De Elogios, da Endless Run ou da tal superioridade do corredor.

Sheldon: Você me comprou um presente? Por que faria algo assim? Eu sei que acha que está sendo generosa, mas o fundamento de dar presentes é a reciprocidade. Você não está me dando um presente. Está me dando uma obrigação. É um erro clássico e rotineiro. A essência do costume é que agora tenho que conseguir um presente de valor equivalente representado o mesmo nível de amizade do presente que deu para mim. (The Big Bang Theory)

Dias atrás recebi elogios em mensagem privadas de um grupo. Pedi que não mais me elogiassem e que tratassem de ler coisa melhor. Óbvio que me deram patada, pareceu que eu estava fazendo o tipo humilde. Que não se enganem, nada é mais agradável que receber elogios quando você escreve um texto. A melhor coisa nos eventos de corrida é encontrar pessoas que só conheço virtualmente como leitores. E eu definitivamente não vou aqui fazer tipo justamente porque “a modéstia nada mais é do que a vaidade esperando aplausos”. Mas eu pedi isso aos 3 colegas que elogiaram no grupo porque é um favor que eles me fazem. Ao me elogiar, vou ter que elogiá-los de volta mesmo se escreverem alguma porcaria. E eu não gosto disso. Vou me explicar…

Um dia desses estava lá numa rede social uma sequência enorme de retuítes (RTs) para uma mesma pessoa. O RT para amigo ou chefe não deixa de ser um jeito de puxar-saco em público, por isso o faço com enorme parcimônia. Aliás, vale lembrar que dependendo de quem é, quando vejo um RT na minha timeline, eu já entro com o extintor do Didi Mocó sem nem ver o contexto! Pois por curiosidade entrei em um link, rolei a página e… tchã-rã! Vi que o “pagamento” pelos RTs estava alguns parágrafos abaixo: um lambe-saco de dar congestão.

Gente, não há ego que resista, elogie e o retorno cedo ou tarde virá. É gostoso, mas tira o Norte, ele te tira um pouco do chão. Tem que ser muito centrado pra não se convencer. Meu exercício foi pedir que não o fizessem. Façam críticas duras aqui quando não gostarem, pois faz mais bem do que o elogio. Faço isso muito a contragosto, mas sou egoísta e estou pensando em mim, não em vocês.

Ainda do ego… e da adidas Endless Run

Dias atrás falei do grupo de jornalistas que veio trazer o apoio deles sobre a questão do perigo no trânsito. Ninguém queria saber a opinião deles, mas o ego é assim, como a gente não dá a mínima pelo que eles acham disso, eles trouxeram mesmo sem a gente pedir. Basicamente não entendem que não se faz revolução só curtindo ou compartilhando imagem no Facebook, tem que sair por aí matando gente. É assim no mundo real.

Por algum motivo eles pedem cuidados especiais a quem corre porque imaginam um Brasil que é uma Índia e o corredor é uma vaca. Eles creem na tola ideia enraizada de que corredor é uma pessoa boa, dedicada, não preguiçosa, corada, bonita,  ecologicamente correta que traz flores e que lava a louça depois do jantar. Bobagem. O corredor brasileiro é antes de tudo, um brasileiro, com todos os seus defeitos de série e alguns opcionais de fábrica, como… o de achar que é especial!

Pois nesse domingo rolou em SP a boa sacada da adidas de fazer uma corrida intervalada. O problema é que quando você coloca dinheiro na mesa, amigo, o caldo engrossa. Então apareceram inúmeros casos de fraude que atrasaram e comprometeram o andamento do evento. Uma pena. E agora há quem escreva com cara de incredulidade. Ou é ingenuidade ou burrice. E há sempre ainda a opção de ser as duas coisas, lógico.

Resumindo, no espetacular A mais pura verdade sobre a desonestidade (The (Honest) Truth about Dishonesty), Dan Ariely explica que o roubo não é só uma questão de se pesar risco e benefício. É também uma questão de aceitação da sociedade. Todos nós temos uma imagem positiva de nós mesmos e queremos que ela seja assim mantida. E isso talvez explique o porquê aqueles jornalistas (todos corredores) acreditem naquela besteira.

O preocupante é que Ariely conclui que fiscalizar ou punir pouco influenciará a decisão de roubar ou não. Não será pela corrida que você será uma pessoa boa. Então não faça cara de espanto, os corredores da prova da adidas eram antes de tudo, brasileiros e humanos.

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22 pensamentos sobre “De Elogios, da Endless Run ou da tal superioridade do corredor.

  1. Fernanda disse:

    Olá Balu, não vou elogiar mas ri sozinha ao ler que o Brasil é uma Índia e o corredor uma vaca…hahaha
    Quem pega o chip do amigo entra na categoria “esperto” também? A lógica é que se a inscrição está paga, qual o problema em usar um nome que não é o próprio e sim do amigão.
    Pipoca também pode ser considerado uma pessoa especial que SÓ usa uma estrutura que já está lá, que mal tem?
    Por vezes te acho radical demais porém na maior parte das vezes coerente.

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  2. Outra coisa chata é ouvir maratonista falando: “não tinha ninguém na rua pra me aplaudir ou incentivar”.
    Ué, o cara está correndo uma maratona porque quer e gosta, por que ele acha que alguém que não corre deveria madrugar num domingo e ficar na rua batendo palmas pra quem passa correndo ?

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  3. Prêmio deste valor (viagem internacional) em corrida para amador acho besteira.

    Vou fazer uma meia neste domingo e o “prêmio” para os primeiros na categoria é 30 dólares num cartão de compras (aquele em que você tem que gastar pra aproveitar).
    E para os primeiros gerais? Um tênis!
    Veja aqui:

    Clique para acessar o Race-13.1-Raleigh-Fall-2014-Athlete-Guide.pdf

    E não é corrida barata não.
    75 dólares a inscrição.

    Acho besteira prêmio para amador, acho besteira também medalha em toda prova.

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    • Tadeu Góes disse:

      Eu trocaria medalha e camiseta por um valor mais baixo de inscrição.

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      • Danilo Balu disse:

        Sempre fui contra medalha em todos os eventos… talvez porque do era moleque e comecei a correr sempre ganhei as minhas mesmo “por mérito” qdo eram apenas pros 100 primeiros. Naquela época eu era fã da meritocracia… acreditava nisso, no futebol e que o vôlei e a Indy eram esportes mundiais. Hj não me incomoda mais… ela, assim como as camiseta, não são importantes pra mim em >95% das provas, mas ela é MUITO importante pra MTA gente que começa a correr. O erro a meu ver é qdo o cara não desliga chave e continua achando medalha imprescindível ou como o maior objetivo da prova mesmo depois de ter quilos dela.

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  4. Julio Cesar Kujavski disse:

    sobre camiseta e medalha: Estava guardando todas as camisetas de corridas, devo ter mais de 100. Até segunda-feira vou dar uma geral e doarei a grande maioria delas. Ficarei com umas 10 no máximo, as que são mais gostosas pra treinar, e as de manga longa, que aqui no sul são ótimas pra usar por baixo das outras roupas no inverno.
    Mas medalhas estão em uma gaveta e ainda não sei o que fazer com elas, pois para doação não servem. Quem sabe eu anuncio no mercado livre.. rsrs…

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  5. Rodrigo Richard da Silveira disse:

    Balu, acompanho seu blog e sou partidário da maioria das suas colocações. É muito bom saber que ainda há pessoas que possuem a coragem de expor o que pensam sem se preocupar com a chatice da ditadura do politicamente correto. Sou professor na UFMG e tenho batido muito nisso durante minhas aulas com meus discentes. Continue firme!!! Abraço.

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  6. sacadura lima junior disse:

    Apenas p tentar contribuir…..
    Ninguém deve ser algemado e levado p um presidio ou apedrejado em uma praça ou se considerar nâo corredor porque :
    Não gosta de correr em pista.
    Não gosta de provas curtas
    Não gosta de fazer tiros
    Adora ingerir um carboidrato moderadamente
    Não usa tenis baixo
    Gosta de ganhar medalhas,camisas ou qualquer outra coisa em kits.
    Está disposto a pagar determinada quantia em uma prova.
    Uns gostam de medalhas de participação outros gostam de camiseta outros gostam de numero de peito outros gostam de gps…..que maravilha a diversidade humana!!!!!

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    • Andre Dias disse:

      Mandou bem, Sacadura. Cada um faz o que quer, desde que não prejudique o outro. Porque tamanha necessidade em rotular as pessoas?

      Acredito que este comportamento em rotular vêm da crença de que nós corredores, somos superiores aos demais e uma vez encontramos um montão de outros corredores, temos que de alguma maneira desqualifica-los para continuar nos sentindo superiores: seja pela distância, pela velocidade, pelos acessórios que uso e etc. Isto se aplica para outros segmentos da vida também.

      Discordo Balu, quando você afirma “que o erro a meu ver é qdo o cara não desliga chave e continua achando medalha imprescindível….” Quem somos nós para julgar o outros pelo que o motiva a participar de uma prova? Não é preciso concordar com o cara, apenas respeitar a opinião do outro.

      Uma vez li num site: o que difere nós, corredores, dos não corredores, é a disposição em correr. Nada mais.

      André

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      • Danilo Balu disse:

        Não me entenda mal, apenas ainda acho que dá pra fazer uma prova sem medalha, só isso. Eu prefiro que tenha.

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      • Tadeu Góes disse:

        Gostaria de ver/participar de uma corrida que não dessem camiseta e medalha. Acho que aqui em Sorocaba ficaria a míngua, livre para correr, sem caminhantes nos primeiros kms, delícia.

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    • Tadeu Góes disse:

      Concordo em GN e G. Respeito a diversidade humana.

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  7. anaminarelli disse:

    Boa André… gostei da frase!

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  8. Antes dava mais importância para a medalha, organizava todas e gostava da minha coleção. Aí, foi crescendo demais, demais, demais. E começou a ser um estorvo. Doei várias para um amigo que faz corridas infantis, para ele dar para a criançada. Ainda tenho algumas que tem algum valor sentimental, mas a maioria, olho hoje, e não vejo vontade nenhuma de manter. É mais para enferrujar e ocupar espaço. Estão na lista de doação.

    Hoje já não faço questão da medalha. Escolho a prova mais adequada para tentar baixar meus tempos ou para correr com os amigos. Algumas nem pego, outras pego e já separo para doar. Para quem começa é, de fato, bem importante a medalha. Já não tenho mais esse apego. O que faço é tirar uma foto delas para guardar no computador. É o suficiente para minha mania de registrar tudo.

    Também acho desnecessária premiação para categoria. Uma medalha especial ou troféu só ocupam espaço e pegam pó em casa. Aí, a Endless vai lá e dá viagem internacional como prêmio e lógico que o olho cresce e o pessoal ia tentar fraudar.

    Gosto da camiseta. Não é algo fundamental para decidir correr a prova ou não, mas para os treinos do dia a dia são bem úteis. Corrida sem medalha, sem camisa, só com um chip pra marcar o tempo, com preço menor talvez, seriam bem legais.

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  9. Angela disse:

    Eu tenho essa mesma opinião sobre a tamanha de falta de educação no trânsito. Os motoristas ignoram pedestres, que por sua vez reclamam dos os ciclistas, que são mal educados com os motoristas porque esses não os respeitam. Os corredores usam a ciclofaixa, os carros a faixa de pedestre, os ciclistas a calçada e os pedestres atravessam na rua. São todos um só, são as mesmas pessoais, com a mesma educação, a mesma cultura, só muda o veículo.

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