Do caos de Amsterdã e Vietnã e da corrida na USP

5ª feira pela manhã eu estava em Amsterdã, sábado cedo estava correndo na USP. A primeira informação não foi pedantismo gratuito, não. Em minha 4ª visita ao país, sempre me espanto com a organização deles com carros, motos, bicicletas, ônibus e bondes, todos andando dividindo o espaço sem acidentes com turistas que andam olhando pro céu. Fica parecendo que com um toque de Deus, não acontece nada de pior lá! Já na USP, nesse sábado me deparo com uma operação tentando organizar as ruas da Cidade Universitária. Perguntei a alguns amigos: quanto tempo mais vocês acham que esse delírio coletivo vai durar?

Havia cones, muitos uniformizados contratados orientando, fita zebrada delimitando o percurso, placas de quilômetro, banheiro químico, água, etc. Não basta seguirmos regras de 2ª a 6ª, agora querem engessar até a nossa corrida de sábado! A bagatela para organizar tudo não sai de graça, soube que o patrocinador (a adidas desta vez, já foi a ASICS meses atrás) coloca R$18.000 por 4 horas de operação! Sério, quem em sã consciência acha que vai achar um mecenas para pagar isso a cada sábado? É muito delírio. Não deixa de ser decepcionante que justo na USP, o centro de excelência e pesquisa desse país, seja onde esse experimento estranho aconteça.

Basicamente a ação visa melhorar algo cada vez mais comum em locais de treinos: muita gente, bicicletas, risco de acidentes e atropelamentos. Mas o que fizeram na USP não só me parece cheio de problemas (cruzamentos, pista apertada e curta), mas como já disse, financeiramente insustentável. Essa nossa mania de controle (e achar que controla!), cria essas bizarrices.

Voltando à Amsterdã, passando por Suíça, para eles menos é mais. Em Amsterdã andamos várias vezes compartilhando pista. Já na Suíça tiram as barreiras, placas de trânsito, grades e rebaixam calçadas. No Brasil? Aumentamos e separamos! Criam um caminho com um staff guiando como se fossemos gado indo pro abatedouro, jogam as bicicletas para uma região da USP e assim carros podem acelerar sem dó, matando quem se desgarre.

Não consigo entender como alguém demore 4 sábados (e R$70.000) pra ser capaz de ver que isso nunca poderia ser uma boa ideia…

*meu pessimismo era quase aborrecedor, pra só aumentar quando passei pelas pilhas de copos de água que os imbecis jogam no chão achando que estão no meio de uma prova e que um duende irá lá do nada recolher pra ele….

**abaixo 2 modelos que mostram que menos às vezes é mais, como defende Tom Vanderbilt em seu ótimo Traffic que prega menos semáforos e mais rotatórias, justamente o oposto do que foi feito sábado na USP

Acima Etiópia (ignore o nome do vídeo) e abaixo Vietnã…

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14 pensamentos sobre “Do caos de Amsterdã e Vietnã e da corrida na USP

  1. adolfont disse:

    Danilo,

    O que você acha das greenways que tem por aqui nos EUA?
    São caminhos pavimentados (na largura das faixas para corredores em parques no Brasil) no meio de terrenos do governo ou até mesmo privados. Lá só entram caminhantes, corredores e ciclistas. Elimina o problema de conflito com carros para muitos corredores por aqui.

    Sei que para cidades grandes como São Paulo e Curitiba é tarde demais, mas para cidades do Brasil que ainda estão crescendo ainda é possível pensar nisso.

    Aqui um guia explciando o que são as greenways
    http://www.wakegov.com/parks/about/pages/trailsgreenways.aspx

    Quanto ao excesso de controle, concordo. E acho que o corredor tem que saber que ele é a parte que vai ser mais prejudicada em caso de acidente e evitar qualquer confronto com ciclistas ou carros. Mas a nosso sistema judiciário deveria ajudar punindo melhor os motoristas que atropelam (e sei que isso é uma questão que envolve não somente juízes, mas também as leis, que facilitam demais a vida de quem provoca um acidente).

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    • Danilo Balu disse:

      Eu não sei se já estive “oficialmente” e sem saber em uma greenway, me parece algo parecido com um parque no Brasil que não permita carros. A gente é mto carrocrata, acha que espaço sem carro é latifúndio… somos burros! Corredor tb é burro… acha que é uma vaca e que está na Índia…. é só ver como se comportam aos sábados na USP! Mas vc disse tudo, se matar ou atropelar ao volante desse cadeia, o país seria outro.

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  2. Marcel Pracidelle disse:

    Curioso, que eu acho que a USP funciona muito bem sem essa “organização”. Corredores na contra-mão na faixa do canto, ciclistas na mão correta na faixa do meio, e os carros na outra faixa, em baixa velocidade. Isso foi causado pelo atropelamento do ano passado, mas o cara que atropelou estava bêbado, se tivessem cones e fitas ele derrubaria os cones e atropelaria as pessoas do mesmo jeito… Discussão entre ciclistas e corredores ocorrerão, mas isso ocorre de qualquer maneira e em qualquer lugar.

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    • Danilo Balu disse:

      Funciona melhor porque essa organização não organiza, não funciona! É toda torta, com cotovelo, cruzamento.. tudo errado! E ainda é cara! Coloue uma fita zebrada e parece que blindamos contra criminosos… tenha paciência!

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  3. Pedro Ayres disse:

    Infelizmente, temos muito pouco ou quase nada de senso de coletividade. Ignoramos que da porta pra fora existem normas para a convivência. Ao mesmo tempo que “fazemos o que queremos porque somos adultos”, queremos ser tutelados: se não houver o semáforo ou a lombada não vamos seguir normas comuns de civilidade.Também queremos ser mimados (o kit da prova, o copo d’água na mão!).

    Ao mesmo tempo que culpamos o governo de tudo, não queremos ser protagonistas das nossas próprias cidades (e quiçá das nossas vidas).

    Aí lembro do Geoffrey West: “A importância do prefeito é menor do que costumamos crer. É óbvio que o gestor influencia os rumos da cidade ao criar leis e dispor de um orçamento. Mas sua influência é de, digamos, 15%. Cerca de 85% do resultado final depende de como a população reage ao ambiente e às regras.”

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    • Danilo Balu disse:

      Pois é! O prefeito deve ser responsável por uns 15% (quem é de SP sabe disso, oposição e situação se revezam e a cidade é o caos), mas o brasileiro é paternalita, quer o paizão estado cuidando de tudo e dando comidinha na boca.

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  4. Adriana Piza disse:

    Há um certo tempo troquei a USP aos sábados pelo parque Villa Lobos. Comecei a perceber que corria na USP com uma aflição e uma tensão….aquele balão da fonte com aqueles ônibus, ciclistas, carros e corredores…..é quase como estes vídeos aí em cima. E lá no final da raia, quando viramos à esquerda, na rua da POLI, onde os corredores fazem questão de correr exatamente no meio da rua! Aí vem ônibus de um lado, carros do outro…e os corredores em cima da linha amarela que divide a rua! Não sei da onde surgiu essa idéia, mas sempre que corri na USP (e faz tempo), correr sempre foi nas calçadas! E de repente todos resolveram ir para o meio da rua, aí a disputa fica complicada mesmo. Sei que é muita gente, mas não justifica, ir para o meio da rua, nunca entendi. No parque voltei a correr com mais calma, sem carros, muitas vezes com muitas bicicletas, mas por incrível que pareça em convivência bastante pacífica!

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    • Danilo Balu disse:

      Olha, só não desisti ainda da USP por causa dos amigos que vejo lá de vez em qdo e porque as alternativas não me atraem nada. Eu não tenho medo de correr na USP porque acho que já entendi qual espaço que me cabe. Faço voltas alternativas (mais tranquilas), corro 95% do tempo na calçada ou na ilha central e faço tipo direção defensiva, vou olhando o que se passa no meu pto futuro. Nem música uso mais. A rotatória da qual fala até hj não se por que não fecham aos carros/ônibus nos fdsemanas… não leva nada à lugar nenhum e de sábado não faz falta à universidade. Sobre corredor no meio da rua acho de uma cretinice sem igual. Por que ele não faz isso na 23 de Maio ou na Marginal? Por isso que eu já disse: corredor acha que é uma vaca e que estamos na Índia. Enfim…

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    • Júlio Cesar Kujavski disse:

      Minha namorada atual esposa chegou atrasada em muita aula nos sábados por causa dos corredores e principalmente ciclistas segurando os ônibus.

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      • Nishi disse:

        Essa história de chegar atrasado… eu acredito na possibilidade disso com esses trecos atuais. Antes desse amordaçamento atual, só consigo ver a possibilidade de atraso por conta do trânsito da cidade, não dentro da USP!

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  5. Ângelo Caexeta disse:

    Uma coisa que dá para perceber muito bem no segundo vídeo é que a ausência total de regras e sinalização, que geram o aparente caos, é responsável também pela redução drástica de velocidade nos veículos. E pra mim esse é o ponto central. Qualquer discussão que passe pela harmonização da relação homem-veículo não pode prescindir da redução drástica de velocidade nas grandes cidades. Não dá para entender como esse “paizão” Estado, tão preocupado em defender seus filhos cidadãos, a ponto de criar uma estratégia de fluxo de pessoas e carros no mínimo inviável, permite que carros possam andar a 120km/h, 160 km/h. E não venham me dizer que existem leis de trânsito que limitam a velocidade, pois é uma ingenuidade achar que o motorista vai comprar um carro que chega a 100km/h em 5 seg. para andar a 50km/h. É desesperador saber que o caos do Vietnã é mais humano que a nossa racionalidade de sinais e placas.

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  6. Nishi disse:

    Uma coisa que eu sempre disse é que eu, frequentador assíduo aos sábados, e que passa um tempão lá dentro, nunca tive problemas com ciclistas ou ônibus ou carros! Lógico que acredito na possibilidade disso acontecer por conta de maluquices, etc, mas sempre “fiquei esperto”, já que no leito da rua eu estou fora do habitat natural de um corredor, e sempre fiquei atento ao movimento.

    Não sei, mas pressinto que, de lado a lado, tem muita gente que se acha dona da rua e que, por isso, simplesmente prefere ignorar o movimento ao redor. O corredor que corre no meio da rua acha um “absurdo” ter que desviar meio metro pra dar passagem pra um ciclista. O ciclista acha um “absurdo” o busão parar no ponto justamente na frente dele. E o motorista de ônibus fica louco quando tem que encostar em um ponto no zerinho e não consegue porque tem um bando de corredor que acha que ali é seu espaço… pior é que esses mesmo corredores e ciclistas, quando entram no carro pra sair da USP se transformam e acham um absurdo que outros ciclistas e corredores o atrapalhem para sair de lá…

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    • Vinicius Morais Nunes disse:

      É bem isso Nishi. Esse final de semana aconteceu uma coisa engraçada aqui em Floripa. Fiz meu longão no sábado e pra não deixar minha esposa fazer o dela sozinha acompanhei de bike, estavamos indo numa boa ela na calçada e eu na ciclo faixa (pegaram uma pista inteira de carro e transformaram em ciclo faixa aos domingos) quando retornamos é lógico que eu estava a contramão, veio um cara de bike bem rápido no sentido correto sem ninguém do lado, repito ninguém e quiz arrumar rolo comigo pq eu não estava no lado correto. Dae me pergunto o cara sai de casa pra praticar o esporte dele ou pra fazer rolo? Pq ele tinha mais de 5 metros de pista livre.

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