Leituras de 6a Feira

Quando fui me decidir fiquei em dúvida se deveria era prestar vestibular para Fisioterapia. Quem me conhece sabe que acho a fisioterapia esportiva algo muito próximo da boa-vontade, da boa-fé, beirando o curandeirismo. Há MUITA gente competente, não me entenda mal! Mas ela lida e é operada por um ser que é arrogante, demasiadamente confiante, irracional nas decisões, tem péssima memória e tem a mania de buscar explicações de sistemas complexos por respostas simples: o ser humano. Junte-se a isso o ENORME conflito de interesse de você ter que dar uma resposta ao seu cliente mesmo quando não a tem. Lembre que você não tem o incentivo de poder falar “não sei” porque quem te sustenta vai buscar outro profissional que tope dizer que sabe, mesmo sem saber… então é comum que o profissional tente inúmeras abordagens mesmo quando ele não sabe! Ele É ENSINADO e APRENDE a quase NUNCA dizer que não sabe, mesmo quando… não sabe! Lesões na corrida (ou em qualquer outro esporte) têm um certo padrão deduzível de ocorrências. Mas há as que fogem do comum. Algumas dores e problemas vêm e se vão sem sabermos ou entendermos os motivos, mas arriscaremos palpites, que são NADA mais do que enormes chutes. Um texto de Alex Hutchinson é brilhante porque fala do tratamento de lesões usando a “abordagem da TV quebrada”, que não é muito diferente do que fazem MUITOS hoje na Fisioterapia. Você vai, dá uma pancada na TV para ver se o sinal melhora. Ou seja, quando há uma dor, você faz algo (você aprendeu na profissão que você TEM que fazer algo para agradar o cliente). Esse tratamento muitas vezes não serve para nada, o descanso faria o MESMO por você. Só que às vezes ele “dará certo” por pura sorte (descanso!) e quando não resolver, você insiste inserindo outro tratamento (dessa vez uma pancada no controle remoto da TV). Trocando até uma hora dar certo. A Fisioterapia é muito disso. Você trata um sistema muito complexo (nosso aparelho locomotor, nosso organismo) na base da tentativa e erro sem saber o que funciona/ou ou não. Aqui o belíssimo texto do Hutchinson! *que nenhum fisioterapeuta fique bravo, primeiro porque falo da Fisioterapia Esportiva, segundo porque conheço ótimos profissionais e terceiro porque quem não enxerga essa prática rotineira que MUITA gente faz está querendo fechar os olhos a uma prática do mercado.

Off-topic: A cultura do alto desempenho levaria… a uma baixa taxa de sucesso! O que importaria seria haver algum propósito na trilha! Porcamente fazendo um paralelo: correr buscando recordes pessoais (sub-qualquer-coisa) têm prazo de validade, correr por algum motivo outro talvez não.

Abaixo vai o belo vídeo da edição italiana da Wings for Life, uma das provas mais legais que existem no mundo!

7 pensamentos sobre “Leituras de 6a Feira

  1. Dacol disse:

    Não basta tretar com o CRN, tem que tretar com o cref, coffito, crea, crm, creci…..hhahahah

    Ótima analise, Balu.

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  2. claudio disse:

    Ta com medinho dos Fisios porque viu que tem uma galera PBE, neh?

    Rs!

    Parabéns pelo texto, e pode provocar que a resposta vem. Aliás, tens toda razão, muitas vezes é desse jeito mesmo.

    Abraços

    Claudio

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  3. Bom quando arrumei uma protusão discal na lombar e o médico queria operar foi uma fisioterapeuta que me ajudou a escapar da faca com acupuntura e RPG;

    É certo que a muitos métodos dos fisioterapeutas não são comprovados cientificamente mas o método científico também tem suas limitações. Não dá para fazer teste duplo cego de acupuntura, o máximo que eles conseguem é comparar com agulhas espetadas ao acaso mas aí a pessoa que administra o tratamento sabe que é placebo, o que não ocorre com os testes de medicamentos. E o que seria um “placebo” do RPG??? Ou seja, é perfeitamente possível que um tratamento seja eficaz mas que não seja possível obter uma prova científica cabal de sua eficácia.

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    • Danilo Balu disse:

      Sim sim!! Meia de compressão sofre disso…. como comparar com quem sabe que não está usando?

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    • claudio disse:

      Ou seja apenas a história natural da doença ou da dor, neh Daniel? Protrusões discais e, principalmente, hérnias extrusas, podem ser reabsorvidas. Alíás, nem dá pra ligar a protrusão à dor (exceto em caso de protrusão maciça, comprimindo intensamente as raízes nervosas). Você poderia ter a protrusão, na imagem, muito antes de ter desenvolvido dor, e ela, em si, não ter relação alguma com a dor.

      Essa história de muitos métodos não são comprovados é verdade, porque esses mesmos métodos não funcionam. Uma coisa é não ter evidência, outra coisa é ter evidência que não funciona, e essa última situação que acontece em muitas situações. Por outro lado, o RPG não tem muitas evidências, mas me diga, o que é RPG? São somente as posturas? São as posturas associadas a inúmeras outras técnicas que, comprovadamente, funcionam? As coisas vão ficando mais complicadas.

      Daniel, sugiro a leitura desse texto: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19822008

      E em relação à afirmação de ser possível “não se obter prova científica da eficácia de um tratamento”, saiba que quem estuda mesmo isso (eu estudo só um pouco) afirma categoricamente que essa afirmação é bobagem.

      Confie mais na ciência. Ela simplifica os processos, elimina as condutas inúteis e garante as efetivas. Traz economia de custos e de tempo. Separa aquilo que acontece daquilo que é crença ou fixação técnica.

      Abraços.

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      • Claudio, no meu caso dois médicos disseram que a dor não sumiria naturalmente (como de fato ocorre muitas vezes) e que a cirurgia era recomendada. Só não operei porque sou medroso e covarde e decidi tentar qualquer coisa antes de entrar na faca.

        Não sou médico ou profissional de saúde mas já estudei um bocado de filosofia, inclusive epistemologia e, acredite conheço bem as limitações do método científico. Mas agradeço o link e vou ler.

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