Quando escrevi tempo atrás os meus motivos pelos quais defendo que ir ao nutricionista esportivo é um péssimo negócio, recebi um e-mail torto do sindicato deles pedindo que eu retirasse o texto. Lógico que não retirei. O Corrida no Ar também se recusou atender à patrulha. Tempos depois a Revista O2 me convidou para explicar brevemente meu ponto em sua edição impressa. O texto que deve ter ido na edição de Maio é um pequeno resumo do que vai abaixo. Para assinar a revista, clique aqui.
Se você for corredor amador buscando melhora de desempenho (ainda que rodando alto volume), procurar um Nutricionista Esportivo está longe de ser boa estratégia. Não só pode não servir para nada, como o “intervencionismo ingênuo” pode ser prejudicial. Esse hábito de intervir demais é difundido: leve sua dieta a um nutricionista e ele fará mudanças – ainda que você apresentasse uma dieta hipoteticamente perfeita. E se você levar a nova dieta a outro profissional (tendo o cuidado de omitir algum potencial suplemento receitado) você terá mais e mais mudanças, além de um coquetel de pílulas.
Um princípio médico atribuído a Hipócrates diz: primum non nocere (“primeiro, não faça mal”). Porém, num jogo perigoso do comportamento humano, o contratado sente ENORME necessidade e pressão para fazer algo. Só que a Nutrição, como outras áreas da saúde, historicamente tem baixa taxa de eficiência e enorme taxa de intervenção – e toda intervenção desnecessária não é inútil: ela faz mal! Este é o dano causado por aquele que intervém, no caso, o nutricionista.
Ainda que alguns obtenham benefícios na consulta, o prejuízo líquido (com danos ocultos ou retardados) passa sempre despercebido a quem acredita que um nutricionista possa ajudar um corredor apenas por esse querer uma dieta. Além do excesso de intervenção, são incontáveis os casos de nutricionistas que dão cursos de suplementos, são patrocinados ou até mesmo prescrevem e ainda fazem a venda, sem enxergar nisso qualquer conflito de interesse! É “assim que funciona o mercado”, disse-me recentemente um conhecido professor da USP e colunista de revista de corrida que prescreve e vende produtos a rodo.
Além do perigoso erro ético, um hábito comum é a prática baseada em diretrizes nutricionais que, em boa parte, carecem de evidências científicas. Essa especialidade recorrentemente define primeiro as recomendações para só então testá-las, em uma frágil inversão entre prática e teoria – justamente de uma área que se define como Ciência sem assumir cuidados básicos. Exemplos: a Nutrição tradicional como ensinada na faculdade não sabe ainda o quanto deveríamos consumir de carboidrato em uma dieta saudável, não entende as verdadeiras causas de ganho/perda de peso, desconhece o caráter fundamental da não-linearidade de fornecimento de energia e substratos energéticos, e ainda trabalha com diretrizes completamente sem embasamento sobre gordura saturada ou sal. Ainda assim, acha que é este o profissional indicado para oferecer sua dieta com porção e horas marcadas (esta outra inversão entre teoria e prática).
Enfim, é a ausência de intervenção que implica ausência de erros cometidos por aquele que quer de boa vontade ajudar (nutricionista). O nutricionista é humano, passível de cometer muitos erros, e ele confunde sua enorme “vontade de fazer o bem” com o de fato conseguir fazê-lo. Nós humanos não somos assim tão necessários para fazer as coisas funcionarem, ainda mais quando estamos de falando de algo tão fundamental, porém básico.
Por fim, que não confunda jamais minha opinião de que esse intervencionismo ingênuo tão comum na Nutrição seja via de mão única. São muitos os benefícios da Nutrição quando tratam os doentes, não os saudáveis! A busca por este profissional, ainda que eu tenha enormes reservas sobre o quanto ele irá usar de evidências, deveria se dar apenas e tão somente na doença – não na saúde ou no esporte amador. Mas isso o Nutricionista se confunde e não enxerga, afinal “é impossível convencer alguém cujo ganha-pão dependa do não-convencimento”.
E aí? O CRN vai mandar recolher as revistas O2 das bancas?
Assino embaixo de tudo que você escreveu, exceto da descrição do que nutricionistas fazem, pois nunca fui em um. Mas acredito que seja a verdade, pelo que já li e ouvi.
O que mais me deixa chateado com os nutricionistas que comentaram aqui no blog não foi nem o fato de estarem errados (eles estão) ou de não terem entendido o texto (pelos comentários eles não entenderam). Foi o fato de defenderem seus erros com tanta agressividade. Mas, enfim, como você disse, é característica do ser humano.
Adolfo Neto
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Show, deu até vontade de voltar a assinar a O2.
Seria bom se tivesse uma coluna de nutrição fixa do Balu na revista.
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Eu tinha 98 kg, fui em um nutricionista esportivo e meu peso caiu para 78. (sem passar fome, apenas com a reeducação alimentar).
Tentei seguir a Paleolítica, mas não tive bons resultados.
As vezes acho esse lado defendendo a dieta low-carb, um pouco religiosa, exagerada.
Já vi, vários livros, provando que a dieta vegetariana é melhor ou a dieta x é melhor. Sempre como verdade absoluta.
O que eu faço é fugir dos industrializados, e me alimentar conforme o corpo pede.
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Mas fugir dos industrializados significa….?
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Fala aí:
http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/2015/06/os-carboidratos-sao-mesmo-viloes-da-dieta-e-culpados-pelo-ganho-de-peso.html
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Aposto que ela cobra dos clientes pra falar essas coisas… Dureza…
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Danilo a Dra. que comenta sobre carboidrato não é nutricionista e sim farmacêutica e o que ela coloca, no início é que a mídia fala… sobre aumento de peso, obesidade e carboidratos, cita que pode haver relação com a genética… então tá né…
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anaminarelli, e não pode ter relação com a genética? Algumas pessoas são intolerantes ao carboidrato, outras pessoas não são.
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O problema é que vc consegue justificar tudo pela genética.. É um refúgio de quem não tem explicação.
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Eu quis dizer é que é bem provável que tenha, mas o texto dela acrescenta pouco.. Provavelmente pq as pesquisas estão engatinhando.
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Então, o “conhecimento nutriocional” que ela coloca, é que passa de “pai/filho” sem embasamento científico e ela “puxa a sardinha” para área de pesquisa dela que é genética/biologia molecular e tenta justificar… aí vira samba do criolo doido!
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No final do artigo ela diz…”Não podemos esquecer que os carboidratos são a principal fonte de energia de todo o nosso organismo e nos dias de hoje todos querem energia e vitalidade! ” E por incrível que pareça é exatamente isso que hoje ensinam na escola para as crianças também ( e que criança não quer energia?)! Um grande problema é achar que o carbo é o principal, é a energia….e como bem disse o Balu, é o único macronutriente que podemos viver sem!
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No passado, já fui a vários, e após ler e estudar um pouco sobre o assunto, percebi a quantos absurdos meu corpo fora submetido..
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Procurar um nutricionista não deixar de ser também um símbolo de status para muita gente. Por que um corredor amador, que corre de duas a três vezes por semana e não tem problemas de saúde procuraria um nutricionista? Para aumentar a performance? Para atender às complexas exigências nutricionais provenientes da prática do esporte? Tenho lá minhas dúvidas se isso vai surtir o efeito desejado.
Eu acredito que qualquer pessoa com um pouco de CRITICISMO (claro) se fizer uma pesquisa em livros e procurar por bons autores na internet pode implementar mudanças bacana na alimentação.
Balu, eu vejo com frequência você criticar os sites, as revistas e outras fontes a respeito de nutrição, e cumpre um excelente papel quando provoca e questiona, mas será que não caberia aqui no blog textos mais instrutivos a respeito do assunto? Ou seja, textos onde além de criticar mostrassemos o que a ciência tem feito de significativo até o momento?
Sim, sei que você já sugeriu diversos livros, mas talvez nem todos tenham o interesse de ler um livro completo sobre nutrição, e algumas explicações simples podem tirar todos da ingnorância.
Forte abraço!
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“Balu, eu vejo com frequência você criticar os sites, as revistas e outras fontes a respeito de nutrição, e cumpre um excelente papel quando provoca e questiona, mas será que não caberia aqui no blog textos mais instrutivos a respeito do assunto? Ou seja, textos onde além de criticar mostrassemos o que a ciência tem feito de significativo até o momento?”
Simplesmente perfeito, William Fortunato. Disse tudo. Talvez seja falta de conhecimento. Respeito isso. Se filtrar direitinho, dá para extrair alguma coisa.
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Danilo parabéns pelos comentários, como sempre muito pertinentes. Com relação a fazer resumo de livro para aqueles que não gostam de ler, vou utilizar um termo do Danilo Balu “tenho maior preguiça” dessas pessoas que querem o conhecimento mas não querem ler.
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Explicações simples sobre algo complexo não dá,né?
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