Corrida mata? Exames médicos obrigatórios matam mais.

*o texto que vai abaixo foi escrito na Quinta-Feira passada, antes de desenrolares tristes deste final de semana. Por honestidade com vocês, ele segue sem uma única alteração sequer. Era o que eu eu pensava antes, continua sendo o que penso hoje.

“Toda morte nos diminui”, disse o poeta. A notícia do Rodolfo Lucena de que 3 pessoas morreram em provas de Meia Maratona assusta de cara. Uma garota interrompida aos seus 16 anos choca ainda mais. Já sabem, não falo de mortes aqui nem de pais irresponsáveis colocando crianças pra correr longas distâncias porque isso é dar publicidade quando deveria haver é reprimenda.

Um dos livros mais interessantes que já li sobre comportamento é do Dan Gardner. Em Risk, ele explica como nossa memória nos trai e como somos falhos com estatísticas de risco. Ao falar sobre morte em provas se agrega um falso temor em uma atividade muito segura. Então não falo nem noticio. Mortes há aos milhares e a corrida se prova segura. Muito segura!

A maior papagaiada dessa tragédia é quem tenta falsamente nos proteger. Não demorou para que houvesse o corporativismo de plantão levantando bandeiras querendo garantir o seu trocado e sua reserva de mercado: “busque orientação profissional para evitar tragédias”. Nisso reforço o que disse dias atrás: um treinador é tão capaz quanto um dado de 6 faces para prever suas chances de lesão.

Quem aproveitou a tragédia para reforçar esse tipo de conselho, não ajuda. Lembro que tempos atrás, recebi uma série de mensagens um tanto quanto exaltadas e muito mal educadas do Dr. Nabil Ghorayeb. Colegas que somos no time de colunistas do Webrun, o médico reforçou o coro da corporação contra o acertadíssimo fim da obrigatoriedade de exames médicos em academias paulistas.

20111123É muito anos 70 e 80 achar que na canetada vamos transformar o comportamento do ser humano. Cada um tem suas motivações, e ter que pagar a classe médica para podermos nos exercitar definitivamente não ajuda, o custo e a burocracia apenas incentivam que tenhamos mais desculpas para manter o nosso sedentarismo. Queria eu na base da caneta ganhar dezenas de milhares de clientes com a balela de que vou evitar mortes. Exames médicos obrigatórios não salvam vidas, evitam é que mais gente pratique esporte. E só.

A experiência que tive de treinador na Europa me fez mudar ainda outra opinião: por que ter que estudar 4 anos pra dar treino? É um non sense. Boa parte da Europa e EUA exigem cursos de 1 ano e meio. Aqui em SP não. Você tem que fazer 4 anos e, lógico!, pagar um sindicato e a associação de treinadores de corrida, pois cada um quer a sua parte na boquinha. Tudo isso para o seu bem, dizem. Balela. Eu chamo isso de reserva de mercado.

A perda que os pais tiveram com a morte da adolescente deve reforçar um alerta: temos que fazer consultas para checar nossa saúde, devemos buscar orientação e ter prudência. Mas desconfie, no Brasil não faltam categorias que tentam insinuar que se exercitar sem riscos é um hábito tão complexo que exigiria até uma taxa. E ela passaria sempre pelo pedágio deles.

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12 pensamentos sobre “Corrida mata? Exames médicos obrigatórios matam mais.

  1. Luis Oliveira disse:

    Não sei o que aconteceu este final de semana (me perdoe), mas é interessante como um debate simples foge das proporções. Senão, vejamos: buscar identificar enfermidades pré-existentes que poderiam ser agravadas por atividade física vigorosa antes de começar a pratica-las parece ser mera questão de bom senso. Isto dito, o escopo desta investigação é limitado pelos limites da ciência médica. Se o médico for honesto com os limites do seu conhecimento, vai reconhecer que os riscos da atividade são menores dos que os da inatividade. Se ele for realmente intelectualmente honesto, vai reconhecer que não existe risco zero em nada. Aliás, morrer não é risco.

    O problema é que essas mortes de corredores em provas como a meia de NYC são sempre muito visíveis. Quantos peladeiros morrem depois daquele rachão no sítio? Ninguém sabe, não havia imprensa para contar (sem falar em atendimento de emergência).

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    • Danilo Balu disse:

      Houve uma morte na Meia de Campinas e outra na Golden Four Porto Alegre…

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      • Adriana Piza disse:

        Dizer que a corrida não é segura devido às mortes que ocorrem….é como não andar de avião com medo de acidente! Cai um, vira notícia mundial…..todos entram em pânico! Entrar em um avião é mais seguro do que sair na rua….

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  2. Marcel Pracidelle disse:

    assino embaixo.

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  3. Christian disse:

    Grande “Balu” … acompanho e gosto do corrida no ar, mas infelizmente a minha nota para sua “redação” é zero! Fuga ao tema.
    Simples assim, pois vc falou demais e disse muito pouco. Assim como existem médicos oportunistas, existem educadores físicos e treinadores de corrida sem conhecimento suficiente para treinar os seus clientes ou sequer prescrever uma musculação específica… e meu caro, educadores físicos e treinadores só podem mesmo usar um dado para prever o risco de morte súbita que é uma realidade sub dimensionada no esporte e ppte no Brasil.
    Com certeza você conhece os dados da Itália que em algumas décadas fez despencar o número de morte súbita em jovens esportistas com um eletrocardiograma e avaliação médica.
    Então, não se trata de fazer campanha de quem pode mais e sim conscientizar os atletas e esportistas a terem o bom senso de fazer uma avaliação. Pelo menos é o que eu espero de um profissional de saúde correto. E creio ser ainda mais pertinente a avaliação, visto que os entusiastas estão tão aficcionados em metas, paces e resultados quantos os profissionais (que sim, fazem uma avaliação completíssima).
    Creio que vc manisfestou mais algumas frustrações e revoltas do que sua real opinião sobre a avaliação pré participação em eventos esportivos. Não se confunda e não confunda os outros, pois a morte de um jovem muitas vezes mata a família junto, frustra sonhos e assusta e afasta outros praticantes.
    Por fim, as taxas, sindicatos, conselhos e outros abusos, são acara do nosso País.
    Cada um na sua, somos todos importantes.
    Abraço,
    Christian Westgeest
    Cardiologista, pós graduando em medicina do esporte e ciclista.

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    • Sergio Melo disse:

      É a velha reserva de mercado. Mais difícil achar agulha em palheiro do que um profissional de medicina ou edução física que defenda essa linha…
      Sou engenheiro, e infelizmente, seguindo alguns desabamentos recentes, agora, no Rio de Janeiro, todo prédio deve fazer uma autovistoria e enviar o resultado à prefeitura. Uma laudo de um engenheiro custa alguns milhares de reais, e não vai resolver nada. Exatamente como a exigência do atestado médico… mas tem muita gente ganhando dinheiro.
      Show de bola, Balu! exatamente o que eu penso.
      Frequentei academia de musculação nos Estados Unidos e nunca precisei mostrar nada, além de não ter nenhum profissional de educação física supervisionando. Infelizmente somos o país dos atestados e das reservas de mercado.
      Garanto que, se pegarmos o que custam esses atestados e investirmos esse dinheiro em um aparelho de ressonância em um hospital público, o uso seria muito mais eficaz para salvar vidas.
      abs
      Sergio

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    • Danilo Balu disse:

      Oi Christian! Infelizmente não pude parar antes pra responder com calma. A qlide da minha redação (ruim na sua opinião), não torna a msg nem mais ou menos certa. Médicos, Treinadores, Nutricionistas e Marceneiros existem dos bons e dos ruins, acredito que existam os picaretas nas mesmas proporções em todas essas categorias.
      Não, não conheço os dados italianos e até gostaria de tê-los. Pode me passar?
      Mas vc passou longe do meu pto. Não discuto que exames possam reduzir as chances diretas de uma fatalidade cardíaca, por exemplo. Mas contesto aquilo que médicos defensores dos exames e outros profissionais não conseguem ver: as mortes causadas pela obrigatoriedade.
      “De um profissional correto” eu espero que ele me teste qdo eu chegar até ele, não que ele não me deixe treinar porque tenho que pagar o seu pedágio. Esse é o meu pto! Quem quer cobrar a taxa não esquece o enorme mal que ela causa. Se querem que eu pague me lembrando que houve um “sucesso” no passado, eu sou mais competente, eu proibiria o esporte e as mortes súbitas no esporte acabariam. Qual é mais eficiente?? E se eu fizesse isso de graça, ao contrário de quem cobra pra fazer exames. E aí??
      Por fim, toda morte “mata a família junto”… o problema é que a defesa dos exames obrigatórios só atenta às mortes que vcs conseguem enxergar e ignoram todas as demais, por isso tb é um enorme desserviço.

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  4. O caso da menina é o único que me preocupa (talvez por eu ser pai de uma pré-adolescente). Ela ia correr só 5K. Porque decidiu correr 21K? E ainda por cima por uma ONG relacionada a suicídios adolescentes? “Suicidou-se” por isso?

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  5. Cassio Politi disse:

    Médicos são craques em corporativismo. Estão assustados com as redes sociais porque a democratização da informação tirou-lhes muito da capacidade de convencer as pessoas pelo medo. É simples assim: fazer um bom exame completo periodicamente é fundamental. Mas uma porcaria de um atestado médico pró-forma exigido pelas academias era apenas uma pequena indústria da canetada. É médicos são craques nisso também. Texto perfeito, Balu!

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  6. Antonio C disse:

    Fala Balu!!!
    Se, com a obrigatoriedade de lei federal de 4 anos de estudo, ja vemos tanta besteira por ai, imagino se nao houvesse… Quanto aos atestados um dado bastante interessante eh que cerca de 30% das mortes subitas nao tem o causador do obito definido, ou seja, simplesmente a pessoa morre e ninguem sabe identificar a causa. Claro que o atestado medico eh importante so que acho que eh supervalorizado, nao existe exame no mundo que consiga diminuir esses 30%. Ainda acho que o bom senso eh o caminho, mas, estamos no Brasil, neh?
    Abs,

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  7. Acho normal que a maioria dos que defendem a prática de atividades físicas sem exames prévios periódicos não trabalhem com corrida afinal não conhecem os riscos e saem por aí dizendo suas besteiras. Sobre estudar 4 anos para ser treinador, acho muito pouco. Pra continuar trabalhando como treinador então, além de estudar muito mais, tem que ter competência. Com relação a única associação dos treinadores de corrida de São Paulo, ela não tem fins lucrativos e a contribuição não é obrigatória.

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  8. Julia Lopes disse:

    Inútil, preconceituoso e perigoso este seu texto.

    Existem profissionais ruins em todas as áreas mas não se pode generalizar.

    Ficou feliz em saber que vc ache uma besteira frequentar médicos periodicamente, talvez assim vc morra mais rapido e nos poupe de ler as suas babaquices.

    Fico curiosa para saber se vc aprendeu tudo isso que escreveu lá na FEA ou se esta ignorância vem de berço.

    Parabéns babaca vc conseguiu os seus 5 minutos de fama.

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