo Balu
muito bom
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O fato é que para saúde óssea, o melhor é ser pesado. Quanto mais solicitado (exercício físico de impacto, não vale natação) e principalmente fazendo os ossos suportarem peso, melhor. isso explica até porque osteoporose em idosos é mais comum em magros do que em gordos. O gordo tem sempre mais carga para carregar inclusive ao andar no dia a dia. Pare de usar um membro, por exemplo alguém que fique muito tempo imobilizado sem pisar. Em alguns meses, ou menos até, a densidade óssea dos ossos daquele membro diminui muito! Tanto faz se é gordura, músculo, tendo ossos ativos e carregando peso, aumenta a saúde óssea. No artigo há 2 sugestões: aumentar a massa óssea e depois o Cucuzzella fala que deve aumentar a gordura para saúde hormonal das atletas jovens, isso seria o fator crítico. Acho que o corpo não foi feito para aguentar tanto tranco, teria muito mais fatores aí escondidos. Nem todos tem ossos que aguentam um volume X de treino, ou houve um aumento brusco na intensidade e volume. Isso deve estar impactando aí também. Teria que ver detalhes do estudo.
Só completando…de setembro pra cá tive 3 fraturas de stress…1 no pé, uma na costela e agora outra no pé rsrsrs.
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