Leituras de 3a Feira

O poder do placebo é incrível e já é muito bem compreendido, ainda que não em sua totalidade. Não há erro quando um profissional faz seu uso sabendo que é apenas um placebo. É assim com BCAA, meias de compressão, cápsulas de sal, macumba, feng shui, alongamento, kinesio tapingAqui texto recente do The New York Times falando de experimentos que desafiam o racional.

Leitura Obrigatória - BLOGLeitura Obrigatória: uma das fotos mais famosas da história do atletismo e dos Jogos Olímpicos é a do protesto dos Panteras Negras no pódio dos 200m na Cidade do México 1968. Você sabe a história do 3º atleta naquela cena? Sua história é INACREDITÁVEL. Leia leia leia!

Aqui uma matéria (em italiano) no La Repubblica sobre a obsessão dos japoneses com o Ekiden, a maratona em revezamento deles. Essa deve ser uma prova mais do que especial para se assistir ao menos uma vez na vida! *o que pouca gente sabe é que a equipe feminina da USP já participou desse evento na década de 90. Porém, um professor da USP queria mais! Então ele convidou atletas profissionais (nenhuma era da comunidade USP) burlando as regras que exigia estudantes da instituição. Esse professor foi então ao Japão fazer turismo com suas amigas (nenhuma estudante!). Esse episódio resultou na exclusão da USP (que ia com TUDO pago) entre as equipes convidadas. O que aconteceu com este professor? Continua com estabilidade na USP, recebendo um salário gordo e TODO mundo sabe quem ele é e o que ele fez.

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Durante a transmissão da Maratona de Chicago o Sergio Rocha perguntou quem era “o altão no meio do pelotão da elite”. Era o americano Luke Pudeskra com seus 1,94m, altura muito rara entre grandes maratonistas. É uma conclusão meio senso comum que altura “demais” atrapalha na corrida. Depois desse episódio, a Runner´s World escreveu uma matéria bem bacana listando outros 15 profissionais de destaque que têm mais de 1,83m (6 pés). Sim, altura “atrapalha”, mas é diferente do que parece.

Depois disso, Alex Hutchinson escreveu um ótimo texto tentando explicar e encontrar as razões. O peso é o primeiro argumento tentador, afinal, pessoas mais altas são geralmente mais pesadas, e peso é “tudo” na maratona e na longa distância. Segundo, e nunca tinha pensado nisso, pessoas com mais de 1,93m são mais raras. Estatisticamente falando, em uma amostragem de 100 americanos, você não encontrará nenhum (menos de 1) americano com mais de 1,83m E tendo entre 20 e 29 anos. Isso me lembra uma estatística impressionante que diz que 1 em cada 7 de TODOS os americanos com mais de 2,13m (7 pés) jogam na NBA!

Enfim, leiam os textos, são bons! Mas daí chegamos ao Brasil e a nossa tola insistência cega em igualar a linha de partida

Quando eu ainda estava na ASICS, no segundo ano da Golden Four houve uma enorme pressão para que criássemos as medalhas Top 100 femininas. As medalhas não eram masculinas, eram para os 100 primeiros. A solução (contra minha vontade!) foi criar o Top 20 somente para elas, porque no Brasil elas são ainda apenas 25% entre os concluintes. O discurso de quem cobrava era o mesmo: mulheres são mais lentas.

Em uma corrida, queira a/o feminista ou não, vence o mais rápido, independente dele ser homem ou mulher. A criação do Top 20 foi a entrada de uma cota! Tentar relativizar esse tipo de premiação extra é impossível porque há os mais velhos, os muito altos, os muito fortes, os muito gordos, os geneticamente mais lentos, e por aí vai! O top 20 foi um remendo porque na pressa, as pessoas não entendem que o esporte de competição por si só, em sua ESSÊNCIA, é um diferenciador entre os mais e os menos capazes. Negar isso é negá-lo!

Problema resolvido? Não! Há ainda muita mulher que reivindica a medalha até top 100. São elas igualitárias? Jamais. Não entra na cabeça delas que um cara de 55 anos com 1,95m não tenha quem o ”defenda”.

18 pensamentos sobre “Leituras de 3a Feira

  1. marcosvafg disse:

    Eu acho que existem lugares/espaços/situações onde a diferenciação seja necessária/correta. Mas como certeza isso não inclui uma corrida de rua com inscrição cara, kit high-tech e milhares de postagens em rede social sobre a grande quebra do “seu recorde pessoal”.

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    • Julio Cesar Kujavski disse:

      Em uma corrida de rua com premiação em dinheiro, digamos, até o décimo colocado, é bem mais fácil pra uma mulher conseguir ganhar uma graninha do que um homem.
      Em algumas corridas pequenas com troféus na faixa etária até a minha mulher que nunca correu na vida conseguiria subir no pódio.
      Mas eu seria contra ela postar foto deste pódio nas redes sociais.. he he he

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  2. Estabilidade não protege contra todo tipo de demissão.

    A questão é que talvez na época a lei protegesse mais. Hoje acredito que não. No mínimo uma punição ele receberia.

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    • Danilo Balu disse:

      Sabe qual hj a ÚNICA diferença? É que a Internet torna a vigilância mais fácil… Mas essa pessoa não é só um professor… Ele é de um cargo mto alto.

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      • Fabio Pierry disse:

        hahahaha contei esta pilantragem a uns amigos semana passada!!!

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      • Não foi isso apenas que mudou (a Internet). O caso é de 1995. A Lei 8112, de 1990, mudou várias vezes a partir de 1997 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8112cons.htm

        Não tenho legislação do estado de SP, mas a legislação federal (que em parte deve se aplicar à USP também) você encontra aqui e tem bastante coisa pós-1995:

        Clique para acessar o legislacao.pdf

        Quanto a ele ser de um cargo muito alto, o que você quer dizer com isso? Ele aprontou mais e graças a isso subiu? Ou ele parou de aprontar depois da vergonha deste caso e graças a isso subiu?

        E que texto lixo e nada a ver aquele da linha de partida 🙂 Pessoal da esquerda escreve muita bobagem sobre o tema também mas neste caso parece uma bobagem da direita. A ideia, pelo que entendo, não é querer “igualdade” na linha de partida, mas apenas reduzir um pouco as desigualdades. E isto acontece, pelo pouco que entendo de um esporte bem chato para mim, na NBA. Não é verdade que lá os piores times tem prioridade para escolher os melhores jogadores jovens?

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      • Danilo Balu disse:

        O que eu quis dizer desse professor é que AINDA fazendo a deles, ele continuou subindo.. . Triste ver que pode fazer isso e continuar a ser promovido ganhando ainda mais.

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    • adrianapiza disse:

      Acho que tem 2 eventos misturados nessa história. A equipe feminina da USP participou do EKIDEN universitário desde 1983. Quem coordenava era a EEFE-USP. Em 1990 um professor de lá resolveu levar as meninas “biônicas”, e ganharam a prova! Depois disso, essa pessoa não teve mais interesse na participação da USP no EKIDEN. Passou a bola para outra unidade, o CEPEUSP. De 1991 até 1994 tudo correu como deveria. Mas em 1995, outro professor, teve a mesma idéia, e tentou fazer o mesmo de 1990. Porém as meninas da USP foram mais rápidas, denunciando o fato e evitando que isso fosse até o fim. Esse professor disse “se não vamos do meu jeito, com as meninas que eu quero, ninguém vai” e recusou o convite feito pelos japoneses para aquele ano de 1995. A que ponto pode chegar o ego de uma pessoa, recusando o convite de levar uma equipe da USP comTUDO pago para participar de um EKIDEN (exatamente no ano em que se comemorava o centenário do tratado de amizade Brasil-Japão).
      Portanto, não foi uma vez, foram 2. Não foi um professor, foram 2. Não aconteceu NADA com nenhum. E te garanto, se hoje se repetisse, tenho certeza, ninguém seria punido!
      Em 1999 esse EKIDEN deixou de ser internacional. Portanto, a USP poderia ter participado ainda em 95, 96, 97 e 98!!

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      • Adolfo Neto disse:

        E eu digo: acho que hoje aconteria punição. Demissão? Duvido. Mas punição sim. Na verdade acho que a pessoa nem teria coragem de fazer.

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  3. Danilo,

    Acho que há um dado incorreto no teu texto. No original do Hutchinson, a altura para a qual há menos que 1 americano para cada 100 é 6 foot 4 inch, o que dá 1m93, e não 1m83.
    abs
    Sergio

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  4. “Em uma corrida, queira a/o feminista ou não, vence o mais rápido, independente dele ser homem ou mulher.”

    Mas quem criou este e quase todos os esportes? Segundo o Christopher McDougall (nada científico ou muito histórico, mas acho que faz sentido) os esportes competitivos foram criados para que os homens fossem melhores.

    Ele tem uma teoria mais interessante ainda: se em um esporte os homens são muito melhores do que as mulheres, este esporte não representa uma quantidade razoável de habilidades naturais necessárias. É um esporte artificial demais. Exemplos: basquete, futebol, corrida.

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    • Julio Cesar Kujavski disse:

      Divagando:

      Na natureza cabe ao macho competir pelo direito de ter uma fêmea.

      E cabe à fêmea escolher o macho que se sai melhor na competição (seja ela de expôr a melhor plumagem, fazer o ninho mais bonito, derrotar adversários, ser o mais rápido, trazer as pedrinhas mais bonitas (tem um passarinho que faz isso), etc..

      Por isso as mulheres são bem menos competitivas, psicologicamente falando. elas não têm tanta necessidade de competir como nós, homens.

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      • Julio,

        OK.

        Outra divagação é: como era essa competição?
        Hoje as competições tem formatos bem específicos, variando de país para país.

        Por exemplo, o melhor jogador de futebol americano do Brasil não deve ganhar muito.

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  5. Rodolfo Del Valle disse:

    Balú, pelo seu raciocínio, homens e mulheres “competem” em condição de igualdade, o que de fato sabemos que não é real, seja na corrida ou em outros diversos aspectos.
    Além do que acho legal para estimular a competitividade entre as mulheres e, não podemos generalizar e achar que todas elas não são.

    Abs

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    • Danilo Balu disse:

      Eu não acho nada disso! Se achasse, defenderia apenas uma categoria! E eu nunca disse isso… Mas acho que o top 100 sim deveria ser sem gênero.. Outros eventos fazem isso (Comrades, Western States…), é normal! E em ambos eles não tiram a categoria feminino.

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  6. adrianapiza disse:

    “Tentar relativizar esse tipo de premiação extra é impossível porque há os mais velhos, os muito altos, os muito fortes, os muito gordos, os geneticamente mais lentos, e por aí vai!”

    Depois de ler o livro do David Epstein quase me convenci de que não deveríamos separar homens e mulheres em competições! A diferença entre eles pode ser vista como a diferença entre uma pessoa com alguma diferença ou mutação genética que confere uma vantagem e uma pessoa sem essa alteração, ou um muito gordo e um muito magro e por aí vai….Não existe até dificuldade em certos casos e a análise de nível de testosterona para dizer se é mulher? Quer dizer…nem isso consegue-se definir muito bem…

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