Mais uns pitacos do mercado

Não sou de escrever textos longos… uma por questão de espaço e também porque blogs funcionam assim. Fora que é sempre muito construtivo ouvir o que vocês pensam!

Quando falava da Meia Maratona Internacional de São Paulo, acho que mais defendi a Yescom do que a ataquei. A prova foi muito longe de ser excelente tecnicamente, mas insisto: ela geralmente entrega aquilo que seu público principal busca.

O Luis Oliveira, por exemplo, diz que número de concluintes não é métrica de qualidade. Não consigo discordar! Mas ela ter crescido revela muitos méritos que respondem pelo evento de 2013. Não enchi o texto de números, mas ela cresceu acima da média do mercado no período 2011-2014. Não foi algo pontual.

E há apenas duas coisas que me irritam nas críticas à Yescom. Uma é a que quem corre, não teria discernimento ótimo pra poder escolher o que é melhor para elas. Cada um é livre a escolher aquilo que quiser num mercado cheio de opções. Você quer aparecer na TV? Quer pagar pouco? Quer correr fantasiado de Margarida? Vá fundo! Fico equivocadamente meio irritado vendo gente querendo ser o guardião dos “corredores” num papel autointitulado. Eu não vou fazer esse papel aqui. Nunca. Falar que os outros erraram é criar um “nós” e os “outros”, os descolados e os juvenis. Não aqui!

Um leitor (Fabio) pediu que eu entrasse a fundo na questão do aumento de preços. Eu adoraria!, mas infelizmente não temos esses números. Ninguém tem. Nem a internet cobre essa lacuna. Só assim pra comparar o passado e o presente e comparar com a inflação. Mas daí entra a explicação do Cassio Politi mais ponderada do que eu jamais poderia explicar:

Percepção de preço é muito pessoal. Depende do poder aquisitivo de cada um e, principalmente, do valor atribuído ao serviço entregue. Ou seja, é uma decisão pessoal e abstrata.

Politi está certo, quem vai definir o caro e o barato é quem vai pagar por ele, não quem não corre e sai dizendo que a Y é cara e a X é quem é justa. Tenho que me alinhar a ele ainda quando diz que “há imaturidade nos corredores no que diz respeito aos papéis na economia que circunda a corrida de rua no Brasil. O poder público, em especial Prefeitura e CET, cobram taxas exorbitantes dos organizadores. É impossível para a maioria das provas de médio porte sobreviver só com inscrições. Elas dependem do patrocinador para não ter prejuízo. E essas organizadoras não podem culpar publicamente os órgãos públicos porque correm o risco de não terem mais nenhuma autorização para provas futuras. Por isso, assumem caladas a culpa. Não que sejam vítimas! No entanto, achar que o aumento dos preços implica mais margem de lucro aos organizadores é um grande erro e desvia o foco”.

Por que alguns se irritam tanto com a escolha dos outros? Não entendo muito bem…

Quer_pagar_quanto

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24 pensamentos sobre “Mais uns pitacos do mercado

  1. Luis Oliveira disse:

    Balu, comentar de madrugada, antes do treino, trás o problema de não ser claro o suficiente ao tentar ser sintético. Mas vamos tentar.

    O mercado de cerveja é grande variado. Tem uma empresa que conseguiu, ao longo dos últimos 25 anos um grande sucesso de público. Suas marcas são as que tem mais “concluintes”. A possibilidade do que ela faz, uma água amarela carbonatada bem rala, poder ser chamado de cerveja, da mesma forma que o produto daquela cervejaria artesanal de Blumenau, é quase um absurdo. Mas assim é a vida e assim é o mercado.

    Isso não impede que existe um certo cânone da qualidade cervejeira. Alguém com tempo e paciência para dominar esse conjunto de conhecimentos pode ir pouco a pouco migrando seu consumo para um produto de qualidade melhor. Outros não, vão só consumir quantidades maiores da mesma água rala, encantados com a publicidade, atraídos pelo preço ou convencidos pela grande facilidade de encontrar a marca.

    Enfim, nem se discute que o cara que se fantasia de margarida pra aparecer no Fantástico é tão corredor de rua quanto o sujeito que se alinha na prova pensando em correr os 10k abaixo de 40′, mas isso não os torna equivalentes. Existe uma diferença não trivial, que não é a oposição entre bobocas vs. descolados, nem entre experientes vs. iniciantes. E quem nega a existência dessa diferença está sendo boboca, feio e tem cara de mamão.

    Vou correr, volto mais tarde. Forte abraço.

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    • Danilo Balu disse:

      Excelente analogia! Adorei!
      Não tenho como discordar! Mas tb não podemos esquecer que gosto é gosto… eu sou um privilegiado que posso beber qual refrigerante quiser (não bebo cerveja), fico com Coca Zero e não bebo refrigerante orgânico (umas 3x mais caro) porque não acho que valha, por exemplo. E tb as cervejas gourmet (ódio desse termo) custam MTO mais que as tradicionais pilsen. É a elasticidade… qto mais caro vale?? E tem quem aprendeu a beber cerveja ruim e morra bebendo cerveja ruim, não enxerga diferença. Daí cairemos num tema que adoro (testes cegos)…. sou mto seguro que somos incapazes de discernir com razoável confiabilidade cerveja, vinho, refrigerante e tênis se não soubermos a marca com antecedência.
      Abrax

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      • Rá ! Faz um bom tempo que eu só bebo “cerveja gourmet”. Eu bebo super pouco, uma garrafinha a cada 15 ou 20 dias. Mas outro dia estava com um amigo inventei de beber uma latinha de uma cerveja comum, e deu pra sentir a diferença na hora. Cerveja popular é muito ruim.

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  2. Concordando com tudo com o que li — inclusive o comentário posterior do Luis Oliveira –, talvez a insatisfação do público seja porque exista quase que um “tabelamento” de preço nas corridas. Quase todas cobram a mesma coisa, independentemente do que entreguem.

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  3. Marcel Pracidelle disse:

    Penso em oferta e procura e que os preços vão se auto regulamentando. Se a inscrição do ironman custa 600 dólares e se esgota em 15′ como eu posso dizer que está caro? está barato, coloquem a 1.000 e a organizadora (exceto a corpore) tem todo o direito de lucrar, não é filantropia, é comércio.

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  4. Walter White disse:

    Tem muita bravata nisso aí: é fácil falar que não vai pagar ou que tá caro quando, na verdade, não se tem mesmo dinheiro para gastar com aquilo.

    Concordo muito com “Percepção de preço é muito pessoal. Depende do poder aquisitivo de cada um e, principalmente, do valor atribuído ao serviço entregue. Ou seja, é uma decisão pessoal e abstrata”

    Mas gostaria de abordar um aspecto, uma percepção que eu tenho pela minha experiência de mais de 10 anos no comércio: de uma maneira geral, não só na corrida, nós consumimos muito mais do que precisamos. Eu me vejo atendendo gente que compra uma blusa com o desespero de quem está comprando um remédio para um filho doente!!! Quero dizer que o no mundo da corrida, o mercado cresceu muito, não só em qtdade de provas mas também nos apetrechos tecnológicos. Aqui no RJ temos às vezes até mais de uma prova por fds e as pessoas querem participar de todas!!! Nada contra, mas daí é importante entender que às vezes não é a corrida que está muito cara, somos nós que queremos abraçar o mundo – e isso vale inclusive para os mais afortunados!!!!!

    As pessoas economicamente favorecidas são ainda mais engraçadas pq elas não fazem uma corrida internacional e o resto do ano é bico seco, não! Elas fazem corridas internacionais, nacionais, pagam assessorias e, se vc perguntar se é caro uma corrida R$ 100, ela vai dizer que poderia ser mais barata! hahahaha

    A contra-relógio fez uma pesquisa se as pessoas aceitariam pagar metade da inscrição e não ter o kit: eu, claro, votei que sim!!!!! Lógico que prefiro pagar metade! Mas a enquete está lá que não me deixa mentir, sabe quem está ganhando? “De jeito algum! A camiseta e a medalha são as coisas mais importantes”…

    Pergunta a esses mesmos se não as inscrições estão caras e vc vai ouvir que SIM!!!

    Querem abraçar o mundo!!!!!!

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  5. Adriana Piza disse:

    Concordo que é óbvio que existe a diferença entre o corredor que se fantasia de margarida e o que pensa em baixar o tempo…..o que não concordo é que uma ou outra corrida só comporte um desses ou outro tipo qualquer específico. A meia da Yescom por exemplo, pode não ser das melhores em muitos quesitos, mas conheço muita, muita gente que foi e vai porque quer fazer um bom tempo, vai com esse objetivo. Isso não quer dizer que não pode ou não deveria ir porque é muito mais uma prova para “fantasiados”. Nunca corri essa prova, não porque não quis, mas sim por ser muito no início do ano…e porque odeio correr no calor, mas eu correria sem problemas. Agora número de concluintes pode não indicar qualidade, mas pode sim fazer a organizadora se acomodar e não mudar nada, como na SS, afinal, pra que mudar se tem público suficiente do jeito que está?

    Outro ponto “Por que alguns se irritam tanto com a escolha dos outros?” !!!!! Essa tô para descobrir….porque hoje quem corre, gosta de correr, mas não faz maratonas ou faz distâncias mais curtas em provas que ofereçam mais de uma distância, é visto como um fracassado. Quando digo que não corro maratona (e que prefiro distâncias curtas) muitas vezes vejo a cara de frustração …. e desprezo de quem pergunta (fora as críticas que tenho que ouvir)….e ainda acho que muita gente acaba fazendo o que não queria por causa dos outros, para fazer parte do grupo. Falta muito respeito em relação às escolhas de cada um!

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    • Walter White disse:

      As pessoas vivem cada vez mais para os outros do que para si mesma…

      Correr é correr e pronto. Eu não tenho restrições de provas, gosto das boas, das que cabem no meu bolso e daquelas que posso treinar sem sacrificar nenhum outro lado da minha vida…

      Esse pessoal da modinha…..

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  6. Bernardo Costa disse:

    Concordo com o Politi, com o Luis Oliveira e, por tabela, com o Zé Lúcio e com o Balu. O preço, quem faz é o mercado. Enquanto tem gente pagando pra correr por R$ 90,00 ou R$ 100,00 é indicativo de que a prova vale isso, independente se entrega mais ou menos. Se não valesse, não teria gente pagando. Aqui na Bahia encontram-se provas mais baratas organizadas pela Federação Baiana de Atletismo, mas que não têm a mesma estrutura de um Circuito das Estações por exemplo. Por outro lado, para os organizadores imagino que seja complicado. Eles têm um limite de faturamento que é (Valor da Inscrição x Número Máximo de participantes). Não sei quem estipula o número máximo de participantes, se a própria organizadora ou se os órgãos públicos. Todos os custos têm que caber dentro desse valor ou vão ter que partir pra captação de recursos de patrocínio. E, como o Balu já postou aqui no blog um texto do Erich Beting ( http://negociosdoesporte.blogosfera.uol.com.br/2014/02/28/a-copa-virou-muleta-para-a-falta-de-patrocinio/ ) sobre esse negócio de patrocínio, que não é uma coisa simples. As empresas patrocinadoras têm que identificar o retorno que terão ao patrocinar determinada prova, caridade é que não vão desembolsar o cascalho. No meu, escolho poucas provas no ano e me concentro nos treinos porque o que eu gosto mesmo é de correr, com ou sem medalha.

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  7. Fábio disse:

    Danilo Balu, eu ia postar um texto no outro tópico que você escreveu só que estava dando erro e com a correria do trabalho eu esqueci de postar… vou tirar um trecho (PORQUE ERA BEM GRANDE rsrs) que tem a ver com a matéria acima……Impressionante como é bem parecido com que você escreveu acima….
    Segue abaixo:
    Concordo com você sobre organização e preço….. Tem provas com preços baixos e de excelente qualidade…… Só friso o seguinte: pior o preço alto (NA MINHA OPINIÃO) é a organização ser pífia ( você mesmo de certa forma citou que as provas da yescom são uma “M”…. rsrs – “acho que o problema não é nem com o “povão”, é que quem corre Yescom não seria corredor experiente, ou não saberia tomar uma decisão boa” – Concordo!)……..Gold Four/Rio – eu fiz em 2012 – achei uma prova excelente (não vi um erro na prova) apesar de achar que o preço não é justo e não faço mais essa é minha opinião (MESMA COMPARAÇÃO COM SEU GUARANÁ, VOCÊ ACHA BOM MAS NA PAGA POR ACHAR CARO) também entendo as outras opiniões e respeito quem acha justo que faça e pague…. Corrida para mim é mais que uma prova é sim uma filosofia de vida…..

    Obs: Eu acho que as organizadoras já entram lucrando só com os números dos inscritos, pois comparando com os preços que a CET cobra ( tem no site da cet os preços) e vc fazer um calculo rápido com os números de inscritos x preços da corrida x pagamentos de staff cheguei essa conclusão ( fora os patrocínios )….. Mas como você diz, “é só um chute…….”
    Abraços!

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    • Não vi os números mas acho que as taxas cobradas pelo Poder Público tem um papel importante nos preços sim. Moro em Nova Friburgo, região serrana do Rio, e as provas lá são MUITO mais baratas do que as da capital. Mesmo considerando que a estrutura é mais simples não justifica a diferença absurda de preço.

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  8. Fábio disse:

    “sou mto seguro que somos incapazes de discernir com razoável confiabilidade cerveja, vinho, refrigerante e tênis se não soubermos a marca com antecedência.” – Também concordo com você rsrs…..

    Fugindo um pouco o tema, já que o assunto caiu na danada da gelada/ na loira rsrs rsrs…. Tenho um amigo metido a bam bam bam conhecedor de cervejas chato pra cacete, falando do malte, lúpolo, se é encorpada, etc , etc ……… Um belo dia em uma reunião entre amigos resolvemos testar seu conhecimento…… pegamos meia dúzia de garrafas de uma das melhores cerveja importada (comprada por esse amigo) e meia dúzia de uma cerveja lixo nacional. bebemos a importada ( é claro) e guardamos a garrafa e as tampinhas.. Depois pegamos a nacional lixo ( bem lixo mesmo) e colocamos na garrafa da importada (isso tudo filmado, para não haver dúvidas rsrs) e separamos essas cervejas “especial” para o amigo conhecedor ele bebeu bonito e ainda exaltava “isso que é cerveja e coisa e tal”. No final blindamos falando que era uma cerveja nacional em uma garrafa de uma importada ele não acreditou e mostramos o vídeo……. O Filha da mãe veio com a desculpa que é calor o Rio de Janeiro fez ele não perceber o gosto e se tivesse na Bélgica ele reconheceria a falsificação rssrs ( até que se saiu bem rsrs)……..
    Abraços!

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  9. Pra ter uma leve noção das despesas de uma prova, só a parte médica da meia da Corpore terá a estrutura abaixo (que peguei no site da prova). alguns dirão: Ora, mas são todos voluntários. Nem todos, pois duvido que hajam ambulâncias e médicos voluntários, e ainda tem o custo do aluguel dos equipamentos…´.. lá vai:

    014-Meia Maratona SP-Equipe Médica

    Equipe Médica Corpore

    A Equipe Médica da Corpore Brasil sempre preocupada com o bem estar de seus corredores (as) disponibiliza uma estrutura médica completa para apoio e cuidado com os atletas durante todo o evento.
    Conheça um pouco mais sobre cada atividade:

    1 – Médicos
    Distribuídos nas UTIs, Tendas de Percurso, funil de chegada e Tenda de Chegada, atenderão aos casos e avaliarão a necessidade de liberar o corredor ou encaminhá-lo para o hospital. Os casos encaminhados deverão sempre ser discutidos com a Coordenadora da Tenda Médica ou com Diretor Médico da Prova.

    2 – Equipe Care 4 You – Chegada (Finishing Line):
    Constituída por professores de Educação Física posicionados no funil de Chegada. Eles fazem a identificação de corredores que estejam passando mal, encaminhando-os para a Tenda Médica.

    3 – Care 4 You – Internos:
    Constituída por internos de Medicina que fazem as anotações dos corredores atendidos na Tenda Médica. Eles auxiliam os médicos nos curativos, imobilizações e em vários outros procedimentos supervisionados pelos médicos.

    4 – Care 4 You – Lookouts:
    Constituída por professores de Educação Física e internos de Medicina que atuam como monitores vigilantes no percurso. Percorrem todo o trajeto de bicicleta, cada um cobrindo determinado trecho, dando suporte aos corredores em dificuldade. Estão equipados com Desfibriladores Externos Automáticos (DEAs) e todos passaram por treinamento em BLS (Basic Life Support).

    5 – Survey-Runners:
    Grupo constituído por corredores voluntários que correm a prova em ritmo pré-determinado, observando a dinâmica dos corredores. Eles acionam o pedido de atendimento assim que detectam uma irregularidade em algum corredor.

    6 – Equipe de Fisioterapia
    Distribuídos na Tenda de Fisioterapia de Percurso e Chegada, atenderão os casos de câimbras ou cansaço muscular que necessitem de massoterapia, casos graves deverão ser encaminhados a equipe médica.

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  10. Mariluci Savazoni disse:

    Excelente texto Balu e melhor ainda os comentários. Concordo totalmente, SEMPRE, que provas de rua são comerciais. Quanto è Yescom, corro há pouco tempo e desta organizadora, fiz só duas vezes a Meia de São Paulo. Nas duas vezes, achei ótimo. Percurso difícil (já tinha conhecimento do percurso pelo site), calor (em fevereiro, não tem como ser diferente), hidratação ok, gatorade ok, medalhas, ok, banana, maça e torrone no final, ok. Quer dizer, na minha (modesta) opinião, tudo certo. Entregou o que prometeu, Ponto final. Não quer, acha caro, não vai, não “compra”. Mas tá cheio de gente que vai só para enumerar os defeitos e criticar depois.

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