Uma lei tosca em Campinas que é a cara do Brasil!

Eu fico imaginando o quão ocioso deva ser o cargo de vereador em uma cidade como Campinas (SP). Semana passada eu tive uma ideia do tamanho dessa ociosidade. Tenho um amigo que costuma dizer que o ser mais perigoso que existe é o “idiota pró-ativo”, é aquele que sente necessidade de “fazer algo”, que tem uma vontade de ajudar só que com um “intervencionismo ingênuo”. Ele faz errado aquilo de que nem precisamos e os danos acabam superando de longe os benefícios. Ele é um perigo no mercado privado e muito caro no funcionalismo público.

O vereador Tico Costa mostrou-se um idiota pró-ativo. Ele é o responsável pela redação (tecnicamente muito ruim, diga-se) de uma lei torta que diz muito sobre nós brasileiros. É bem verdade que eu não posso dizer que o Sr. Costa é um idiota, mas posso dizer que ele é demagogo, populista, oportunista e um ignorante nesse assunto no qual se mete. Isso ele é.

Se ele (e o prefeito e todos os vereadores que aprovaram em unanimidade a lei) abrissem a Constituição, veriam – atenção à ironia! – que PARECE que municípios não precisam legislar sobre Corridas de Rua. PARECE.

Como disse o Luís Oliveira, falta-lhe café… uns 2 alqueires de pé de café pra ele carpir.

No texto de hoje refiro-me à lei que diz, resumidamente, que corridas em Campinas que cobrem inscrição terão que reservar 10% do valor da inscrição aos vencedores (masculino, feminino e categorias por faixa etária). Uma lei estúpida como essa só ganha espaço e terreno num país como o Brasil. Somos um povo demasiadamente paternalista, queremos um estado “paizão”, grande e forte cuidando de nossas vidas por nós, já que não saberíamos nos cuidar sozinhos. Junte-se a isso nosso pavor ao lucro de outrem (o meu lucro é sempre justo e honesto!) e a alquimia é catalisada e potencializada!

palhaço-brasil

Somos mesmo uns palermas que precisamos de babá…

O que a maioria dos brasileiros não entende quando clamam por “mais estado” ou quando aplaudem uma dessas palhaçadas é um princípio que você aprende em uma semana estudando economia: o estado não gera nenhuma riqueza, o estado não produz 1 centavo de dinheiro. Quem produz, é o cidadão com seu trabalho. O estado e nossos representantes políticos têm a missão é de gerir a melhor maneira possível de investir o dinheiro de impostos e tarifas. É assim que funciona!

A segunda razão para uma lei dessas ganhar tanto apoio eu acho que se explica pela pressa de quem não leu, ou não entende como funciona o mundo real, ou que não parou para ver como ela funciona. Não existe almoço grátis, diz o ditado. Papel aceita qualquer coisa, mas o mundo não funciona na base da teoria, mas da prática. Quando você decide de cima para baixo que 10% viram “imposto” direcionado aos mais rápidos, os inscritos terão que passar a pagar esse valor extra, afinal dinheiro não brota em árvores. Como o comportamento humano não atende as leis, mas sim a direção dos incentivos financeiros, saiba que o dono do evento não é tonto para bancar excentricidade de político que joga pra torcida. Na teoria, uma lei pode direcionar até 99% da inscrição, pois o lucro permanecerá intocado e os corredores é que pagarão pela extravagância.

É tentador achar que bastam leis mal redigidas para o Brasil ser uma potência olímpica e aquele atleta dedicado que você conhece ganhar finalmente uma recompensa à altura do esforço dele. Mas não é assim, afinal, cidades não têm que legislar sobre esse mercado. Não podemos nunca nos esquecer que tudo tem um custo. Inventar essa taxa tem uma consequência clara e direta: aumento do valor da inscrição. Outra consequência é a redução do número de provas. E lembre-se que vivemos no país do ié-ié, isso aqui nunca foi sério. A persistir essa Lei Jabuticaba, aquela que só existe no Brasil, basta um jeitinho para uma corrida nunca ter mais de 1.000 inscritos pagantes. Vai virar um festival de “cortesias” e vendas de camisetas burlando a lei.

Uma busca muito rápida me revelou 5 provas (devem haver outras ainda) que tenham mais de 1.000 inscritos: a Meia Maratona Amil, a Corrida da Lua (6km e 10km) e a Corrida Integração – EPTV (5km e 10km). Iria ser engraçado elas mudando para cidades vizinhas para ver a cara dos defensores dos pobres e oprimidos que acham que algo complexo se resolve só com boa vontade e lei tosca.

A mania tão brasileira de fazer caridade com dinheiro alheio...

A mania tão brasileira de fazer caridade com dinheiro alheio…

Aliás, o baixo número de provas com mais de 1.000 pagantes na maior cidade do interior do país por si só já deveria tirar da cabeça de gente teimosa a ideia de que organizar corridas é garantia de lucro alto e fácil.

Por fim, esquece ou não sabe quem ignora que uma prova já paga à cidade taxas altas pelo uso das ruas. Aliás, a prova não… VOCÊ quem paga! O Sr. Tico Costa não acha suficiente e quer que você pague mais. Mas o dele, eu te garanto, continua intocável, afinal ele legisla sobre o próprio salário. E se você vier dizer que meu pensamento é muito capitalista neoliberal, vou dizer que acho você um tremendo ganancioso sem escrúpulos que defende só 10% aos vencedores enquanto eu acho que a lei deveria ser revista, deveríamos dar 90% aos vencedores. Afinal quem vai pagar são os vereadores de Campinas e os organizadores, né? Não?! Ixi… seremos NÓS!!

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62 pensamentos sobre “Uma lei tosca em Campinas que é a cara do Brasil!

  1. Ellison Souza disse:

    Eu acho que a questão é que fizeram a lei e ela é facilmente burlada. Exemplo: As inscrições eram R$ 100,00, agora as inscrições são R$ 10,00, mas você tem que comprar a camiseta e o boné para participar da competição que tem o custo de R$ 100,00. Pronto a lei foi para o lixo.

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  2. admin disse:

    É o modelo exato do político brasileiro. Como disse seu amigo, um idiota ocioso.

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  3. Ate hoje nao descobri qual a utilidade de um vereador a nao ser receber salarios.

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  4. augusto.thome disse:

    Agora a melhor desta lei é que menciona dentro do seu artigo 2….

    ” § 2º- A premiação das categorias por faixa etária observará o disposto no artigo 10 da Norma 07 da Confederação Brasileira de Atletismo – CBAt.”

    …MAS NÃO EXISTE ARTIGO 10 NA NORMA 7 da CBAt!!!! 🙂

    Sensacional, não??!!

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  5. Gostei do texto, tanto é que publiquei na minha revolta disfarçada na página do meu Facebook. Sou Coordenador de Eventos Esportivos da Prefeitura de Campinas e fiquei estarrecido com a notícia (fui pego de surpreso em plena viagem de férias). Em meio a tudo isso, continuo acreditando no bom senso e na boa conduta de alguns leigos tanto na lei como no esporte, como é o caso do Ver Tico Costa.
    Busquei informações e percebi que a Lei foi criada para um nicho ínfimo de atletas mal resolvidos, encabeçado por uma assessoria esportiva da cidade.
    Sobre a questão do Art 10 da Norma 7 da CBAt, o tal artigo foi retirado esse ano e a maldita lei em questão foi retirada de votação em plenário por 2x, ou seja, o Projeto Lei vem “rolando” nos corredores do legislativo da cidade desde meados de agosto de 2014. A pressa em mostrar a incapacidade de legislar e emplacar um conceito burro sobre as corridas de rua em Campinas, não se atentaram em atualizar a Lei.
    Apenas para acrescentar o que foi mencionado, Campinas tem em torno de 26 corridas de rua e acredito que em nenhuma com menos de 1000 participantes. Sendo a Corrida Integração a mais antiga e volumosa, beirando 7000 corredores oficiais (com pipocas a conta chega a 10.000). Somos a única cidade fora as Capitais do pais a sediar por 3 anos a Corrida Criança Esperança (até a criação dessa Lei rs).
    Essa semana reuniremos com o autor da presepada juntamente com os organizadores de corrida de rua de Campinas, SP e outras cidades que realizam eventos aqui para que possamos fazer uma certa “audiência pública”, coisa que deveria ter sido feita enquanto a Lei era apenas um Projeto, ou foi feita, mas ninguem soube (pois não era para saber rs).

    Vamos ver!

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  6. Jackson disse:

    Acho que quem é idiota é você, que deve ser empresário, em Campinas, e está achando ruim porque agora vai ter que pagar os 10% aos verdadeiros atletas. Ou deve ser um parente de um empresário. Enfim deve ter algum interesse que as coisas permaneçam como estão, só os empresários ganham. Essa Lei deve se estender para todo o país, eu já estou me movimentando para isso, espere.

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  7. […] dos 45 minutos e a Meia Maratona acima de 1h45. Na categoria nacional: a cidade de Campinas (SP) tentou obrigar as organizadoras de corrida a reverter 10% das inscrições em premiação em dinheiro para os vencedores gerais e na s […]

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  8. paulo disse:

    O vereador atendeu a um desejo da população.
    Aqui em Minas tambem queremos aprovar isto. E em breve em todo o Brasil. Ninguem é obrigado a organizar corridas de rua. Se organiza deve cumprir com seus deveres perante a sociedade. Ficar só enriquecendo em cima das costas dos outros é coisa tipica de oportunistas sem MORAL. Valeu? Bons sonhos.

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  9. Josué disse:

    Eu concordo com a lei, o único incentivo que uma criança ou um adolescente ver para o sacrifício de treinamentos para fazer resultado nas corridas de ruas é a premiação, quando isso não acontece, é desestimulante, por isso muitas corridas de 10 km é costumeiro os vencedores fecharem a prova ja na casa dos 40 minutos no masculino e no feminino ja acima dos 50 minutos. Eu não sou contra o empresario ganhar dinheiro, so entendo que ele também tem um papel social e que deve contribuir pra isso.

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    • Danilo Balu disse:

      Temos o costume de achar que as pessoas respondem àquilo que a GENTE acha que é certo, e não àquilo que ELAS acham que as motiva. Taxar alguém para fazer u bem social (incentivar crianças a correr) parece nobre, mas na prática é algo que quase ninguém quer fazer, não na base da canetada. Tb acho que deve haver contrapartida do empresário (hj fica apenas na base de taxas), mas tem que ser algo pensado.

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  10. paulo disse:

    A Ativo.com e a TBH estao monopolizando o mercado de corridas de rua. Aqui em Minas a Ativo ja chegou. Custa premiar os atletas? R$ 50,00 x 2.000 dá quanto? Tenho varios colegas atletas que estão desistindo de correr. Desrespeito ao cidadao brasileiro. Soloneis, Joao GAris, pessoas que conheço, algumas ja visitei na casa deles, Ronaldo da Costa.

    O Circuito Adidas e a Track e Field são exemplos de elitização do atletismo brasileiro.
    corridas carissimas, sem premiação.

    Enquanto isto no Kenia centenas de atletas se preparam para vir aqui e ganhar de Solonei e Marilson. Em uma terra em que cai uma ciclovia no dia da entrega da Tocha Olimpica.

    Dificil para mim eh me apresentar como atleta em minha cidade e tentar convencer um menor delinquente a ser um cidadao atleta e renovar sua vida, sabendo das coisas que sei.

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  11. paulo disse:

    Nao aprendi a ganhar dinheiro roubando das pessoas.

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