Leituras de 4a Feira

Acho que já falei bastante aqui o que eu acho de órteses e palmilhas. Poucas coisas são tão picaretas quanto um ~profissional~ fazendo cara de conteúdo a recomendando para correção de pisada e/ou aumento de amortecimento. É um engodo e quem tem loja de tênis sabe qual a taxa de retorno (=lucro). Aqui o ótimo Steve Magness compartilha os dados feitos com vários modelos de tênis, porém, somente com uma atleta. NÃO tem validade, mas dá uma medida de como simplificar o complexo é sempre uma arte a se evitar.

Algumas fotos da sede da Nike, local da pista mais linda pista de atletismo que existe.

Comentando o post de 2ª feira, o Estevam disse: “a relação do exercício com as doenças cardiovasculares está cada dia mais parecida com a das bebidas alcoólicas. Fazer pouco é melhor do que não fazer, mas fazer em alta intensidade ou por longos períodos está ligada a mais doença”. Eu não poderia concordar mais. Correr 10km pode ser saudável. Maratona não. Agora saiu um estudo dinarmarquês muito relevante. Esta matéria no The Telegraph traduz ao público explicando que correr demais é tão ruim quanto não correr nada. O que mais assusta é o que eles chamam de “demais”, 2h30 a 4h00 ao todo, 3 vezes por semana. O estudo é observacional, não intervencional e isso já é uma limitação. Não vai demorar, acredito, para aparecer textos bons minuciando outras enormes limitações e seus equívocos. Mas o ponto não é se a partir de 3 ou 3,1415 treinos semanais o efeito deixa de ser ótimo e passa a ser nocivo. Não é o número que importa, mas o conceito! A Runner´s World (aposto que ela será a primeira) e outros treinadores, têm interesse direto em tirar o crédito do levantamento, mas o que fica é, reforço, o conceito. Sim, a corrida tem enormes benefícios, mas é como água: é muito saudável, mas em excesso faz mal, podendo inclusive matar.

Aproveitando o barulho que fez a publicação deste estudo, talvez seja hora de rever um TED antigo (2012) que trata do mesmo tema.

Você é adepto da suplementação? Então talvez tenha visto a notícia que um teste feito em alguns grandes revendedores revelou que os produtos vendidos não continham nada do que prometiam

Veja as belas imagens com trechos do percurso do campeonato americano de cross-country a ser realizado em… 2016 e 2017!! É muita organização!

26 pensamentos sobre “Leituras de 4a Feira

  1. Julio Cesar disse:

    Será que com essa onda de superar limites, encarar desafios, aumentar a km, fazer maratona e ultramaratona a torto e à direito, será que as pessoas vão um dia se conscientizar que correr demais (por muito tempo) faz mal ?
    Pelos padrões que vc colocou, atualmente eu já eu já estou treinando demais com meus 50 km semanais. Vou baixar pra 40… rsrs…

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  2. Balu, leia isto aqui, do Alex Hutchinson:
    http://www.runnersworld.com/health/the-supposed-dangers-of-running-too-much

    Segundo ele, os dados deste novo estudo (deve ser o mesmo pois não deve ter tanta gente estudando isso) são requentados e não disse nada.

    A mim toda essa história parece uma grande picaretagem. Grande jogada de marketing dos cientistas. E muitos jornalistas e blogueiros estão caindo…

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    • Danilo Balu disse:

      Calma com o andor…. estams falando de 5.000 pessoas acompanhadas por mais de 10 anos e publicado em uma revista com fator de impacto >15. Não é pra jogar o bebê com a água da bacia pela janela… Calma… Nunca há tanta informação produzida da qual não se tire nada de útil…

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      • 5000 pessoas mas pouco mais de 1000 corredores. As quantidades que o Alex Hutchinson detalhou me assustaram. Muito pouca gente pra tanta conclusão (e parece que as conclusões estão mesmo no artigo – ao qual não tive acesso ao texto completo – e não apenas nas notícias).

        Sim, é claro que tem informação útil. Mas você que já leu Taleb e Ariely sabe da tendência das pessoas de enxergar mais do que há nos dados.

        E também sabe da tendência da Ciência de encontrar conclusões onde “ainda” não há. E isto ocorre principalmente nas revistas de maior fator de impacto da área de saúde. Se a conclusão não for de impacto, fica muito mais difícil publicar.

        Não acho que eles necessariamente estão errados. Acho que estão jogando pra torcida (algo já bem documentado http://www.independent.co.uk/news/science/bad-science-reporting-blamed-on-exaggerations-in-university-press-releases-9913336.html) e acho que esse tipo de comportamento acaba sujando a imagem da minha área (até o criador do Dilbert reconhece isso blog.dilbert.com/post/109880240641/sciences-biggest-fail ).

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  3. [[“a relação do exercício com as doenças cardiovasculares está cada dia mais parecida com a das bebidas alcoólicas. Fazer pouco é melhor do que não fazer, mas fazer em alta intensidade ou por longos períodos está ligada a mais doença”. Eu não poderia concordar mais. Correr 10km pode ser saudável. Maratona não.]]

    >> Todas as afirmações deste trecho me parecem sem base e, já que é pra entrar no achismo, incorretas.

    Acho que 10K, do jeito que eu corro e do jeito que eu vejo alguns correndo, muito menos saudável do que Maratona. Pra Maratona eu me preparo por um longo tempo fazendo treinos leves. Durante os treinos não preciso fazer mais do que 2h contínuas de treino. Durante a prova, só os menos espertos se esfalfam para bater recorde pessoal. Os mais espertos simplesmente ficam felizes em completar. São 2 a 6 meses de treinos leves, com um dia (o dia da prova) de mais desgaste, é verdade, mas seguido de um descanso de uma semana e uma recuperação de um mês (novamente, se você for esperto). Acho que no geral compensa muito, desde que a pessoa se alimente bem.

    Já uma prova de 10K requer mais treinamentos de velocidade, que para mim significam mais risco de lesão. Eu faço 10K de forma bem intensa, o que para mim é um desgaste muito maior do que uma maratona (é intensidade por 45 minutos, não por 80 segundos como numas sessão de Tabata).

    E, claro, tudo depende da definição de “longos períodos”. Se “longos períodos” for 20h por semana eu não poderia concordar mais. Mas se for 10h de treinos leves, é puro achismo.

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    • Danilo Balu disse:

      Adolfo, não adianta vc comparar maçãs com peras! Isso aqui não é revista científica! Não espere que para cada opinião eu dê bibliografia, DP ou p… não adianta argumentar que o volume que X faz maratona é menor do que Y fazendo 10km, por exemplo. Na prática, qdo treinamos para fazer 10km corremos MENOS do que qdo vamos pros 42km. Se a pessoa é fora da reta e quebra uma regra que funciona pra 99,5% correndo ela o mesmo volume, ELA é diferente, não a regra. Qtas pessoas que vc vê numa prova gde no Brasil que seguem Maffetone ou têm a paciência de um Sock-Doc… qtas? Vc tem que falar com quem está DENTRO da curva normal, não nas extremidades…. esses ou vão morrer correndo 1km/semana, ou vão correr 14x na semana com saúde de ferro…. e na outra curva normal (a da metodologia), Maffetone e sua variáveis tb estão fora! E nela se inclui quem faz maratona em +6h porque isso é o desgaste fisiológico de uma caminhada… E não tem estudo, é achismo puro. Eu usei 10km, mas poderia usar 5km ou 15km, é o CONCEITO. Vale lembrar que a média de uma prova gde de 10km hj está na casa de 55-60min… isso é alto volume? NÃO! Nem corredor mto bom consegue imprimir alta intensidade por 1h00! É limiar estourando! Qto mais lento o corredor, menos intenso é qq prova que ele faça… é paradoxal! O volume dessa vai ser sempre menor do que pra 42km pra 99,9% das pessoas. Por exemplo, as pessoas que EU conheço fazem treinos de intenidade pra 10km ou 42km em frequências bem parecidas. O nicho (meu mundo) são pessoas mais competitivas. Acho improvável que alguém saia do 3x/semana para 0. De novo: é o CONCEITO que esse estudo trás. O volume? Estou me lichando qual seja. Mas faço uma aposta: DUVIDO que correr mto faça bem. Vou deixar de correr? Não. Vc mesmo faz um “mas” no final CHUTANDO 20h… é tb achismo puro… mas era isso que eu discutia, conceito, não a dose fatal exata.

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  4. Estevam disse:

    Interessante a análise do Alex Hutchinson. Quando você vê os dados brutos, as ideias ficam mais claras. Mas ainda tem muita controvérsia envolvida. De qualquer forma, os cientistas, assim como os atletas, não são isentos de conflitos de interesse, como diz o livro “Ciência Picareta” – indicação do blog. Agora, não imagino um estudo de intervenção a longo prazo que possa dar a resposta que esperamos sobre este ponto. Temos de ficar com os observacionais, até pelos custos envolvidos.

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    • Danilo Balu disse:

      Não esperava outra coisa eles… assim como não espero que treinador venha a público reconhecer que esporte emagrece. Endossar esse estudo seria como dizer ao público para não se mexer e colher o (mau) resultado disso lá na frente.

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    • Estevam disse:

      Apesar de ter entendido os pontos levantados pelo Alex Hutchison, isso não desmecere o estudo. E outra, como Balu falou. Não é aqui nem no blog da runners’ world que ele deveria tb “jogar para a torcida”. Ele poderia, assim como qualquer um de nós, escrever uma carta para o editor da revista apontando as falhas do trabalho. Até pq assim os autores podem responder.

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  5. Luis Oliveira disse:

    Não vou nem entrar no mérito do estudo, por falta de tempo, interesse, aptidão e competência. Afora me parecerem totalmente chutados, com resultados como “média de 4 horas semanais, com desvio padrão de 3,5 horas”, esses estudos “normativos” tem um poder enorme de me irritar pois desconsideram um aspecto FUNDAMENTAL, o impacto da motivação no estilo de vida.

    É a mesma história de treinador / corredor experiente falando que ninguém deveria fazer maratona antes de correr por um certo número de anos. É como se fosse um sacerdócio, uma série de provações de um monge em busca da iluminação e da sabedoria. Pura bobagem. Se uma prova difícil, acima das possibilidades atuais do sujeito, é o que ele precisa como meta e motivação, maravilha. Se ele é um adulto capaz, saberá (ou deveria saber) que isso implica em riscos, inclusive o de se machucar. Feito o aviso sobre os eventuais riscos, seria muito bom para o ambiente geral das corridas se as pessoas fossem menos condescendentes e deixassem de julgar as motivações de cada um.

    Enfim: ser ativo fisicamente tem benefícios físicos, emocionais, sociais, etc, que vão MUITO além de viver mais ou menos anos.

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    • Concordo inteiramente com você, Luis.

      O que mais me chateia nessa estória toda é tanto destaque dado a pesquisa ruim.

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    • Danilo Balu disse:

      Luís, não poderia concordar mais! Tenho preguiça de analisar, mas é mta informação produzida e agrega. Só precisamos evitar jogar a água do balde com o bebê junto! Tem UM pto que faço um adendo. Correr 42km (ou ultra ou mesmo uma SS pra quem é sedentário de longa data) é EXTREMAMENTE lesivo em menos de 2 anos. O profissional que vai orientar tem que:
      1. Deixar isso BEM claro;
      2. NÃO incentivar uma decisão ainda não-tomada;
      3. Não promover!
      Pto! Feito isso, todo mundo é adulto e faz o que quer! Mas profissional que incentiva achando que basta dedicação, é incompetente e não sabe o que fala.

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      • Luis Oliveira disse:

        Sim, é POTENCIALMENTE extremamente lesivo. A escolha é então do adulto capaz: quer correr o risco de se machucar ou correr o risco de abandonar essa chatice de correr sem um desafio de superação (favor ler com tom de voz irônico)

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      • Danilo Balu disse:

        Ou ainda o talento ou competência do treinador de conseguir motivar com algo menos lesivo no curto prazo.

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  6. Marcos disse:

    A conversa aqui é sempre boa. O Balu defende que o importante é o conceito. Números ou dados são as fontes dos questionamentos e as respostas para possíveis soluções. Por isso é excelente debater a respeito deles. Falando em saúde, o que importa mesmo é se é demais. Ai vem toda abstração do conceito, mas é o que precisa de atenção.

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    • O importante é o conceito, mas o conceito diz algo?

      Outra questão importante: quem é que está correndo muito porque acha que é saudável? Os ultramaratonistas são os primeiros a reconhecer que não fazem por ser saudável. Eles até usam Hokas!

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      • Marcos disse:

        Usam Hokas foi boa! 🙂 Concordo que ninguém corre muito porque acha saudável.
        Faço parte do pessoal que, digamos, corre mais do que o recomendado. Tenho aumentado volume e intensidade com certa responsabilidade a cada novo ciclo e após um período de descanso. Mas acho que o conceito é importante sim, para lembrar de ter atenção. Estou há quase 3 anos sem me machucar acho que muito devido ao fato de ter melhorado a atenção. Tb tenho orientação há 1,5 ano e “os puxões de orelha” ajudam. Sem essas coisas poderia facilmente ter aumentado volume e intensidade demais e ainda diminuído o descanso. Prejuízo quase certo. Estou querendo ver se encontro os números que servem para mim, com paciência. Reservo o ceticismo para a maioria das pesquisas, mas também tento aproveitar o que for possível.
        Considerando o que leio aqui e no seu blog, acho que você também é um cara que presta muita atenção nos seus treinos e corridas Adolfo.

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  7. Marcelo Hideki disse:

    “É a mesma história de treinador / corredor experiente falando que ninguém deveria fazer maratona antes de correr por um certo número de anos. É como se fosse um sacerdócio, uma série de provações de um monge em busca da iluminação e da sabedoria. Pura bobagem. Se uma prova difícil, acima das possibilidades atuais do sujeito, é o que ele precisa como meta e motivação, maravilha. Se ele é um adulto capaz, saberá (ou deveria saber) que isso implica em riscos, inclusive o de se machucar. Feito o aviso sobre os eventuais riscos, seria muito bom para o ambiente geral das corridas se as pessoas fossem menos condescendentes e deixassem de julgar as motivações de cada um.”

    Perfeito.

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  8. Adriana Piza disse:

    É mais um artigo daquele mesmo James O’Keefe, um dos autores…e o TED antigo citado aqui é ele mesmo, o próprio O’Keefe. Meu médico uma vez já me veio com um desses artigos dele para me convencer que ele corria bem pouquinho porque era melhor….
    Bom, eu tenho certeza de que não corro pela saúde, e sim porque sempre gostei, e muito! Tenho certeza absoluta de que se tivesse corrido estes anos todos apenas meia horinha umas 4 vezes por semana, teria chegado hoje aos quase 50 anos com menos dores….mas faria tudo de novo. Nessa TED por exemplo, eu acho que a mensagem que fica é que o exagero é ruim, apenas isso. Concordo muito com isso. O problema é que esses artigos geram indignação em quem está correndo bastante, por serem comparados a sedentários em termos de saúde, e por outro lado esses sedentários acabam se sentindo menos mal em não fazer nada.

    Outro ponto: se exagero é tão ruim mesmo, o que dizer da população de atletas de elite? Eles não sofreriam tanto os efeitos talvez por terem uma vida de atleta profissional relativamente curta?

    Eu continuarei correndo como sempre…..

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  9. phrayres disse:

    Esses estudos recentes parecem mostrar o bastante óbvio: ter uma vida ativa é melhor do que não fazer nada. Excesso de atividade não é saudável. A questão é que hoje em dia o sujeito tem um carro, passa 10 horas sentado no escritório, e depois tenta compensar correndo 15km por dia. Vovó não tinha essas facilidades, passava o dia inteiro ativa, viveu até os noventa e muitos e, pasmem, nem corria!

    Acho curioso o sujeito cheio de integração com a natureza, descalço ou minimalista, chega na montanha de carro, sai pra correr na natureza e abraça as árvores. Francamente. Tipo os sujeitos que passam horas no engarrafamento para chegar na academia. Não, gente, não.

    Não bastasse esse estilo de vida artificial, ainda poluem o ar que a gente tanto precisa para correr. Mas o bichinho humano é isso mesmo, não entende causa e consequência.

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    • Julio Cesar disse:

      Na verdade se vc analisar a população acima dos 90 anos de idade vai comprovar que a grande maioria nunca fez um trote na vida.

      Isso é triste pra nós corredores que instintivamente achamos que por sermos corredores vamos viver mais do que os que não correm, mas isso é uma ilusão.

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  10. Vinicius Morais Nunes disse:

    Só tenho uma coisa a dizer o Coração é um sistema caótico! Logo, pode ser testado, testado, testado, testado, testado, testado, testado, aprovado e um dia dar pane. Simples assim.

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  11. Edu Bausas disse:

    Dentro dos comentários no artigo do Alex Hutchinson tem uma fala: Pessoas correr, pessoas morrem; Pessoas não correm, pessoas morrem; Pessoas morrer, sempre, e no fim… melhor correr enquanto isso!

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  12. Pinguim disse:

    O ovo passou décadas como um vilão.
    Agora o ovo ė totalmente saudável.
    Ė difícil acreditar na ciência.

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