O Brasil da corrida é um Brasilzão

Tem uma coisa que sempre falo aqui, e não é da boca pra fora, sobre um 11o Mandamento que deveria ser exercido conscientemente: “não se levarás muito a sério”. Pois neste final de semana fui pela primeira vez a Goiânia a convite antigo de uma organizadora local pra correr uma prova deles. Falei ainda brevemente aqui, faz algumas poucas semanas que já não trabalho mais na ASICS. Talvez poucas coisas sejam mais interessantes do que quando você pode ver tudo “de fora” do furacão. Talvez seja um mal da vida moderna, mas não só achamos que somos mais importantes do que somos, achamos que observam o que fazemos mais do que realmente o fazem. E falo de um aspecto mais geral mesmo, menos indivíduo…

Certa vez, acho que o Zé Lúcio (ex-Revista O2) cunhou o termo ibirapueracentrismo. Mais ainda, alguém de outra revista disse sem nem ficar corado de vergonha que a adidas crescia no mercado porque ele via “os companheiros de treino dele usando (a marca) na Marquise (do Ibirapuera)”. Era essa a conclusão fundamentada dele.

O Cassio Politi, um ótimo analista do mercado, diz que se somos 4 milhões de corredores, alguém que tenha 4.000 seguidores, terá em média 5 seguidores em uma grande prova. Cinco! A média é porca, eu sei. Mas neste final de semana, por exemplo, rolou a etapa de 21km do Circuito Athenas aqui em SP. Foram cerca de 2.700 concluintes, o que a coloca entre as 10 maiores Meias do país. Mas é bem capaz que sua timeline tenha sido tomada por um dos 523 brasileiros em Nova Iorque. Ok, isso não diz nada sobre você, nem sobre o mercado, mas diz quem são seus amigos. Na prova paulista, por exemplo, cerca de metade jamais correu uma Golden Four. Eu estou querendo dizer o seguinte: o Brasil é enorme, nosso Brasil é um Brasilzão. Mesmo SP tem cidades que não treinam nem correm perto uma da outra.

Volto à Goiânia. O que eu vi lá na prova de sábado à noite confesso que nunca havia visto fora daqui de SP ou nos eventos do Kiko (Mountain Do). Já tinha ouvido muitos elogios à Sport Tracks, com gente que sai de Brasília e região só pra correr lá, mas vi uma realidade muito melhor. Mais do que isso. Como nunca uso guarda-volume de provas, fui deixar minhas coisas com algum treinador conhecido. Saí andando e vi que temos um mercado tão grande de assessorias que beira à ingenuidade achar que sabemos o que se passa em tantos lugares. Na Maratona de SP andei pelo evento e vi grupos de corridas que treinam exclusivamente fora do eixo Ibirapuera-USP. Essa gente nunca entra na conta da maioria dos e s p e c i a l i s t a s. Um próprio levantamento que postei aqui tempos atrás mostrava quanta gente treina fora dos horários padrões de assessorias. Não há comunicação de uma pessoa sozinha ou empresa que seja que alcance esse povo tão heterogêneo.

Dias atrás, uma colega argumentou sem nem ficar corada de vergonha, que ela deveria receber pagamento em dinheiro para postar sobre produto em sua rede social porque ela conseguira vender 15 saias pelo Instagram. Aí eu volto à conta-piada do Politi: que desses 4 milhões seja ¼ de mulheres. O que são 15 saias no universo de 1 milhão de corredoras? O que são alguns adizero a mais numa realidade tão maior?

Já faz um tempo que eu acho que ficar revisando release de evento ou cor de campanha é algo muito pequeno, passa despercebido. A coisa é muito grande, muito maior, e a gente tende sempre a achar que estão prestando atenção demais nas coisas quando a maioria nem vê nada, só quer correr e não está nem aí para uma opinião específica.

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16 pensamentos sobre “O Brasil da corrida é um Brasilzão

  1. martinhovneto disse:

    “[…]e a gente tende sempre a achar que estão prestando atenção demais nas coisas quando a maioria nem vê nada, só quer correr e não está nem aí para uma opinião específica.”
    Frase do ano. Penso exatamente isso.

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  2. Roberson Guimarães disse:

    Gostei.

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  3. Linus curtiu isso.

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  4. Hélio Shiino disse:

    – O Brasil da corrida é um Brasilzão –

    Você vê n-sites de calendários de corridas.
    Você vê trocentas corridas agendadas em cada um destes sites.
    Quem nunca se perguntou: “Será que é tão fácil organizar uma prova de rua de 5k/10K???”
    Logicamente que estou sendo irônico, mas são zilhões de corridas que a gente fica achando que é moleza!

    A aferição da distância está sendo feita em todas estas provas???
    É só verificar se há, no mínimo, a logomarca da CBAt no material de divulgação destes eventos esportivos?

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    • Danilo Balu disse:

      Sim! Até vc encarar uma planilha de custos rsrs um dia vou dar um tapa em uma e compartilhar aqui…

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    • martinhovneto disse:

      Hélio, eu já corri aqui em minha cidade corrida de 5k com 4,5 e corrida de 10k com 11,5. E não foi garmim que disse não, foi o organizador! Rsrsrs. Eu ACHO que, pelo menos aqui, onde o mercado é “novo” corrida aferida será um segundo passo… Um contrasenso eu sei, pq é mais obrigação do que qualquer outra coisa. Mas um dos motivos deve ser essa provável planilha deficitária de custos que o Danilo Balu falou aí!

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      • Danilo Balu disse:

        Acho que há duas coisas BÁSICAS que se deve entregar numa prova: distância decentemente aferida e água a cada 5km. Tem que se partir desse mínimo BÁSICO.

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      • martinhovneto disse:

        Verdade Danilo Balu. C tem razão. Foda prova medida com hodômetro de carro…

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      • Danilo Balu disse:

        Confio no Google Maps, mas em carro não…

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      • Adriana Piza disse:

        Sabe o que tenho feito ultimamente? Escrevo para a organizadora perguntando se a distância é aferida corretamente. E não é que eles respondem quando não é e dizem qual é a distância que terá na verdade??? Eles falam exatamente quanto terá, e aí decido se vou ou não….para não ter surpresas! Só não sei porque vendem uma coisa e entregam outra….sabendo que está errado!

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      • Danilo Balu disse:

        É a maldição da participativa que vc me disse outras vezes…

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    • Hélio Shiino disse:

      As colocações que eu fiz da aferição e da realização de provas a cada esquina foram propositais sim.

      Não faz muito tempo, você não cansa de ver: A 1ª corrida da farmácia do Seu Zé. A 1ª corrida da padaria do Seu Manoel. A 1ª corrida da supermercado do Seu Antonio. E por aí vai.

      Quando eu vejo o preço da inscrição, eu, pelo menos, me assusto pelo baixo custo. Não nado em dinheiro e tão pouco nasci em berço de ouro.

      Voltando, o ponto é, será que é tão fácil e barato se realizar um prova??? Foi quando você, Balu, citou a planilha de custo.

      O que é barato e o que é caro? Não sei, só sei que quero um preço justo. Preço justo dentro do serviço que eu estou comprando.

      Se lembra Balu, em um um post antigo, você afirmou que devemos nos considerar consumidores ao fazermos uma inscrição de corrida de rua??? Ok. Então, eu exijo pelos menos o serviço que eu contratei. Se é uma corrida de 5k, quero correr uma corrida de 5k, logicamente dentro da margem de erro aceitável.

      E a questão da aferição está por conta disso. Não perco meu tempo de brincar de correr. Treino regularmente, o que eu considero estudos para um exame de proficiência que é a corrida oficial. Quero ser avaliado na disciplina que eu treinei (estudei). Se eu estudei 5k, quero que me avaliem através de uma prova de 5k se eu tenho proficiência. E não aceito medição nas coxas. Foi por isso que perguntei se bastava verificar a logomarca da CBAt e, me lembrando agora, se também for citado isso no regulamento.

      Não estou acusando organização X, Y ou Z, mas o grande responsável por uma vulgarização das corridas não aferidas e à “preço popular” de uma economia porca é o próprio corredor!!! Aquele corredor que se perguntarmos o que mais ele releva quando faz uma inscrição em uma prova de 5K, por exemplo, responder que o mais importante é o kit corrida, é a água geladinha de 100 em 100m, a música bate-estaca para animar não sei o quê etc. O mais importante e é o que está sendo divulgado no evento esportivo, que é a distância correta, isso muita gente não se importa. Não se importando, o cara ali da farmácia, da padaria, do supermercado, saca essa displicência do consumidor e começa a organizar corridas mais-ou-menos, para um corredor mais-ou-menos, para ter um resultado mais-ou-menos, pois ele já sacou que eles querem tudo menos o mais importante – a distância correta.

      Repito, não tenho dinheiro para sempre pagar inscrições de 3 dígitos mas também não me iludo com valor de inscrição “vem cá trouxa.”

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      • Danilo Balu disse:

        Aferição tem que estar no pacote. Só não concordo que o valor esteja atrelado ao custo+lucro. .. o preço é o valor percebido, mesmo que a margem seja gde. .. dá pra pagar R$1 ou R$15 em cafés similares, depende de sua escolha.

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      • martinhovneto disse:

        Concordo em muita coisa do que você disse Hélio, entretanto o mercado tem que ter maturidade consumista para cobrar certas coisas. Em um mercado majoritariamente “iniciante”, o corredor leva sim em consideração “espelhos e bugigangas” ou o simples fato de correr em uma prova, postar sua selfie e confraternizar. Mas não vou deixar de correr Corrida sem o bendito selo da CBAt, nem vou ser um em um grupo de 10 brigando por isso. Muito menos vou boicotas as únicas 5 do “calendário” daqui. Só posso propagar a importância disso para cada pessoa que intende e/ou possa repercutir de uma maneria efetiva (Inclusive já comentei isso como o Pres. do CREF daqui). Sou um corredor hiper iniciante, mas não um desportista iniciante. Já representei o meu estado em várias competições relevantes em outro esporte e sei da revolta que dá certas condições que encontramos em provas até mesmo “oficiais”. Mas se é tão importante a aferição (e eu concordo em cada milímetro que é) que se criem mecanismos para evitar estas corridas de beira de esquina sem critérios. Me sinto aqui como na abertura dos importados da déc. de 90 no Brasil onde só quando alguém me trouxer um Corolla eu vou ver que meu Gol é ruim. Mas não culpe o corredor 100% por algo. Existe contexto e mercado envolvidos. E só para você ficar mais estarrecido (rsrsr), corrida não aferida não quer dizer corrida barata. Pelo menos não aqui…

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      • Hélio Shiino disse:

        – E só para você ficar mais estarrecido (rsrsr), corrida não aferida não quer dizer corrida barata. Pelo menos não aqui… –

        Se é possível ter corrida aferida e barata, então tiver o azar de encontrar, por diversas vezes, divulgação de corridas baratas sem o selo da CBAt.

        Aproveitando este raciocínio. Não sei o custo, mas aferição junto a CBAt tem um valor alto a ponto do repasse ser para a inscrição? Se não tem, é desconhecimento da Organizadora que esta prática é um requisito mínimo e necessário?

        Existe alguma “fiscalização” itinerante como aquele antigo cargo de Fiscal de Posturas do Município que vistoriava, entre outras coisas, Feiras Livres? Porque, sem trocadilho, organizar corridas de rua vai acabar virando uma Feira.

        Não culpo completamente os corredores, mas eles são os principais agentes modificadores de muita coisa que se “joga por debaixo do tapete”. O consumidor “abre o bico” quando é algo de interesse dele, se não é, ele releva e todo um cenário se acomoda achando tudo isso muito normal. É que nem Greve, só se faz quando algo está incomodando. Para o patrão, enquanto não reclamar, está tudo bem. Por isso que digo e repito: Há os corredores que veem a corrida de rua como esporte, e para estes o produto tem que conter o que foi divulgado, mas para aqueles que veem a corrida de rua como mero evento de dar a largada e cruzar o pórtico, independentemente, do quanto percorreu…

        Por isso que fico me perguntando, o porquê de todas as Organizadoras não fazerem a aferição??? Desde quando eu me entendendo por gente, qualquer coisa que é obrigatória e necessária ser feita, se não é feita, se está economizando algo em algum ponto do processo.

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      • Danilo Balu disse:

        VOU DE CAIXA ALTA…

        Aproveitando este raciocínio. Não sei o custo, mas aferição junto a CBAt tem um valor alto a ponto do repasse ser para a inscrição? Se não tem, é desconhecimento da Organizadora que esta prática é um requisito mínimo e necessário?
        O CUSTO DO “SELO CBAt” É ALTO (NÃO EXORBITANTE), DÁ TRABALHO, NÃO É DIFERENCIAL PRA MAIORIA DOS ATLETAS E EM EVENTOS MENORES PESA NO CUSTO FINAL. VOU TENTAR SEMANA QUE VEM POSTAR UMA PLANILHA. AFERIR SEM O “SELO” É MAIS BARATO.

        Existe alguma “fiscalização” itinerante como aquele antigo cargo de Fiscal de Posturas do Município que vistoriava, entre outras coisas, Feiras Livres? Porque, sem trocadilho, organizar corridas de rua vai acabar virando uma Feira.
        AS FEDERAÇÕES DEVERIAM FISCALIZAR. POUCO O FAZEM, VC PAGANDO O “PEDÁGIO” ELAS ESTÃO SATISFEITAS. AS QUE NÃO QUEREM PAGAR, FAZEM SEM AUTORIZAÇÃO. É O BRASIL.

        Não culpo completamente os corredores, mas eles são os principais agentes modificadores de muita coisa que se “joga por debaixo do tapete”.
        EM UM ESPORTE COM TANTOS NOVATOS, HÁ QUEM COMPRE O RUIM PORQUE SIMPLESMENTE NÃO SABE O QUE É BOM. HÁ MTO INICIANTE QUE É PIPOCA QUE NÃO SABE QUE É “ERRADO”. AS FEDERAÇÕES PODIAM ENTRAR NESSA LACUNA.

        Por isso que fico me perguntando, o porquê de todas as Organizadoras não fazerem a aferição??? Desde quando eu me entendendo por gente, qualquer coisa que é obrigatória e necessária ser feita, se não é feita, se está economizando algo em algum ponto do processo.
        NÃO É OBRIGATÓRIO AFERIR. VC PODE PEDIR LIBERAÇÃO À FEDERAÇÃO E NÃO AFERIR.

        DESCULPE PELO CAPS LOCK…..

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