A Imprensa-parça que corre

Há uma categoria de corredores composta por gente um pouco mais conhecidas porque elas escrevem sobre corrida em Revistas, Jornais, Portais e Blogs especializados. Elas padecem igualmente das fraquezas de ego que faz um trapaceiro cortar caminho, ou ainda da mesma cara de pau que tem um bandido-pipoca que tenta racionalizar o erro. Eles são tão queridos pelo mercado (e já explico o motivo) que até criaram uma categoria para mimá-los melhor, é a categoria imprensa. E lá o que mais tem é a imprensa-parça.

Imprensa-parça é aquela pessoa (jornalista ou não) que faz uso bem conveniente de seus textos obtendo benefícios pessoais em troca de alguns elogios em textos e redes sociais. Um dos artifícios mais recorrentes é fazer questão de demonstrar uma proximidade no âmbito pessoal com uma intimidade que chega a ser forçada, pouco profissional.

Chamou o maratonista de SoloRei? Eu já sei que é imprensa-parça. Elogiou atleta no Twitter e o copiou? Já sei que é jornalismo-parça. Fez elogios superlativos ao (ex-)gerente de marca esportiva? Eu já sei que está bajulando fazendo o papel de imprensa-parça. Postou foto de tênis novo que ganhou (nunca comprou) com a hashtag oficial do novo modelo de tênis da marca? Eu já sei que é o amigão da mídia parça.

Eu tenho um grande amigo que rebate todo jornalista conhecido com uma pergunta: é de graça?

tr7o47É óbvio que não é gratuito! A imprensa-parça é a 2ª profissão mais antiga do mundo! Na corrida também não se faz nada de graça! Nada é gratuito no mercado nem nessa vida. O problema é que não falta paladino (jornalista e blogueiro) na corrida bancando o representante dos direitos dos amadores. Só que é sempre mais honesto você sempre (SEMPRE!) deixar bem claro quem paga a sua conta. Do contrário, você é o mau caráter do jogo. Quando a imprensa-parça faz o papel de amigão tecendo elogios (a provas, tênis, gerente e atletas) em público e críticas no privado, ele faz assim porque recebe favores (mimos, viagens e cortesias). Nessa é o leitor do veículo quem faz o papel de enganado.

Eu tenho pavor, tenho medo de gente da imprensa que se diz isento. Eu não sou isento. Ninguém é isento! Eu tenho preço para tudo! Eu tenho minha agenda como cada um tem a sua. Negar isso é hipocrisia. Quando eu NÃO falava de tênis, é porque eu tinha quem me pagava para NÃO falar dele. Sempre acho mais honesto assim!

Mas a imprensa-parça faz o contrário, ele cobra e recebe (à vista ou a prazo) para falar tentando por um ar de independência. Pois quem trabalha nesse mercado sabe muito bem que a melhor coisa para a sua corrida não ter defeitos aos olhos da imprensa parça é simplesmente bajular quem tem microfone para falar mal dela. Exemplos não faltam. Conheço 3 parças que antes criticavam duramente uma empresa. Pois um foi patrocinado e agora só faz elogios, e outros 2 ganharam bons mimos e se silenciaram. Para sempre.

Já nas marcas esportivas, a melhor inovação para se fazer para um tênis ser “tão bom que mesmo novo ele parece que já está amaciado” é enviá-lo de brinde a quem escreve. A vaidade e a necessidade de não sair do mailing que recebe brindes a cada semestre vai garantir que todos os tênis tenham apenas elogios. E hashtags, lógico!

O mercado é muito viciado, e não é NADA errado que empresas se aproximem levando produtos e serviços para experimentação. Mas a falta de pudor é grande. A imprensa-parça te liga pedindo cortesias para ele, para amigos, familiares. Ela pede tênis, se oferece para ganhar produtos e liga pedindo viagens para Nova Iorque ou para correr uma maratona na Europa. Tudo em nome de “cobertura jornalística”, lógico.

Quando você financia regularmente o parça da imprensa, você tem uma certeza: você terá muitos elogios nos veículos e redes sociais. Mas atenção! Todos eles serão disfarçados de nobre isenção!

Enfim… O mesmo amigo que falei no começo do texto outro dia postou: Vendo opinião imparcial e ponderada. Tratar por DM. Eu acho a franqueza MUITO mais honesta e confiável.

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15 pensamentos sobre “A Imprensa-parça que corre

  1. Alexandre koda disse:

    Balu….achei bem interessante o seu comentário e concordo 100% com ele. Assim como você disse, ninguém é isento e eu, como jornalista de corrida, também não. Porém, sempre prefiro cobrir a correr uma prova para ter a opinião dos corredores/ leitores. Acho que elas são muito mais válidas do que a minha….e obviamente somos mimados pelas marcas, mas no veículo para qual trabalho nosso guia de equipamentos traz a caraterística do modelo segundo a marca e mais uma vez a opinião fica a critério de quem lê e não de quem escreve….. Estamos vivendo um mundo em que jornalistas e blogueiros acham que assessor de imprensa é sinônimo de loja virtual! Parabéns pela opinião…
    Abraços, koda

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  2. Vitória disse:

    Quando as práticas das blogueiras de moda passaram para os blogs de corrida encerrei o meu pra não ser enquadrada nesse tipo de prática….
    A consciência tranquila é o melhor travesseiro….

    Curtido por 1 pessoa

  3. A imprensa-parça não é invenção brasileira. Você mesmo mostrou dois exemplos do The Guardian nos últimos dias. Sem contar aquelas revistas-lixo como a Runners World.

    Mas a “categoria imprensa” nas corridas é?

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    • Danilo Balu disse:

      Não disse nem acho que seja… Categoria imprensa foi nosso jeitinho de comprar a imprensa pagando mais barato e dando recibo!

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      • A primeira parte (“A imprensa-parça não é invenção brasileira”) era só uma observação. Nos últimos dias tenho observado muito “cherry picking vira-lata”, em que as pessoas estão pegando tudo o que há de ruim no Brasil, juntando, e dizendo bobagens como “o Brasil não tem jeito”. Se for olhar a história de qualquer país vai ver momentos iguais ou piores ao que estamos passando. Já tá tão ruim, pra quê piorar mentindo com seleção de casos?

        A segunda parte ( “categoria imprensa” nas corridas é invenção brasileira?) é uma curiosidade, pois não lembro de ter visto isso nas corridas nos EUA. Mas, como só corri no Brasil e nos EUA, não posso falar de Europa e Argentina, por exemplo, onde sei que você tem experiência.

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  4. Luis Oliveira disse:

    Balu, eu desenvolve uma tecnologia mental que é simplesmente perfeita (opinião própria e não isenta ou “o.p.n.i.”) para identificar jabá / payola:
    * revista tem uma seção de novidades / lançamento? jabá certeza!
    * blogueiro não parece ter profissão definida, mas viaja para provas no Brasil e exterior? placa que leva prego.
    * Matéria de suposto expert em nutrição falando de suplemento? taximetro ligado

    Enfim, por aí vai, já deu pra ter uma idéia. Vale o Millor “imprensa é oposição, o resto é secos e molhados”

    Curtido por 2 pessoas

  5. Mauro Leão disse:

    Antigamente, ficava louco esperando as revistas com “guia dos tênis”… viciado em tenis, esperava ali me orientar… depois comecei a questionar pq algumas marcas apareciam mais q outras… sabe nada inocente!!!

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  6. marcosvafg disse:

    Se tem gente fazendo isso com remédio, whey protein e “farinha seca barriga”, imagina com tênis, relógio gps, camiseta dry e etcs

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  7. Balu, só te lembrar uma frase célebre que Umberto Eco disse recentemente: “Redes sociais deram voz a legião de imbecis”. Mas vamos analisar uma coisa? Esse é um fenômeno irreversível sob o ponto de vista de comunicação social, onde tínhamos apenas umas fonte de informação e uma verdadeira comunicação de massa e hoje em dia, todos podem ser comunicadores com os recursos existentes (blogs, sites, redes sociais e etc) e tenho certeza que é daí que você tem um nome a zelar com este blog que escreve.
    O Jabá sempre existiu e isso é um fenômeno antigo. Meu Tio-avó era jornalista na década de 30 e já me contava essas histórias de uns mimos que eles recebiam de empresas para falar deles. A diferença que hoje em dia, a concorrência é muito maior!

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  8. Na cinebiografia do Ray Charles tem uma cena do pessoal da gravadora pagando jabá para locutor de rádio quando ele estava começando a carreira.

    O Dungó tem razão. Jabá é coisa antiga. A única diferença é que agora foi democratizado.

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    • Daniel, o nome em inglês para jabá é payola e existe até hoje na música dos EUA, mesmo sendo proibido:

      http://www.forbes.com/sites/nickmessitte/2014/11/30/how-payola-laws-keep-independent-artists-off-mainstream-radio/

      É claro que eles dão um jeito (às vezes até legal) de fugir da lei que proíbe o jabá.

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      • Danilo Balu disse:

        Só para lembrar que NÃO acho que 1. só aconteça aqui; ou 2. que tenha sido invenção nossa (na corrida). Porém, uma gde diferença entre jabá na música e jabá na imprensa-parça é que a rádio recebe para tocar músicas (vi o filme Ray, ótimo, aliás!) e a imprensa-parça ganha material para falar ~com isenção~ bem das mesmas marcas e das mesmas provas. Um exemplo que não citei por falta de espaço é a má vontade da imprensa-parça com a Yescom é JUSTAMENTE porque a organizadora não faz categoria imprensa nem distribuem mimos. Mas qdo um blog recebeu anúncio da Yescom, as críticas cessaram. Estranho, não?

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  9. Caro Balu,
    Fontes confiaveis dão conta que o blogueiro passou a twittar através da conta oficial da Yescom, ou seja, virou um “assalariado” da organizadora. Inclusive visto em moto que era uma das batedoras da prova, assim como fez viagens a competiçoes desta organizadora. Abraço
    Harry

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