De óleo de coco, SBEM, Nutricionista patrocinada, desonestidade e o incompetente do bem

Semanas atrás, no programa Bem Estar da TV Globo, uma nutricionista resolveu falar sobre óleo de coco. Em sua fala desastrada e infundada ela afirmou que: “(…) o óleo de coco é rico em gordura saturada e a gordura saturada (…) aumenta o colesterol. O óleo de coco ainda tem um problema que ele aumenta a inflamação. (…) E lembrando que o coco tem muitas calorias”.

CG6v2_-XIAEwZQvA entrevistada estava querendo dizer que os consumidores “deveriam preferir o óleo de canola ou o de soja mesmo”. O que a Nutricionista em nenhum momento deixou claro, é que ela é consultora de uma das maiores fabricantes mundiais dos 2 óleos (soja e canola). É muita desonestidade!

Mais do que a desonestidade, é a incrível desatualização de uma profissional que vai na principal emissora do país falar equívocos sérios quando o assunto é saúde. Após a veiculação, as redes sociais da programa foram inundadas de reclamações de leigos que pareciam entender mais do que a nutricionista. Vou pular a parte técnica explicando o porquê o que ela diz é um equívoco ou uma enorme conveniência, visto que ela é consultora de uma parte interessada. A quem interessar, leia aqui a resposta clara do Doutor José Carlos Souto a respeito. Se alguém me corrigisse como ele fez com ela, eu choraria por dias em posição fetal no meu quarto com a luz apagada.

Basicamente, MUITO resumidamente para não me alongar: óleo de coco tem muita gordura saturada, porém, vive na ignorância o profissional de saúde que acha que isso por si só é ruim em um alimento. Mas leia o texto! A surra que ele dá na ignorância é linda! (risos)

Depois do enorme erro da Nutricionista, você poderia imaginar a intervenção de alguns (muitos deles inúteis) órgãos, conselhos e associações vindo falar a respeito do assunto para acalmar a opinião pública. Tardou, mas vieram. E foram igualmente incompetentes no assunto, o que dá um sinal da gravidade do problema.

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), juntamente com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), soltaram em conjunto uma carta torta, meio preguiçosa, que é um arremedo, mas que chamaram de posicionamento oficial de ambas.

IMG-20150901-WA0015Uma das maiores críticas de quem discorda dos pontos levantados aqui no Recorrido, é que ele é um blog. É como se a qualidade do papel alterasse a veracidade do conteúdo. É a mania de se atacar o mensageiro, não a mensagem. Pois bem, novamente foi o blog do Dr. Souto (blog!) quem respondeu à carta manca dos doutores Alexandre Hohl e Cintia Cercato, que autorizaram um texto tão sem fundamento e mal escrito. Fosse eu os 2 doutores, além de chorar em posição fetal, eu correria para buscar e trazer mais evidências e referências para amenizar tanta besteira, porque o Dr. Souto apenas deu mais uma amostra de como associações e entidades que deveriam entender do assunto, pregam ignorância como se fossem papagaios repetindo aquilo que um dia já foi dito.

Bem resumidamente, “a SBEM e a ABESO não recomendam o uso regular de óleo de coco como óleo de cozinha, devido ao seu alto teor de gorduras saturadas e pró-inflamatórias”. Para elas, “o uso de óleos vegetais com maior teor de gorduras insaturadas (como soja, oliva, canola e linhaça) com moderação é preferível para redução de risco cardiovascular”.

Isso quer dizer que duas entidades que deveriam entender do que falam e tiveram tempo para escrever o texto E se atualizar, o que é mais importante, continuam nas trevas.

São eles que querem que busquemos quando estamos com sobrepeso!

*Leia aqui a resposta do Dr. Souto à nota desastrosa das entidades.

**a SBEM tem talento para falar bobagem do tema que ela pesquisa. Já falei aqui (e aqui também!) de como são tortos quando falam sobre diabetes e razões da obesidade.

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26 pensamentos sobre “De óleo de coco, SBEM, Nutricionista patrocinada, desonestidade e o incompetente do bem

  1. Como eu detesto o termo “incompetente do bem”… 🙂

    E é completamente inadequado neste caso.

    Ela (a nutricionista) pode ter sido, no máximo, “incompetente do mal”. Ela tentou enganar com essa estória de que gordura saturada e calorias tornam o óleo de coco uma porcaria, mas não conseguiu.

    Não acho que ela seja incompetente (no sentido de não saber que o óleo de coco não faz mal), muito menos que ela seja “do bem” (afinal de contas, ela sabia das ligações dela com a indústria do óleo de canola e mesmo assim aceitou ir a um programa de TV falar mal do óleo de coco).

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    • Danilo Balu disse:

      Te entendo, mas eu SEMPRE prefiro pensar (e acreditar!) que a pessoa é “apenas” mto ignorante. Conheço MTO treinador, por exemplo, que ACHA e espalha a informação de que tênis funciona ainda que pague pelos que ele usa.

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    • Danilo Balu disse:

      Ah! E ela explicou que não ganha salário nem dinheiro da empresa… Ou seja, sendo verdade, ela apenas é ignorante e não sabe do que fala.

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    • Denilson disse:

      Tenho a dizer duas coisas. Primeiro : Se este programa (Bem Estar) diz não faça , não coma, você deve fazer o contrario. Segundo : Entidades como esta SBEM dependem de pessoas obesas para sobreviver. Portanto é logico que ela vai indicar algo que engorde. Só faltou dizer que margarina é mais saudável que manteiga.

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  2. Sobre a SBEM, mais um caso de ligações perigosas com a indústria, como relatei aqui http://adolfoneto2.blogspot.com.br/2015/08/industria-farmaceutica-patrocina-evento.html

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  3. anaminarelli disse:

    Rapaz eu teria muita vergonha se fosse essa cidadã… ele “mata a pau”, com muita consistência… agora é inacreditável, um desserviço o que a globo faz nesse programa… e não é a primeira vez… já deram “bola fora” em relação as áreas de odontologia, fisioterapia… uma m…

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  4. Enio Augusto disse:

    Do tanto que já li de nutrição por aí, mesmo que a moça tivesse ligações com as empresas, acreditaria mais, a princípio, em puro desconhecimento.

    E na semana passada foram falar besteiras no Bem Estar da Globo sobre a dieta paleo.

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  5. Raquel Castanharo disse:

    Nossa, diz pra mim que a resposta do Souto chegou até a SBEM. Como mais linda!!

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  6. Sei lá, mas sempre que ouço Dr. Souto, paleo, low carb, vejo uma espécie de (talvez não seja a melhor palavra, mas enfim) fanatismo, sei lá.

    Estou pesando 61,5 kg com 1,75 de altura, como pão todas as manhãs, como doces, e meus exames podem ser considerados normais. Só tento não comer em demasia, troquei o almoço pelo treino.

    O que mais vejo nos comentários do blog do Dr. Souto são pessoas que tinham muito sobrepreso e emagreceram, mas uma pessoa que pesa mais de 100 kg vai emagrecer praticamente de qualquer maneira se todas alguma atitude.

    Como disse o Collor: O tempo é o senhor da razão.

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    • Danilo Balu disse:

      Nunca tome a parte pelo todo… Os comentários de lá, como de qq portal, tem mto lixo… Se atenha ao que ELE fala.. Assim como duvido que vc use comentário no UOL como fonte de informação. VC comer isso não é finalw de que seja o certo, mas sim que vc é de certa forma privilegiado. Ele é obcecado por evidência, preocupação essa que não existe na Nutrição.

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    • Julio, sou como você: tolerante a carboidratos em relação a peso. Sempre mantive meu peso mesmo antes de começar a correr (em 2011).

      Hoje faço algo entre lowcarb e paleo. Não sou nem 100% lowcarb (tenho minhas fases de comer mais carboidratos), nem 100% paleo (tem coisas da qual nem sempre me privo). Mas, se for para ficar próximo de algum padrão, o que se aproxima mais do que eu faço é paleo lowcarb. Ou seja, procuro comer comida de verdade restringindo a quantidade de carboidratos – sem contar gramas, apenas restringindo a quantidade e a qualidade. Evito tudo com trigo, aveia, cereais em geral. De vez em quando um pouco de arroz. Evito açúcar (mas ponho adoçante, que não é paleo) no café.

      Enfim, mesmo com todas essas restrições ao que eu faço (estou longe de ser um xiita ao seguir algo paleo ou lowcarb) vejo benefícios no que faço. Extermistas tem em todo lugar, como o Balu bem colocou. Mas duvido que qualquer pessoa que faça o teste de duas semanas http://philmaffetone.com/2-week-test/ não sinta alguma diferença.

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  7. Fábio Rocha disse:

    Eu acredito em desonestidade mesmo…… Se pesquisar pode ter certeza que alguma industria de óleo patrocina algum programa na rede globo ou vai patrocinar……….. Mesma coisa que a industria farmacêutica faz com os médicos……… Quem paga é a população…..

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  8. Salve Balu!tdo bom?
    Muito bom texto (como sempre :))…Ja leu ou conhece o blog do Dr Peter Attia ?(eatingacademy.com) Recomendo, em todos os topicos ele faz uma abordagem bem aprofundada, especialmente quando fala de colesterol. Abs!

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